CAPÍTULO 10

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O cheiro de Victoria de banho tomado no carro ao seu lado estava enlouquecendo Flame. O cheiro de alfazema do sabonete fazia-o salivar para cair sobre ela naquele banco traseiro daquele SUV. Ela olhava pela janela deixando claro que não estava afim de conversar. E conversariam sobre o que? Sobre o esforço inocente de Silent para que ela fosse para a Reserva no sábado? Ou sobre o porquê de Flame concordar com a ideia de má vontade? Ou ainda sobre o fato de que não tinha sido sexo casual, mas ele estava tratando como se tivesse sido?
Flame acabou de enterrar uma relação muito importante para ele por causa das vidas diferentes que ele e Amanda levavam, pela distância de onde suas vidas estavam ancoradas. Ele não queria passar por isso de novo. E não passaria. Por mais que estivesse ligado a ela, por mais que deixá-la estava machucando-o. Ele faria.
"Se você quiser posso pedir para o tio Slade vir com o helicóptero na sexta. Será a apresentação de Flora! Meu pai vai ser o padrinho!" Disse Silent.
"Como um sujeito chamado Silent pode falar tanto? Halfpint não quer que saibam da existência de Flora!" Hunter falou rosnando. Silent se encolheu.
"Me desculpe, Hunter!" Flame fechou os olhos. O desejo de estar dentro dela e o de estar longe dela, estava  deixando-o deprimido. E agora, Silent, obviamente querendo ajudá-lo, falou demais.
"Halfpint é uma de nossas fêmeas presentes. Elas têm uma fisiologia diferente da nossa, são pequenas e frágeis. Ela se envolveu com um humano, e para nossa surpresa, engravidou e Flora é sua filhote. Diferente dos outros pais, Halfpint e Ben, o pai, decidiram criar Flora sem registro humano. Pelo menos por enquanto." Flame explicou. Se eles estivessem envolvidos, não seria problema, mas não estavam. Flame segurou uma das mãos pequenas dela.
"Não é pessoal, Halfpint tem muito receio por sua cria. Ela parece ser totalmente humana, bem diferente dos outros filhotes. Mas se quiser ir eu jurarei por minha honra a Halfpint e a Ben, que eles podem confiar em você." Era o mínimo que podia fazer. Victoria era uma mulher honrada, corajosa e confiável. Flame podia sentir isso em seus ossos.
"Se quiser ir, Victoria, saiba que minha honra também estará implicada nisso. Jurarei juntamente com Flame." Hunter disse.
Ela olhou para fora de novo, mas antes de virar o rosto, Flame viu um brilho de lágrima nos olhos azuis dela. Era como se o tempo estivesse voltado. Ele se lembrou das vezes que fez Amanda chorar. Deus! Que droga! Ele era um idiota!
"Hunter eu tenho honra também?" Silent perguntou.
"Não, você tem é um coração muito barulhento. É como um tambor nos meus ouvidos!" Ela riu e disfarçadamente enxugou o rosto. Flame agradeceu pela companhia dos irmãos.
A locadora estava fervilhando de policiais, curiosos e vizinhos. Havia um cordão listrado de amarelo e preto demarcando a área, como nos filmes. Flame nunca pensou que veria um desses.
"Pensei que estávamos indo para a delegacia." Victoria disse. Eles não deveriam ter voltado ali. Era ainda muito cedo, Flame viu o pesar voltar ao rosto dela. Ia falar com Hunter para tirá-los dali.
"Eu só quero ver o que Silent consegue sentir. Nós precisamos pegar esse cara, Victoria. Como podemos voltar com ele solto por aí? Ele viu o seu rosto, não viu?" Hunter falou e Flame se sentiu um merda! Estava tão preocupado em ir embora sem magoá-la que até esqueceu o perigo que ela corria.
Hunter parou o carro o mais perto que era permitido pela polícia e ele Silent saíram.
"Victoria, talvez fosse melhor você vir com a gente para a Reserva. Lá, você estaria segura. Só por essa semana, o que acha? Você já vai para o aniversário de Silent."
Ela o olhou bem séria, e Flame se arrependeu de dizer aquilo. Ela deveria estar pensando que ele estava querendo que passassem um tempo juntos. Ele estava, claro. Mas o principal motivo era a segurança dela.
" Não. Obrigada por se preocupar com a minha segurança, mas eu estou prestes a conseguir um emprego melhor, um que eu estou de olho a muito tempo. Eu ficarei na casa dos meus pais."
Ela disse, encerrando o assunto.
E Flame não soube mais o que dizer. O silêncio dentro do carro era opressor. Flame se sentia incomodado e excitado ao mesmo tempo.
" Vou ver o que aqueles dois estão aprontando." E saiu. Fora do carro, respirou bem fundo. A mente clareou sem o cheiro dela para tentá-lo. Hunter tinha razão. Havia um assassino a solta que tinha visto o rosto de Victoria. A oficina da família dela prestava serviços ao finado senhor McEvans. Com certeza haveriam registros, ou notas fiscais com o nome da oficina no escritório. E Victoria seria uma testemunha em potencial, caso fossem apanhados. Ela estava em perigo! Iriam conversar com  a polícia. Talvez eles conseguissem convencê-la a ir para a Reserva.
Hunter e Silent não estavam a vista. Flame respirou fundo e sentiu o cheiro deles no prédio de dois andares. Como conseguiram entrar? Hunter poderia ser furtivo, mas Silent com aquele tamanho todo, não.
O cheiro dela invadiu seus sentidos e ele se virou. Victoria vinha até ele acompanhada de um senhor alto, de cabelos grisalhos que era um pouco parecido com ela, deveria ser seu pai.
"Flame, este é o meu pai, Andrew Mills. Pai, esse é Flame, que alugou justo o carro onde o cara que..." Ela engoliu em seco." Flame é Nova Espécie. Ele, Hunter e Silent me salvaram."
O macho era bem forte e sisudo. Flame pensou que se tivesse uma filhote bonita como Victoria, também não estaria sorrindo para machos como Flame.
"Eu te agradeço por salvar a vida de minha filha. O policial que me chamou disse que os bandidos provavelmente iriam sair com o carro e matá-la em outro lugar." O macho trincou o maxilar, ele era durão.
"Na verdade, tivemos a sorte de pegar o carro certo." Flame pensou no quão grande a coincidência de pegar justo o carro em que Victoria estava desacordada. E se lembrou de Hunter apontando para o carro. Mais tarde perguntaria o que o fez escolher aquele carro.
"Não acredita em Deus, senhor Flame?" O pai de Victoria perguntou.
"Sim, mas não penso muito nisso. Porém se foi Deus que quis que eu conhecesse Victoria, fico muito agradecido a Ele." Sorriu. Ela só curvou um pouquinho os lábios, mas já era alguma coisa.
"Flame, meu pai vai me levar para dar meu depoimento, não precisam me levar. Diga a Hunter e Silent que adorei conhecê-los e que vou me esforçar para ir ao aniversário de Silent no sábado."
Era um adeus. E a presença carrancuda do pai dela não proporcionava meios deles conversarem. E ela não iria na Reserva no sábado. Dizer que ia se esforçar, era apenas uma forma educada de dizer não.
"Este é o meu número." Disse entregando um cartão com seu nome e telefone. Todos que já trabalharam na força tarefa tinham esses cartões, Flame achou que nunca usaria um dos seus."Pode me ligar se precisar de alguma coisa, qualquer coisa. Ou, se quiser conversar um pouco, ficarei muito feliz se você me contatar." Disse segurando a mão dela quando lhe passou o cartão. Ela tirou sua mão das dele devagar, mas com firmeza. Se virou e saiu andando em direção a uma caminhonete com o logo da Oficina Mills & filhos.
"É verdade que vocês podem ter filhos com mulheres como Victoria?" Flame achou a pergunta muito estranha, mas balançou a cabeça concordando. O macho continuou:
"E podem vir mais de um bebê?" Flame e Victoria não usaram camisinha. Será que ela poderia ficar grávida? Mas ela não pareceu preocupada com essa hipótese.
"Sim! Valiant tem dois filhotes gêmeos machos e duas gêmeas fêmeas, e também trigêmeos machos. Brás também tem gêmeos machos. Por que pergunta?"
"Porque se Victoria está apaixonada por você, pelo menos tenho a chance de ter muitos netos."
O macho, Andrew Mills, disse e saiu atrás de Victoria. Flame ficou vendo o veículo se afastar até que virou a rua e sumiu.

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