CAPÍTULO 6

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A locadora estava trancada e o escritório com as luzes apagadas.
"Que parte do 24 horas eles não entenderam?" Disse Hunter ao pararem em frente a entrada de carros.
"Eu acho que eles podem ter fechado tudo e saído levando o senhor MacEvans. Temos de chamar a polícia!" Disse a fêmea. Ela estava sentada perto de Silent e parecia admirada com o sono pesado dele.
"Quando você veio aqui, ele estava vivo?" Flame perguntou.
"Eu não o vi. Um homem estranho me atendeu e eu insisti em entrar para receber o dinheiro. Então eu desisti de esperar e quando ia saindo eu senti uma dor forte e apaguei." Ela fechou os olhos, devia ainda estar ainda com dor.
"Como está se sentindo? Não acha melhor te levarmos para sua casa? Amanhã você procura por notícias."
Ela ficou um momento calada, seu cérebro devia estar pesando as alternativas.
"Flame..." Hunter sussurrou. Ela não pareceu ouvir, Hunter por pouco tempo em que morava na Reserva, já tinha aprendido o volume certo para conversar sem que um humano ouvisse.
"Eu sei. Estou sentindo também. Vamos tentar convencê-la a ir para casa."
"Eu não consigo ouvir vocês, mas se pensam que eu vou sair daqui sem saber se o senhor McEvans está bem, ou..." Ela se calou e engoliu em seco.
"Ele já é bem velho e mora sozinho no apartamento em cima do escritório. Vamos lá dar uma olhada?"
Ela disse já saindo do carro. Flame olhou para Hunter, que deu de ombros e saiu do carro também.
"Vamos chamar a polícia então." Flame disse tirando o celular do bolso, discando e informando a atendente do que havia acontecido e fornecendo o endereço.
"Vocês conseguem pular este muro facilmente, a polícia demorará a chegar e ele pode estar ferido, precisando de ajuda!" Ela torcia as mãos, estava muito nervosa.
"Só há uma pessoa neste entorno, e está morta. Não vamos nos encrencar invadindo, Flame." Hunter disse. Flame fechou os olhos quando a ouviu arfar. Filhote sem noção!
"Ele está...?" Lágrimas começaram a brotar dos olhos bonitos dela.
"Não dá pra saber quem é, querida. Só conseguimos sentir que há apenas uma pessoa lá e que está morta. Talvez não seja o senhor McEvans."
Ela baixou a cabeça, parecendo concordar.
"Se Silent estivesse acordado, poderíamos caçar os sujeitos que fizeram isso. Mas meu faro não vai tão longe. E infelizmente, queridinha do Flame, deve ser o tal velho mesmo. O cheiro dele está por todo lugar, e você disse que ele mora aqui. Com certeza o defunto é o pobre dono desse lugar." Esse era Hunter tentando demonstrar empatia. Ele ainda tinha muito que aprender, pois a fêmea caiu em prantos.
"O quê?" Hunter disse ante o olhar raivoso de Flame.
"Ela ia saber, não ia?"
Apesar de tudo, Flame teve que concordar com o filhote de Ven. Ela não ficaria em casa dormindo tranquilamente, sem saber o que tinha acontecido com o dono da locadora.
Ele a abraçou e ficou acariciando seus cabelos, sem saber o que poderia dizer.
"Ele sempre manda seus carros pra gente consertar. Quando trazemos, ele paga um valor a mais como gorjeta.  Minha primeira gorjeta foi ele que deu. Meu pai vai ficar arrasado."
"Eu sinto muito. Ele não tinha parentes aqui?"
Ela o apertou mais ainda e não falou por um tempo.
"Ele e a esposa não tiveram filhos, e ela morreu já tem um tempo." Ela se afastou de Flame e enxugou o rosto com o braço da camisa." Ele tem um irmão mais novo. Um idiota que quando estava aqui, mostrava na cara que estava contando os dias para o senhor McEvans morrer. Agora ele vai chegar aqui e colocar aqueles dedos nojentos dele em tudo."
Flame achou meio exagerado a fala dela. Qual a causa de tanto asco? Pelo que entendeu ela e sua família eram apenas conhecidos do velho.
"Você parece ter uma certa repulsa por ele. O que aconteceu?"
"Ele me disse umas coisas bem asquerosas da vez que vim entregar um carro consertado e ele estava aqui."
"Não pode culpá-lo. Você até que é bem gostosa." Hunter disse olhando-a  de cima a baixo. Flame deu um soco no filhote, bem na cara. Ele tinha chegado no limite da sua paciência.
"Que porra, Flame! Você nem está comendo ela." Flame respirou fundo e cerrou os punhos, Vengeance que o desculpasse mas ia obrigar aquele filhote a demonstrar um pouco de respeito.
"Só não vou devolver porque a polícia está a duas quadras daqui. Mas fique esperto, não vou esquecer." O tom ameaçador e baixo fez a fêmea estremecer.
"Como você sabe que a polícia está vindo?" Ela parecia querer pensar em outra coisa.
Hunter deu ombros, seu olho esquerdo estava começando a inchar.
"Eu posso ouví-los. Estão vindo rápido. Ou é a polícia ou alguém está com muita pressa. Aposto minhas fichas que é a polícia."
E era. Poucos minutos depois uma viatura estacionava e dois policiais fardados saiam do interior do carro.
"Boa noite. Quem é Flame?" Um dos policiais disse com uma certa dose irônica na voz. Flame resistiu ao impulso de revirar os olhos. Humanos e seus preconceitos!
"Eu sou." Mas não resistiu a aprumar o corpo em toda a sua altura.  O policial podia achar seu nome engraçado, mas teria de olhar para cima para falar com ele.
"Não está muito longe de casa? Ou estão planejando tomar mais terras de nós? Como vocês nos chamam? Ah, sim! Humanos?"
"Terras? Não, já basta que suas mulheres nos prefiram. Da terra vocês podem fazer bom proveito." Hunter respondeu, os olhos frios, já calculando a linha de ação, se tivesse que acabar com eles.
"Podemos decidir quem tem o pinto maior depois? O senhor McEvans está lá dentro, temos de entrar!" Disse a fêmea.
O policial, um pouco receoso de Hunter, ergueu o queixo e se dirigiu a ela.
"Nome?"
Ela sorriu meio sem graça. Ainda não tinha dado seu nome a eles. Flame estava curioso.
"Victoria Mills. Eu sou filha de Andrew Mills, da oficina Mills e filhos. Eu vim aqui deixar um carro que consertei e o dono, o senhor McEvans, não me atendeu. Ao invés disso um homem que eu nunca vi estava aqui. Eu insisti em vir ao escritório e meio que forcei minha entrada. Mas quando achei melhor ir embora e me virei, fui atingida e acordei no porta malas desse carro."
O polícial ergueu as sobrancelhas peludas.
"E eles dirigiam o carro?" Apontou para Hunter e Flame.
"Ele é Flame. E você? Bird? Fire? Ou Dog?"Disse  claramente zombando.
"Peter Marshall ao seu dispor." E sorriu mostrando suas presas. Flame achou melhor relatar o que tinha acontecido.
"Nós alugamos esse carro aqui e depois de dirigirmos por um tempo, percebemos que havia uma fêmea no porta malas. Paramos, a tiramos e ela quis vir checar o dono da locadora que é conhecido da família dela. Então como estamos sentindo o cheiro de alguém que está morto lá dentro, chamamos vocês."
Flame falou bem devagar, o que fez Hunter dar um sorriso de desprezo aos policiais. O policial se voltou para ele:
"Fêmea? Que sorte a de vocês, não?" O outro disse. Parecia estar desconfiado e começou a examinar o carro. Quando viu Silent dormindo lá dentro, encarou Flame:
"E esse cara enorme jogado no banco de trás?" Era meio suspeito, Flame teve de admitir.
"Esse é o meu irmão. Ele dorme por doze horas sem acordar. O nome dele é Silent."
"Com licença, policial, mas eles dizem que estão sentindo o cheiro de uma pessoa morta lá dentro. Não acha melhor averiguar? E pode ser que não seja o senhor McEvans, e aí, ele estaria desaparecido. Por favor, vamos entrar e dar uma olhada!" As lágrimas voltaram para os olhos dela.
Flame a abraçou. Não podia diminuir seu sofrimento, mas poderia mostrar a ela que estava ali para o que ela precisasse.
"Ei! Solta ela! Pelo que entendi, vocês não se conheciam. Como já está botando suas mãos nela desse jeito?"
A fêmea se afastou de Flame e se voltou ao policial:
"Por que não estão fazendo nada e só fazendo perguntas idiotas? O senhor McEvans está lá dentro morto, ou desaparecido! Vocês vão entrar ou continuar com essa palhaçada?"
"Ah, que se foda!"
Hunter  disse perdendo a paciência e dando um salto impressionante por sobre o portão e caindo graciosamente do outro lado?
"Ei, isso é invasão!" O policial disse sacando sua arma.
"Eu só vou buscar as chaves. O que acha que seu chefe vai dizer quando souber que havia um senhor de idade morto no escritório e que ao invés de checarem a nossa informação, vocês ficaram fazendo perguntas ridículas?"
E sorriu para a fêmea:
"E nossos pintos são muito maiores. Sempre." Disse e se virou na direção do escritório.

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