CAPÍTULO 3

1.5K 181 6
                                    

Victoria terminou de se vestir no banheiro minúsculo da oficina e rezou para estar bonita. Só lhe restava rezar, uma vez que o banheiro não tinha espelho. Respirou fundo sabendo que teria de aguentar a zoação dos irmãos quando saísse dali. Mas ela não iria àquele jantar com o dono de uma das maiores e melhores oficinas  do estado vestida de qualquer jeito. Embora estivesse de jeans, era um de marca, escuro e de cintura alta, como mandava a moda. A camisa de seda e os saltos altos a deixavam chique, mas de uma forma casual.
Assim que passou pela porta do banheiro, os assobios começaram.
"Ei, Vicky, o papai sabe aonde você está indo?" Ted falou parando a frente dela de braços cruzados.
" Claro que sabe, agora sai da minha frente!" O pai não sabia. Ninguém sabia. Mas Victoria não ia acabar arrumando aqueles carros de pobre pelo resto de sua vida. Ela mirava alto. E o começo dos seus planos era ser aceita naquela oficina de carros de luxo. O dono, Joss Buchanan, tinha concordado com aquele encontro depois de Victoria o incomodar por dias sem parar. Agora só tinha que convencê-lo a lhe dar uma chance.
O irmão não descruzou os braços, nem arredou um centímetro de onde estava. Victoria ficou tentada a dar uma joelhada nas bolas dele e correr, mas os outros, Bill e Jack a pegariam e aí a coisa não ficaria boa. Não bateriam nela, mas poderiam trancá-la no banheiro por exemplo. E aí, adeus emprego melhor.
Ela cruzou os braços e disse:
"Tenho um encontro, e papai sabe. Se me impedirem vão se ver com ele." O pai tinha decidido que era hora de Victoria se casar e parar com aquela "brincadeira" de ser mecânica. E desde então estava arrumando encontros com os filhos dos seus amigos para Victoria. Ele dizia que ela deveria escolher um dos rapazes e sossegar o facho. Ted pareceu acreditar mas não saiu do lugar.
"Mas você está esquecendo de uma coisinha" disse balançando as chaves do sedan que Victoria consertara mais cedo. Droga! Ela combinado de deixar o carro na locadora do senhor McEvans.
"Bill, quebra essa pra mim." Ela disse se dirigindo ao irmão mais novo que estava mexendo em sua caixa de ferramentas.
"Não posso, Vicky, já deveria ter entregue aquela caminhonete, mas parece que vou ter que trocar outra peça." Ele estava trabalhando naquela caminhonete caindo aos pedaços por dois dias já e não a largaria enquanto não estivesse perfeita. Victoria entendia, também não abandonava um conserto por mais difícil que pudesse estar.
"Jack, você pode..." Ela atacou com seu olhar de coitadinha, o irmão era mais duro que Bill.
"Posso, mas não quero. E não me olhe assim, hoje é dia de me encontrar com Jenny."
Victoria bufou. Ela não sabia o que o irmão bonitão via naquela sem graça da Jenny.
Então era isso. Tinha de ligar dizendo que ia atrasar alguns minutos, pegar o carro e levá-lo para a locadora do outro lado da cidade, e ir ao restaurante de táxi depois. Ela atrasaria uns trinta minutos se fosse rápida. Talvez o senhor Buchanan esperasse. Sim, esperaria sentado batendo um bom papo com o coelhinho da Páscoa.
Mas ela tinha de tentar. Decidiu não ligar, assim ele a esperaria nem que fosse um pouco.
Entrou no carro e saiu cantando pneus.
Vinte minutos depois ela chegava a locadora. Se tivesse sorte e não demorasse para receber o pagamento, talvez pegaria o homem ainda no restaurante. Ela estacionou o carro no pátio, perto do escritório,  um pequeno prédio de dois andares. Ela bateu, e um homem estranho, que ela nunca tinha visto ali abriu uma fresta da porta de vidro.
"O que você quer?" Perguntou de modo ríspido.
"Vim trazer o sedan. São cento e cinquenta, em dinheiro, e rápido,por favor."
O homem passou a língua pelos lábios finos e rachados. Ele tinha um aspecto sujo, embora Victoria não estivesse vendo seu corpo, só sua cara. Uma cara muito feia.
"Espere aqui." Victoria estava com pressa, ela conhecia o dono da locadora e não era aquele cara. Se entrasse falaria com o senhor McEvans, receberia o dinheiro e iria correr para o restaurante. Pensando nisso, empurrou a porta ao mesmo tempo que o homem estava fechando e com isso entrou na recepção da locadora. O cara não gostou, mas indicou uma cadeira.
"Senta aí. Vou buscar o dinheiro." Ele disse virando as costas para ela e abrindo uma porta lateral.
"Onde está o senhor McEvans?"
"Ele não estava se sentindo bem hoje, então foi pra casa mais cedo." Ele disse por trás da porta.
Todos os instintos de Victoria gritavam para que ela fosse embora e deixasse para pegar o dinheiro depois. O velho McEvans era honesto, não deixaria de pagar. E quando ela decidida a sair dali, se virou para abrir a porta, levou uma pancada bem no alto da cabeça.

FLAMEOnde histórias criam vida. Descubra agora