Cap 03

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- FELIZ ANIVERSÁRIO, STELLA! Ou eu deveria dizer feliz aniversário
atrasado?

Meu pai deu um risinho nervoso. A boca de Stella se escancarou com o
choque, à vista de seu irmão mais velho de pé na soleira da porta. Aquele era um acontecimento raro; na verdade, era a primeira vez. Ela abria e fechava a boca como um peixe, sem saber absolutamente o que dizer.

- Comprei para você uma mini-orquídea -disse ele,estendendo-lhe uma planta num vaso. - Elas foram cortadas novas, brotaram e estão prontas para florescer.

Aquilo soava como um anúncio. Stella ficou ainda mais impressionada
quando ele tocou os diminutos botões cor-de-rosa.

- Puxa vida, Pai, orquídeas são as minhas favoritas!

- Bem, de qualquer forma você tem um grande e bonito jardim aqui; bonito
e... - ele limpou a garganta - verde. Crescido demais, talvez...

- Você gostaria de entrar ou está só de passagem? - ”Por favor diga não,
por favor diga não.” Apesar do atencioso presente, Stella não estava nada propensa à companhia de seu pai.

-Sim, vou entrar por um instante.

Ele limpou os pés à porta durante uns bons dois minutos antes de entrar em
casa. Stella conduziu-o à sala de estar e colocou o vaso de cerâmica provisoriamente em cima da TV.

- Não, não, Stella - disse ele, sacudindo o dedo na direção dela, como se
ela fosse uma criança desobediente. - Você não deve colocá-la aí. Ela precisa
ficar num local fresco, longe do frio e do sol forte e de correntes de ar quente.

-Oh, claro. -Stella pegou de volta o vaso e procurou em pânico, ao redor do aposento, um local apropriado.

O que ele havia dito? Um lugar longe do frio e aquecido? Por que ele sempre conseguia fazê-la se sentir como uma
garotinha incompetente?

- O que acha daquela mesa pequena no centro? Ela ficaria segura ali.

Stella obedeceu e colocou o vaso sobre a mesa, quase esperando que ele dissesse ”boa menina”. O que ele felizmente não fez. Meu pai assumiu sua posição favorita ao lado da lareira e inspecionou o aposento.

- Sua casa é muito limpa - comentou.

- Obrigada, eu simplesmente, eh... a limpo. -Ele assentiu como se já
soubesse.

-Você quer um chá ou um café? - perguntou ela, esperando que ele
dissesse não.

- Sim, ótimo - disse ele, aplaudindo. - Chá seria excelente. Só com leite,
sem açúcar.

Stella voltou da cozinha com duas canecas de chá e depositou-as sóbre a
mesa de centro. Torcia para que o vapor que se elevava das canecas não
assassinasse a pobre planta.

- Você só precisa molhá-la regularmente e alimentá-la durante os meses da
primavera. - Ele ainda estava falando da planta. Stella assentiu, sabendo muito bem que não faria nada daquilo.

-Você trabalha muito em seu jardim? - Stella estava ansiosa para manter a
conversa fluindo; com a casa muito quieta, qualquer silêncio era amplificado.

- Oh sim, adoro trabalhar no jardim. - Os olhos dele se iluminaram.

- Os sábados são meus dias de jardim - disse ele, sorrindo para sua caneca
de chá.

Para Stella, era como se um completo estranho estivesse sentado ao seu
lado.

-Então - anunciou ela, alto demais no aposento ecoante -, alguma coisa
estranha ou assustadora? Como o porquê de você estar aqui?

Até Nosso Último Momento Onde histórias criam vida. Descubra agora