Cap 11

2 1 0
                                    

Kate tocou o nariz de Stella e sorriu consigo mesma quando ela enrugou o nariz no sono. Adorava observá-la enquanto dormia; tão linda e tão tranquila.

Ela fez cócegas em seu nariz outra vez e sorriu quando os olhos dela se
abriram devagar.

- Bom dia, dorminhoca. -Ela sorriu para ela.

- Bom dia... — Ela aconchegou-se mais perto dela e descansou a
cabeça em seu peito. - Como está se sentindo hoje?

-Como se pudesse correr a maratona de Londres - brincou ela.

- Isto é o que chamo de uma recuperação rápida - sorriu ela, erguendo a cabeça e beijando-a nos lábios. - O que quer para o café da manhã?

- Você — disse ela, mordiscando o nariz dela. Stella deu uma risadinha.

- Infelizmente, hoje não estou no cardápio. Que tal uma Panqueca?

- Não - ela ergueu as sobrancelhas. - É muito pesado para mim.

Seu coração derreteu-se quando viu o rosto de Stella perder a vivacidade. Tentou mostrar-se animada.

- Mas eu adoraria uma grande, enorme taça de sorvete de baunilha!

- Sorvete! — riu ela. — No café da manhã?

-Certo. — Ela forçou um sorriso. — Eu sempre quis isto no café da
manhã quando criança, mas minha querida mãe nunca deixou. Mas agora não me importo mais. - Ela sorriu corajosamente.

- Então é sorvete o que você vai ter - disse Stella alegremente, pulando
para fora da cama.

Ultimamente havia notado que ela corria sempre que saía de perto dela,
como se temesse deixá-la muito tempo sozinha, e ela sabia o que aquilo
significava. Más notícias para ela. Havia terminado a radioterapia, que elas
rezaram para que alcançasse o tumor residual. O tratamento havia falhado,
agora tudo que ela podia fazer era ficar ali deitada o dia inteiro, já que se sentia fraca demais para se levantar na maior parte do tempo. Aquilo lhe parecia tão
sem sentido, porque não era nem mesmo como se estivesse esperando se
recuperar.

Seu coração batia loucamente diante daquele pensamento. Estava com
medo; com medo do lugar para onde estava indo, com medo do que estava
acontecendo com ela e com medo por Stella. Ela era a única pessoa que sabia
exatamente o que dizer para acalmála e aliviar sua dor. Ela era tão forte; ela era sua proteção e não conseguia imaginar sua vida sem ela. Mas não precisava se
preocupar com aquele quadro hipotético, porque era ela que ficaria sem ela.

Sentia-se furiosa, triste, enciumada e amedrontada por ela. Queria permanecer ao lado dela e realizar todos os desejos e promessas que haviam feito uma para a outra e estava lutando por esse direito. Mas sabia que estava lutando uma batalha perdida. Depois de duas operações, o tumor havia voltado, e crescia rapidamente
dentro dela. Queria entrar em sua cabeça e arrancar a doença que estava
destruindo sua vida, mas essa era apenas mais uma das coisas sobre as quais não tinha controle.

Ela e Stella haviam se tornado ainda mais próximas nos últimos meses, o
que sabia que era ruim para o bem-estar de Stella, mas não podia suportar a ideia de distanciar-se dela. Apreciava as conversas que mantinham até as primeiras horas da manhã e pegavam-se rindo à toa exatamente como quando eram adolescentes. Mas isso era só em seus bons dias.

Também tinham dias ruins.

Não pensaria naquilo agora; seu terapeuta vivia lhe dizendo para ”dar a seu corpo um ambiente positivo".

Ouviu Stella subindo pesadamente os degraus e sorriu; seu plano estava
funcionando.

- Não temos mais sorvete - disse ela triste. — Há algo mais de que
gostaria?

- Não - ela balançou a cabeça. - Somente sorvete, por favor.

- Mas vou ter que ir à loja comprá-lo - queixou-se ela.

-Não se preocupe, querida, vou ficar bem por alguns minutos - assegurou
ela.

Ela olhou para ela insegura.

- Eu realmente preferia ficar, não há mais ninguém aqui.

- Não seja boba — sorriu ela, e ergueu seu celular da mesinha de cabeceira e o colocou sobre o peito. - Se houver qualquer problema, que não vai
haver, ligo para você.

- Certo. - Stella mordeu o lábio. - Vou estar a cinco minutos de distância.
Tem certeza de que vai ficar bem?

- Positivo - sorriu ela.

-OK, então. - Ela retirou o roupão devagar e vestiu apressadamente um
moletom e ela percebeu que Stella ainda não estava feliz com aquele arranjo.

- Stella, vou ficar bem - disse ela com firmeza.

- OK. - Ela deu-lhe um longo beijo e ela a ouviu disparar escada abaixo, correr para o carro e afastar-se a toda pela estrada.

Assim que soube que estava segura, Kate afastou as cobertas e desceu da
cama devagar. Sentou-se na beirada do colchão por um instante, esperando que a tonteira passasse, então lentamente encaminhou-se ao armário. Retirou uma velha caixa de sapato da prateleira mais alta. Pegou o décimo envelope vazio e escreveu com caligrafia elegante ”Dezembro” na parte da frente. Estavam em primeiro de dezembro e ela avançou um ano a partir daquela data, sabendo que não estaria mais ali.

Imaginou Stella como um gênio do karaokê, livre de contusões como resultado de seu abajur de cabeceira e esperançosamente feliz em seu novo emprego, que adorava. Imaginou-a nesse mesmo dia, dali a um ano, possivelmente sentada sobre a cama, exatamente onde ela estava agora, lendo o último item da lista, e pensou
longa e arduamente no que escrever. Lágrimas enchiam seus olhos quando
colocou o ponto final ao lado da última frase; beijou a carta, colocou-a no
envelope e o escondeu outra vez na caixa de sapato.

Enviaria os envelopes para a
casa dos pais de Stella, onde sabia que o pacote estaria em segurança até que ela estivesse preparada para abri-lo.

Enxugou as lágrimas e voltou para a cama devagar, onde o telefone tocava sobre o colchão.

- Alô? - disse, tentando controlar a voz e sorriu quando ouviu a voz mais
doce do mundo do outro lado da linha. —Também amo você, Stella...

Até Nosso Último Momento Onde histórias criam vida. Descubra agora