CAPÍTULO 20

1K 178 5
                                    

Era quinta feira e Flame foi procurar Vengeance. A situação com Victoria estava o sufocando, e ele precisava conversar. Victoria tinha passado os dias conhecendo os moradores da Reserva. Ela fez bolo com Sophia, organizou os aparelhos quebrados da sala de treinamento com Elisabeth, ficou um dia inteiro no lago com os filhotes pequenos e até foi com Amy e Tammy visitar Kit em sua mansão. Todos os dias Flame achava que ela dormiria no hotel, mas a noite ela entrava pela porta, corada pelo cansaço e Flame agarrava sua boca ao mesmo tempo que a carregava para o quarto.
E, na cama, eles se entendiam. O sexo era apaixonado, barulhento, suado e enlouquecedor. Ele a inundava com sua semente quatro ou cinco vezes antes de permitir que ela dormisse, só para fazer tudo de novo de manhã. Flame achava que estava ficando obsecado por Victoria e ela tinha dito que ia embora no domingo. Era por isso que tinha seguido o conselho de Harley e estava ali batendo na cabana de Vengeance, sem nem mesmo ligar antes.
Esse era um costume estranho a Flame. Em Homeland, era costume, ligar antes de ir às casas mesmo que fosse algo rápido. Na Reserva, todos invadiam as casas dos outros. A única regra era usar o nariz e os ouvidos, para o caso dos casais estarem compartilhando sexo. Caso não estivessem, era só bater e entrar.
Flame bateu e esperou. Ele estava relutante, pois quando procurou Harley para conversar, ele disse que o melhor ouvinte da Reserva era Vengeance. Fazia sentido para Flame, porém Harley disse que Flame não se importasse se Vengeance o deixasse falando sozinho. Se era pra falar sozinho, por que ele viria ali?
Já faziam uns minutos que Flame tinha batido e nada de Vengeance atender. Pelo cheiro ele estava em casa, então porque não atendia?
"Vengeance?" Flame disse abrindo a porta e entrando. O macho estava sentado no sofá, sozinho olhando pela janela a direita.
"Sente-se, Flame. Posso te ajudar?"
"Porque não abriu a porta?" Flame estava sem jeito de falar, então começou com algo sem importância.
"Porque você já é bem grandinho pra abrir uma porta você mesmo. Fale!"
Esse era o Vengeance das antigas, grosso e objetivo. Flame entendeu o que Harley quis dizer.
"Não sei o que fazer sobre Victoria e eu. Ela diz que vai embora no domingo, mas eu não sei se vou deixá-la ir. Estou com medo de fazer a maior burrice da minha vida, pois eu acho que vou acabar de joelhos implorando a ela que fique comigo. E estou correndo o risco de trancá-la na cabana e não deixar que ela vá pra casa. Essa ideia foi de Silent, aliás, e eu cheguei ao ponto de considerar fazer isso. Simple disse que eu deveria ter aderido ao plano original e ter colocado um filhote na barriga dela. O pior é que inconscientemente eu estou fazendo isso, pois toda a noite, eu gozo dentro dela até parecer que não há mais semente nenhuma dentro do meu saco. Ela passa o dia longe, conhecendo todos os cantos da Reserva, os lugares que eu falei que ia mostrar. Ela vai com os filhotes, com as fêmeas, até o vovô a levou a clareira de casamento e fez um desenho dela lá, mas ela não fala comigo durante o dia. Toda a noite, eu acho que ela não vem, que eu vou dormir sozinho, mas ela aparece e eu a faço minha, da maneira mais apaixonada possível. Porém de manhã, depois de compartilhar sexo várias vezes, ela toma banho e sai. E eu deixo, Vengeance! Eu deixo ela ir, sabendo que tenho que fazer alguma coisa, sabendo que o tempo está acabando e que daqui a poucos dias, ela vai subir na porra daquele helicóptero, pra voltar a viver a vida dela e eu serei só um cara que, como Hunter diz, comeu ela gostoso."
Flame sentiu que a veia de seu pescoço estava a ponto de romper. Nunca tinha falado tanto e de forma tão desesperada a alguém.
Vengeance olhava para as mãos juntas. Não esboçou nenhuma reação ante a verborragia de Flame. E agora, o quê?
"Você acha que eu deveria só aproveitar o tempo que ainda tenho com ela? Ou devo chutar o pau da barraca, e dizer a ela que ou ela fica comigo ou ela vai para o hotel, pra casa, pra puta que pariu?" Ele respirou fundo. Flame não diria algo grosseiro desse tipo a ninguém, ainda mais a Victoria.
"Eu já amei antes, minha história com Amanda durou anos! Mas eu conheço Victoria a menos de duas semanas, e já estou considerando ir viver no meio dos humanos só pra ficar com ela."
Flame reviveu sua resposta quando Victoria perguntou se ele moraria com ela. Ele não tinha sido sincero. Se ele se esforçasse, talvez poderiam fazer funcionar. Mas para isso, ele deveria ficar a mercê das vontades dela, morando na casa dela, rodeado pela família e amigos dela. Longe de todos que o amavam e entendiam. Novas Espécies não eram como os humanos.
"Se eu fosse morar com ela, estaria na cidade grande, longe das matas de Homeland, longe dos meus amigos. Humanos falam demais, reparam demais, a cidade fede e é barulhenta demais para meus sentidos. Eu estaria sempre estressado com os olhares, conversas que não entendo, rodeado do ar poluído e de pessoas me olhando como se eu fosse um animal falante."
Talvez ele estivesse exagerando. Talvez ele encontrasse amigos. Os humanos da força tarefa, por exemplo, eram amigáveis e respeitosos.
"Mas, por outro lado, Victoria... Ela estaria ao meu lado. Nós dormiríamos bem juntinho depois de fazer amor. E eu poderia ir para a oficina com ela e aprender sobre carros. Talvez eles precisassem de um segurança, ainda mais agora que o bandido ainda não foi pego. E por falar nesse bandido, Silent disse que ele saiu da cidade. Como então o apartamento dela foi invadido?"
Nessa hora Vengeance deu de ombros. Pelo menos era um sinal de que ele tinha ouvido.
"Sabe, quando penso nas coisas boas que podem acontecer se eu for com ela, me sinto o Bundão de que me chamam." Ele riu e Vengeance ergueu os cantos da boca.
Então era o que faria. Não perderia tempo exigindo que ela desse o primeiro passo. Ele daria. Iria para o mundo dos humanos cheio de pensamentos positivos vivendo um dia de cada vez.
Flame suspirou aliviado. No momento que tomara a decisão, um peso enorme foi tirado de cima de sua cabeça. Agora sentia até uma euforia, uma vontade de encarar essa nova vida de peito aberto o quanto antes.
"Obrigado, Vengeance! Muito obrigado por me ajudar a achar uma solução."
"Então, essa é a solução?" Vengeance perguntou.
Era? Ainda não sabia, estava apenas deixando o medo da incerteza para trás. Não podia deixar Victoria, isso era um fato consumado.
" Não sei. Mas tenho de começar a construir minha vida ao lado dela. Se ela não quer deixar o emprego e morar comigo em Homeland, tenho de tentar morar com ela. O que você faria, Ven?"
O macho o olhou com aqueles olhos de um azul tão claro, que pareciam dois diamantes brilhando, e suspirou.
"Lembre-se Flame, nunca é tão ruim quanto parece. Agora saia daqui, pois meus ouvidos estão doendo." Ele disse se levantou e deixou Flame sozinho na sala.

FLAMEOnde histórias criam vida. Descubra agora