No Meio da Estrada.

8 2 0
                                    

Era meio dia e a principal igreja do bairro (e consequentemente do município) estava superlotada. Ali estava se encerrando a missa em homenagem ao sétimo dia da falecimento do Marechal Taiqui, o tio Nelson.

Nos largos, bem pintados e cheirosos bancos da igreja havia uma boa distribuição de público: uma parte eram membros da Resistência (URM), outra parte eram antigos amigos do tio Nelson e próximos a família, a outra parte era a imprensa e em um menor grupo estavam alguns conhecidos de Lana, a ex general e sobrinha do falecido.

O padre que estava comandando a carinhosa e respeitosa celebração era um pouco baixinho, já de era de idade avançada mas era de uma simpatia e bondade inenarrável. Por sua aparência, ele lembrava um pouco do Papa Francisco. Era um dos mais famosos padres do país e um dos melhores e mais antigos amigos do tio Nelson.

- Irmãos e irmãs aqui presentes, Deus e eu agradecemos profunda e sinceramente a presença de cada um que ocupa estes bancos em minha frente. Foi uma linda missa de sétimo dia, eu me despeço aqui e agora, passando a palavra para a admirável e adorável: senhorita Alana Maya Korgana. Novamente, o nosso muito obrigado.

O padre Joaquim deu um passo para trás assim que concluiu sua fala e largou o microfone. Enquanto recebia aplausos, ele ergueu os braços e acenou positivamente para todos os presentes, e sorriu, sorriu muito.

Durante os discursos, canções, orações e pregações do padre Joaquim, Lana estava sentada em uma cadeira preta de madeira envernizada ao fundo do púlpito. Com a despedida do padre, ela se levantou daquela cadeira e trocou sorrisos emocionados com ele.

- Eu denovo nem sei como agradecer o senhor por tudo isso, padre Joaquim.

Disse Lana com uma voz doce, calma e mais baixa ao Padre Joaquim. Ele novamente sorriu e depois de balançar a cabeça em sinal de negação, pousou as mãos em seus ombros e lhe deu um beijinho na testa.

- Novamente: você não precisa agradecer, Alana. Essa cerimônia foi tão bonita, fizemos do jeitinho que o Nelson iria querer.

Assim que o padre terminou de falar, Lana sorriu e novamente o abraçou. Ele caminhou calmamente e se sentou na cadeira onde ela estava.

Antes de deixar o púlpito, o padre Joaquim havia fechado sua Bíblia e a guardado num pequeno encaixe mais baixo, ainda no púlpito.

Na mão esquerda, Lana carregava um grande copo de vidro transparente cheio d'água. Na mão direita estava segurando com firmeza uma pequena urna de pedra branca com uma letra N pintada em azul escuro.

Após tomar um longe gole d'água, Lana largou o copo na ponta superior esquerda do púlpito, e largou a urna onde a bíblia tradicionalmente fica.

Ela estava de olhos fechados e segurando as laterais do púlpito com as duas mãos. Bastante próximo de onde ela estava, uma frente de imprensa foi formada muito rapidamente.

As câmeras, luzes, microfones e gravadores estavam todos em sua direção. Repórteres aguardando ansiosamente o início daquele que seria o primeiro pronunciamento público e oficial da ex General a respeito do suicídio de seu tio.

Enquanto largava pela boca todo o ar de seus pulmões, Lana abriu os olhos e encarou firmemente toda a frente de imprensa. Seus amigos próximos e conhecidos tinham certeza absoluta de que ela estava desconfortável com aquilo. Ainda que fosse compressível, era insensível.

Hope and Menace.Onde histórias criam vida. Descubra agora