.II.

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"I was naive and hopeful and lost. Now i'm aware and trapped in my thoughts."

- R.I.P 2 My Youth by The Neighbourhood.

Os últimos acordes de the hills ainda ecoavam ao fundo, reverberando pelas paredes vermelhas do longo corredor que parecia não ter fim. Louis tinha sua visão turva e sentidos completamente confusos, mal conseguia raciocinar direito, seus pés por pouco sustentavam corretamente o peso de seu corpo enquanto cambaleava pelo chão de terra. Devido suas faculdades mentais limitadas naquele momento, se perguntava constantemente se tudo não era fruto de sua imaginação porque talvez o acidente tivesse sido realmente feio e agora ele estava apenas desacordado no banco de seu carro com destroços grudados por seu corpo. Contudo, se era dessa forma, então por qual razão ele se sentia vazio e vulnerável? E ainda mais, por que seu dedo estaria sangrando e ardendo como o inferno após tocar em um dos espinhos das paredes?

Uma gotícula de suor escorreu por seu rosto. Oh sim, havia o calor insuportável também. Era como se estivesse dentro de um forno como um pão de padaria pronto para ser assado. Nem mesmo quando viajava com destino a praia o sol conseguia aquecer tanto o seu corpo, e a melhor– sintam a ironia– parte é que o céu estava tão cinza quanto o giz de cera que suas irmãs pequenas tinham e geralmente deixavam de lado por preferirem desenhos coloridos.  Então, Louis se questionava, por que raios está tão quente?

Soltou um suspiro cansado, seus ossos doendo como nunca antes e sua blusa suada grudando em sua pele o deixando ainda mais incomodado.

Era perceptível que as sensações eram reais o suficiente para fazerem parte de um mero sonho. Mancou até uma uma porta qualquer que, para o bem de sua pele, não apresentava espinhos. A mão de Louis travou na maçaneta ao escutar uma voz tão dolorosamente familiar.

Anna.

Considerou que estava enlouquecendo, que a pancada em sua cabeça havia sido tão forte que agora estava ouvindo vozes que se originavam em sua cabeça e existiam somente ali, mas o sussurro de seu nome se tornou mais alto e repetitivo, quase próximo a si. Talvez não fosse loucura afinal e a única explicação plausível para toda a situação seria que ele tinha morrido e aquele lugar era, a julgar às condições em que se encontrava, o inferno; e o fogo metafórico estava pronto para queimar a bunda de Louis.

Entretanto, no fundo, estava tudo bem para ele estar no avernal do que no paraíso, Louis nunca achou que de fato iria conseguir atravessar os famosos portões de ouro do céu. Ele apenas precisava de tempo para assimilar tudo e também, para descobrir qual pecado teria o condenado a danação eterna. Não que tivesse cometido muitos, ao menos não com consciência de que era algo realmente ruim a nível de julgamentos decisivos após a morte.

Antes que pudesse tomar qualquer decisão coerente a respeito de sua possível descoberta e dos chamados de Anna, seus dedos deixaram rapidamente a maçaneta ao que a porta foi aberta por um homem quase da sua altura, pele preta e olhos castanhos claros– que olhando atentamente, pareciam extremamente vazios–. Um sorriso iluminou o rosto do outro, ainda que houvesse uma certa soberba por trás de sua beleza.

— Oh, vejo que é novo aqui.- o homem cruzou os braços, a voz forte e livre de sotaques fez Louis vergonhosamente se encolher.— Não seja tímido, eles amam carne nova.- ok, aquilo era inveja em seu tom?

Tomlinson quis rir. E ele o faria se tivesse forças para tal.

Porque, por favor, ele se encontrava em um estado deplorável, suado como se tivesse saído de uma sauna e perdido como se um taco de basebol tivesse acertado a sua cabeça. Não tinha absolutamente nada de extraordinário em si que, nessas condições, pudesse despertar uma mera inveja em qualquer ser, ainda mais em um homem tão lindo como aquele que estava parado a sua frente.

a little death {lwt+hes}Onde histórias criam vida. Descubra agora