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"Only my mother could love me for me in my dark times."

- Dark Times by The Weeknd.

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Calmaria
substantivo feminino
3.
FIGURADO (SENTIDO)•
serenidade de espírito, de ânimo; calma, tranquilidade.

Calmo. Era exatamente assim que Louis se sentia deitado em meio ao campo de girassóis, a água do riacho encaixando perfeitamente em seu cenário de paz. O vento soprou as pétalas do dente de leão entre seus dedos e ele sorriu encantado com tudo o que a natureza fazia.

Um pouco cedo demais, um barulho alto o despertou de seu estado resiliente. Louis olhou na direção da estrada avistando um carro parado em ponto morto. Sabendo que conhecia aquele modelo de algum lugar– mesmo que a sua mente não soubesse lhe dizer da onde– tratou de se levantar. De repente, o vento pareceu parar, tornando o ar denso e sufocante. Um calor subiu por sua espinha e irradiou por cada célula de seu corpo, nem mesmo o chão de terra úmido contra seus pés conseguia abaixar a sua temperatura corporal. Algo estava muito errado.

Caminhou, com cautela temendo machucar as flores, até tocar a maçaneta do carro– o metal frio na ponta de seus dedos ao agarrar e puxar para abrir. Então os girassóis morreram, seu coração se quebrou entre seus dedos e uma lágrima solitária escapou anunciando o início do caos que se formou dentro de si ao ver quem estava ali.

Parecia que seus olhos não se encontravam há uma eternidade.

Seu subconsciente dizia para não entrar no carro, mas seu corpo não o obedeceu, quando se deu conta estava sentado no banco do carona. Ela o abraçou forte, se afastando um pouco apenas para sussurrar em seu ouvido. Com aquelas palavras certeiras no que restou do coração esfarelado de Louis, ele soube que não se tratava de um abraço genuíno.

— Não.- se ouviu dizer com a visão turva. Ela sorriu triste e assentiu com a cabeça.— Não. Eu-

"Louis!"

O chamado estranhamente não saiu de nenhum dos dois, na verdade parecia ter vindo de todos os cantos.

— Não de ouvidos, você sabe o que fez.

Droga, ele estava tão confuso.

— Mas eu-

"Louis!"

Seus olhos se abriram em uma rapidez surreal, as pupilas dilatadas tomando conta da imensidão azul repleta de pequenos pigmentos amarelo e verde. Eram únicos, belos e totalmente desesperados.

Arfou em busca de ar enquanto agarrava com força os lençóis da cama. Concentrou-se em sentir a textura ao tocar tudo o que estava ao seu alcance, praticando o exercício para controlar a ansiedade que corria por suas veias.

E caramba, não era nem três da manhã.

Quase todas as vezes em que Louis adormece os seus sonhos bons são roubados e substituídos por aquele pesadelo que, de início, disfarça seu desfecho com o cheiro agradável das flores. Ele se lembra exatamente quando começou e sua memória se torna ainda mais viva ao pensar em como passou mal nos primeiros meses. Suas noites sem dormir se tornaram mais frequentes do que ele dizia nas sessões de terapia que sua mãe tinha feito questão de  pagar ao notar que a versão adolescente festeiro de Louis não levantava mais da cama a não ser que fosse muito necessário.

a little death {lwt+hes}Onde histórias criam vida. Descubra agora