CAPÍTULO 17

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Vengeance sorriu ao ver Flame sair puxando Victoria pelo braço.Quem diria que o polido e educado macho de Homeland iria agir como um macho vinculado? E dos mais possessivos? Vengeance balançou a cabeça. Por que as pessoas complicam tanto suas relações? Flame estava agindo como o Bundão que Hunter dizia que ele era.
Pelo menos ficar encarando a fêmea tinha dado resultado. Foi difícil ver o constrangimento dela e ainda continuar. Flame era afortunado. Vengeance sabia que tinha um rosto atraente, e mesmo vendo uma admiração nos olhos dela, era só isso. Quando olhava para Flame, os olhos dela acendiam, brilhavam. Vengeance suspirou. Flame era um idiota.
Mas ele aguardava o evento principal daquela noite. A Noite da Fogueira Para Filhotes, como Hunter nomeou. Vengeance estava animado. Ainda não tinha visto, nem sentido nada! Para alguém com a maldição que ele tinha, que lhe tirava alegrias simples, como poder fazer parte das apostas sem sentido de Slade, por exemplo, ele estava eufórico. Todos inclusive estavam estranhando sua alegria, seus sorrisos. Era uma noite especial. Ele, pela primeira vez, iria participar como pai. E não só de um filho, mas de dois!
Ele olhou Hunter conversando com Harley e Jericho a distância. Estavam discutindo sobre futebol. Hunter ainda tinha todos os costumes dos humanos, falava como eles e até se envolvia com as fêmeas como um típico pós adolescente humano.
Não que os outros filhotes fossem muito diferentes, mas ele tinha o péssimo hábito de "transar" como ele dizia com prostitutas. Ninguém na Reserva entendia muito bem isso, por que pagar, quando haviam sempre fêmeas bem dispostas de graça? Ele dizia que havia o risco de haver envolvimento emocional, o que com as putas não acontecia. Mas os Novas Espécies não compartilhavam sexo excluindo as emoções do processo. Compartilhar sexo era uma troca, daí o nome, onde eles trocavam carícias, prazer e sentimentos. E tudo bem se no dia seguinte esse compartilhamento fosse com outro. Novas Espécies sabiam dar valor a todas as experiências e aos que compartilhavam essas experiências. E aqueles como ele, que decidiram pelo celibato, eram respeitados e amados da mesma forma.
Vengeance amava seu Filho. Tanto que as vezes, sentia que seu peito ia explodir de orgulho. Ele era forte, inteligente, bonito e extrovertido. Sua audição e resistência eram extraordinarias. Vengeance se lembrava da luta de Hunter e Harley. Ele levou um golpe mortal e apenas riu.
Vengeance sabia que no início, Hunter estava fingindo ter qualquer afeto por ele e os outros. Ele ainda pensava em ser útil ao doutor Gabriel. Era o pai que ele conhecia, que o tinha criado, Vengeance não o culpava. Mas os meses foram passando e Hunter foi se rendendo ao chamado do sangue. E Vengeance foi vendo o olhar de seu filho mudar, a raiva dar lugar a dúvida, e a dúvida dar lugar ao carinho e agora o carinho dar lugar ao amor. E Silent, aquele macho abandonado a própria solidão, que nunca tinha tido alguém que o amasse, atolado em sua triste existência na zona selvagem, foi quem despertou em Hunter o amor de filho, curiosamente através do ciúme, e daí o amor de irmão através do cuidado.
"Você parece satisfeito, V., muito satisfeito." Brass disse se aproximando. O cabelo estava todo despenteado. Vengeance apostaria que um dos anjinhos dele era o culpado.
"O que aconteceu ao seu cabelo? Parece que você estava de cabeça para baixo." O macho riu.
"Foi o que eu disse a Sophia. Estávamos aproveitando que os gêmeos estavam com os padrinhos." Outra aposta furada. Essa noite estava sendo a melhor. Brass continuou: "Sabe, estávamos pensando que Hunter não tem padrinho. Como você é padrinho de John..."
"E tive que lutar muito para isso! Se quiser outro torneio, é só dizer, Brass. Só fico contente por ser padrinho de John. Justice já trocou de terno duas vezes, e Jericho levou um banho de refrigerante."
Eles riram. Brave e Gift eram terríveis. Já John, estava todo comportado com os trigêmeos e Sarah numa mesa. Estavam falando entusiasmados, talvez aprontando, mas pelo menos não envolvia sujar, nem morder ninguém.
"Eu estou feliz, V.. Desde que Hunter apareceu, você está mais alegre, está até mais bonito. Eu não sinto saudades daquelas suas carrancas." Brass sempre foi seu amigo mais próximo. Teve o tempo em que Harley cismou de quase morar na cabana dele, falando sem parar, e também havia o silencioso Jericho, mas Brass e ele tinham uma ligação.
Vengeance só acenou com a cabeça. Ele já sabia o que Brass diria a seguir, mas não precisava ser vidente para saber disso.
"Eu nunca vou agradecer o suficiente. Todos os dias, quando o choro dos gêmeos me acorda, ou quando vejo John desenhar, ou ainda quando Sophia me sorri, eu reconheço que devo tudo isso a você. Muito obrigado, Vengeance. Eu te devo a minha vida."
Ele falou e se levantou, indo para perto de Slade e Trisha. Brass sabia que Vengeance não teria nada a dizer, só que continuaria a oferecer sua vida por aquela família.
"E aí, pai? Brass estava querendo alguma dica?" Hunter apareceu.
"Não. Só me agradecendo como sempre. Eu nunca sei o que dizer." Sorriu e Hunter sorriu de volta.
"Peça a ele pra pagar pra você uma puta bem gostosa, oras! Eu sei que você está precisando. Eu já estou nesse lugar a quase um ano e nunca vi você dar umazinha."
Hunter sempre dizia isso e Vengeance não respondia, mas hoje estava sendo uma noite diferente, então, porque não?
"E eu sei que você também não compartilhou sexo com ninguém, não desde Charlotte." O filhote endureceu as feições sorridentes.
"Hoje, isso vai mudar. Eu vou vencer e ficar com a garota. Vou tirar Charlotte de debaixo da minha pele, pai. Hoje é o dia em que paro de pensar naquela bruxa desbocada." Ele disse baixinho, praticamente para si próprio.
"Eu nunca vi uma fêmea humana tão desbocada." E não tinha visto mesmo, Charlotte era uma metralhadora de palavrões. E de repente, ele e Hunter começaram a rir. Alto, e o riso se transformou em gargalhadas. Logo vários machos estavam rindo dos dois. E Vengeance sentiu que suas feridas estavam se curando.

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