A Decadência - Capítulo Um - 2081

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-Mais 5 minutos e então vocês saem. – Disse uma voz robótica através do comunicador.

-Positivo. – Respondeu Oswald que andava através dos corredores escuros e fedorentos do esgoto. – Vamos. Precisamos avançar mais um pouco antes de sairmos. Temos que ter certeza que estamos fora do raio de procura deles.

A voz de Oswald soava autoritária e cansada. Ele vestia um uniforme, da cor do céu noturno, que se assemelhava a uma farda militar. Usava uma gandola que sobrepunha um colete balístico e possuía um grande "O" vermelho na região do peito esquerdo. Vestia ainda, calças presas por um cinto de utilidades, coturno nos pés e, sobre os ombros, um sobretudo preto, que possuía um grande "O" vermelho, tal qual a gandola, na região das costas. Ele carregava uma sacola, que em algum momento poderia ter sido bege, mas que agora possuía uma coloração vermelha escura e, vez ou outra, respingava sangue.

Os cabelos do rapaz eram uma mistura de preto com grisalho, principalmente na parte das laterais, e estava assanhado no momento. Seu rosto apresentava diversas linhas de expressão e uma expressão cansada. Ele devia ter em torno de seus quarenta e poucos anos. Ele possuía um cavanhaque, que assim como seu cabelo, era uma mistura de grisalho com preto e sua pele era bronzeada, revelando que o mesmo passava bastante tempo embaixo do sol. Atrás do rapaz, duas pessoas o acompanhavam. Eram Elizabeth e Brandon.

A garota aparentava ter pouco mais de trinta anos. Seus cabelos estavam presos em um coque bem trabalhado para que não viesse a soltar facilmente e eram de um castanho escuro. Sua pele negra brilhava com o suor que escorria de seus poros, conforme era iluminada pela pouca luz que adentrava os esgotos. Seu rosto era bem cuidado e quase não possuía linhas de expressão. Ela era um pouco mais baixa do que Oswald e tinha 1,75 de altura. Seus músculos se destacavam através da vestimenta, que diferente da de Oswald, era feita quase que completamente de couro sintético (visto que, segundo ela, era sintético para que nenhum animal sofresse apenas para que pudesse se vestir bem). A vestimenta foi adaptada para que ela pudesse se mover livremente, sem as restrições de uma roupa de couro comum. Suas roupas eram da mesma cor que as de Oswald, e era constituída por: uma camiseta com um enorme L estampado e sobre a base do L, uma caveira com um "X" rosa no lugar onde seriam os olhos; uma calça justa; coturnos que iam até metade da panturrilha; e uma pequena jaqueta, que possuía o mesmo "O" nas costas que o sobretudo de Oswald.

Brandon era o brutamonte do trio. Possuía mais de dois metros, era corpulento e mesmo não tendo seus músculos aparente, graças à gordura que os revestia, exalava uma força sobre-humana. Sua pele era branca, sua cabeça era careca e possuía uma barba ruiva e espessa. Ele usava um sobretudo tamanho especial idêntico ao de Oswald, não usava camisa por baixo, deixando seu peitoral e abdômen à mostra, usava uma calça da mesma cor que os outros dois e tinha os pés descalços. Apesar de sua aparência ser a mais intimidadora, ele era o mais bem humorado do grupo. Passou-se pouco mais de dois minutos de silêncio desde a última fala de Oswald, então Brandon decidiu cantarolar alguma coisa para quebrar a tensão que se instalara nos corredores escuros do esgoto.

-Apesar de tudo – começou Elizabeth – você até que canta bem, grandão.

-Eu fiz aula de canto quando era mais novo. – Percebia-se orgulho em sua voz e isso fez com que a garota desse uma risada baixa e curta.

-Nunca iria imaginar uma coisa dessas vindo de você. Eu poderia imaginar isso vindo do Osw... – Ela sentiu o olhar assassino lançado pelo outro, que andava mais a frente e continuou através de sussurros. – do Oswald.

Oswald então parou abruptamente de andar e virou-se para os outros dois. Elizabeth olhou para o rapaz, acreditando ter ofendido o mesmo através de seu ultimo comentário e recuou dois passos, até que este começou a falar.

-Passou-se cinco minutos desde a ultima comunicação. Podemos sair. – A garota suspirou aliviada.

-Graças a Deus iremos sair desse fedor. Não aguentava mais. Além de que os pés do Brandon já devem estar cheios de bactéria de cocô. – disse apontando para os grandes pés do colega. – É assim que as pessoas pegam doença e morrem!

-Você sabe que o Brandon não fica... – Oswald parou o comentário ao perceber que Elizabeth não estava falando sério. – De qualquer forma, fiquem atentos ao sair. Em qualquer sinal da intervenção de um deles, iremos nos separar e nos encontrar na base de operações. Entendido?

Ambos concordaram com a cabeça e isso foi o suficiente para que Oswald se dirigisse a uma escada próxima. Ele entregou a sacola a Brandon e começou a subir, abrindo a tampa do bueiro que dava em uma avenida deserta. Ele se certificou que realmente não havia ninguém, e só então pôs seu corpo para fora, olhando para baixo e fazendo um sinal para que o rapaz jogasse o pacote para ele. O grandão assim o fez. Elizabeth foi a segunda a sair do esgoto e o terceiro foi Brandon, que teve dificuldade para cumprir a tarefa, mas por fim o fez. Eles começaram a caminhar em direção a um carro estacionado ali próximo e, assim que chegaram, a garota foi para o volante, o grandão foi para o banco de trás e Oswald para o do passageiro. Tudo ficou frio. Oswald, que se preparava para abrir a porta do carro, trocou olhares com Elizabeth, que também havia sentido a diferença repentina na temperatura e fez um sinal de positivo com a cabeça. A heroína intitulada de Tempestade Gélida estava por perto, talvez já tivesse visto eles e esperava por reforços. De qualquer forma, isso era um problema.

-Eu cuido disso. – Disparou Oswald, que jogou o pacote no banco do passageiro e fechou a porta do carro. – Vão na frente. Caso surjam mais deles, o Brandon protege e você continua. Nossa prioridade é a entrega.

-Entendido. – Disseram em coro.

Ambos entraram no carro, Elizabeth deu a partida e eles saíram em disparado, rumo à base de operações onde seria feita a entrega. Enquanto isso Oswald cerrou os punhos e esperou. Ele sabia que ela estava ali, pronta para atacar. A atmosfera exalava cada vez mais um perigo iminente à medida que a temperatura ficava cada vez mais fria.

-Você sabe que é burrice não ir atrás deles, não sabe? – Disse Oswald por fim. Houve uma pequena agitação na brisa noturna que logo voltou à normalidade. – Seu objetivo é me matar? Você sabe que nem mesmo ele foi capaz de me matar.

-Ele não merecia o título que tinha. – Uma voz rouca e que ressoava no ar falou por fim. Era impossível dizer de onde a voz vinha, já que parecia vim de todos os lados. – Tudo que ele conquistou foi através do dinheiro e das falácias que inventaram sobre ele. Criaram um personagem sobre ele mais poderoso do que ele pôde sustentar.

Oswald riu da afirmação que a heroína havia acabado de fazer, afinal todos os heróis não eram assim? Muita fama, muito medo, muito rumor, mas no fim das contas, pouco poder.

-Eu, entretanto... – Continuou. Sua voz parecia mais próxima agora. – não preciso que inventem histórias sobre mim. Cada coisa que você já ouviu falar sobre a minha pessoa...

-A exemplo dos massacres? – Interrompeu. – Eu não sei com quem você pensa que está falando, mas eu não tenho medo de você. Tudo que você fez, eu fiz cinco vezes pior... quer dizer, pelo menos segundo a mídia. – Uma gargalhada seca tomou conta da atmosfera.

-Hoje é o seu fim, Assassino de Heróis.

Oswald percebeu um movimento lento na escuridão do beco que ficava do outro lado da avenida. Poucos segundo se passaram e a Tempestade Gélida finalmente deu às caras. Sua pele possuía um tom azulado e seus lábios eram roxos, como se tivesse passado muito tempo dentro de um freezer. Os olhos da heroína brilhavam com um azul assassino e seus cabelos eram brancos azulados. Seu uniforme seguia em uma mistura de branco com azul celeste e em seu peito direito, havia uma marca que indicava que este era um servidor da segurança nacional, um super-herói.

-Espero que você tenha se despedido dos seus amigos, Assassino, pois você não os verá outra vez. – Disse ela com um sorriso malicioso no rosto.

-Matar dois heróis em uma noite? – Oswald gargalhou como se tivesse acabado de ganhar o melhor dos presentes em uma noite de Natal e continuou: – Espero que isso não seja um sonho, pois está bom demais para ser verdade!

A Ascenção - Uma Heroica História de VilõesOnde histórias criam vida. Descubra agora