a little death {lwt+hes}

.XVI.

"I really saw an angel."

- Only Angel by Harry Styles

Os olhos azuis cintilantes observaram a pasta de dente descer em forma de espuma, junto com a água corrente, pelo ralo da pia de mármore como se fosse seu passatempo preferido, não se incomodando com os ponteiros girando no seu Rolex e sua cabeça emitindo os sons de tic tac no lugar do objeto moderno tediosamente silencioso. Ele fechou a torneira em uma lentidão agonizante, ainda se recusando a levantar a cabeça e dar de cara com o espelho.

— Lou, se não sairmos nesse exato momento nós vamos nos atrasar.- Harry avisou sem adentrar o banheiro. Sua voz estava mansa como uma canção de ninar e ecoava pelos azulejos caros e rústicos, Louis queria recostar-se no peito dele e adormecer como um bebê manhoso.— E espero que saiba que de carro é mais barato, se formos voando eu meto a mão no seu bolso, querido.- brincou totalmente descontraído. Ele estava tentando, Louis sabe disso.

O menor respira fundo e se concentra na textura gélida do mármore sob a palma de suas mãos suadas pelo nervosismo antes de, finalmente, ajeitar sua postura e erguer a cabeça. E ali estava o que não desejava ver: seu reflexo nu e cru, revelando olheiras, lábios secos e sorriso falso, completamente forçado. Há uma selva dentro do seu estômago, onde está o móbile musical e um copo de whisky quando se precisa deles?

Ele encontra Harry encostado no batente da porta trajando um terno rosa brilhoso e uma blusa branca transparente com um enorme laço branco, ele carrega um sorriso que se desmancha ao notar a expressão corporal agitada e nervosa de Louis; Ainda assim, Louis o acha estonteante e ele certamente tiraria o seu fôlego se, no momento, restasse algum preso em seus pulmões sujos pela quantidade de cigarros que fumou só naquele dia.

— Você está bem?

A pergunta foi simples que carece de uma resposta mais simples ainda de "sim" e "não", porém nunca é tão fácil assim. É claro, ele pode dizer que está tudo bem, mas isso seria uma mentira e ele não quer mentir para Harry, e ele pode falar a verdade, no entanto ele não quer começar a chorar de nervoso e pesar o clima enquanto só deseja uma única pílula de seu remédio para ansiedade.

Então, se sentindo como um bebê chorão que foge de seus problemas, ele decide seguir a terceira opção: desviar o assunto.

— Estou apresentável?- pergunta dando uma volta ao redor do próprio eixo, estampando algo ensaiado em seu rosto que em sua cabeça deveria representar a alegria.

As solas dos sapatos caros de Styles batem suavemente contra o piso quando ele caminha até Louis e se posiciona bem a sua frente, levando as mãos até a gravata azul escura embolada– propositalmente a mesma tonalidade do terno.

— Você sempre está bonito, angelus.- diz baixo, mas ao mesmo tempo alto o suficiente para que Louis o escutasse perfeitamente. Os dedos enfeitados por anéis dos mais variados modelos afrouxam delicadamente a gravata somente para poder ajeitar o tecido contra a camisa de botões branca e, logo em seguida, a aperta de novo.— Encantador.- um meio sorriso de lábios pintados por gloss é o suficiente para acalmar o coração metaforicamente descompassado de Louis. Suas respirações se misturam e ele tem o vislumbre de mentolado e canela no hálito do maior, quase o convidado a provar e descobrir qual sabor de gloss Harry escolheu para aquela noite. Ele deseja estar cheirando tão bem quanto Styles, que o cheiro de nicotina não esteja nem mesmo como rastros em seu corpo. Harry, cedo demais, afasta suas mãos, o nó na gravata está incrivelmente perfeito.— Ei, se você não quiser nós não precisamos ir, ok? Sei que após aquelas fotos o seu pai provavelmente deve me odiar, mas eu invento uma desculpa convincente, apareço lá e informo que você pegou catapora ou qualquer doença humana que vocês vivem tendo.- Harry hesita.— Se você não estiver bem pra ir, não se force.