Antes da Tempestade.

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[Dezoito meses antes]

O céu estava quase completamente limpo, estava bonito, realmente bonito. Era um azul bastante claro, céu azul esse que estava acompanhado por pouquíssimas nuvens cinza, também claras.

Ainda que parecesse ser um dia de verão, por causa de um céu tão limpinho e lindo, aquela era uma tarde de primavera, na verdade, uma clássica tarde de primavera, uma vez que tinha visual de verão, mas estava um pouquinho frio.

As conversas agitadas e risadas das pessoas que caminhavam pelas calçadas se juntavam aos sons dos carros, motos e ônibus que circulavam por aquela rua que tinha folhas secas caídas em seus cantinhos.

Além disso, o aroma das flores se levantava pelo ar e se misturava com um aroma de café recém feito. Distante das ruas, era possível ver e ouvir alguns casais de papagaios coloridos conversando no alto das árvores.

E enquanto observava aqueles papagaios, bichinhos que tanto amo, ouvi alguns passos ao fundo.

- Aqui estão seus pedidos, senhorita.

Calmamente disse uma das moças que atende a lanchonete (quase ao ar livre) onde estou. E com um sorriso bonitinho, que destacava as sardas de seu rosto, ela começou a servir minha mesa.

Uma mesa não muito grande, para duas pessoas apenas. De um lado, ela pousou um pires com uma xícara de café preto misturado com leite e bastante açúcar. Ao lado desse meu café, pousou um pires um pouco menor, com três pães de queijo sobre ele.

E do outro, pousou um pires com uma xícara um pouco maior, tendo café sem leite e sem açúcar. E ao lado de onde esse café estava, outro pires, esse vinha com um enroladinho de salsicha.

- Perfeito, muito obrigada, viu?

Após terminar minha fala, dei um sorriso de canto e estendi uma cédula na direção da moça, uma humilde gorjeta. Ela ergueu as sobrancelhas finas e sorriu outra vez, ao agarrar a cédula, concordou com a cabeça e saiu.

- Então aí está você, dona Korgana!

Com a minha xícara já em mãos e a trazendo até minha boca, fiz uma pausa ao ouvir isso. Eu reconheceria aquela voz de longe e até de olhos fechados. Era provavelmente a voz masculina mais engraçada que eu conhecia, embora fosse também uma das mais graves.

Já sorrindo, dei um passinho para trás me levantando da cadeira com os braços abertos, pronta para abraçar muito carinhosamente o meu companheiro de café.

Tradicionalmente vestido igual a um político: com blazer, calça, sapatos e gravata longa preta e uma camisa toda branca de botão por baixo, ali estava ele, ninguém mais, ninguém menos que o Marechal Nelson Taiqui.

- Ah, minha única e favorita sobrinha!

Disse o Tio Nelson enquanto nos abraçamos por um bom tempinho. Quando o abraço terminou, ele passou a mão de lado pelo meu rosto, um gesto de carinho que meu falecido pai sempre tinha.

Tio Nelson seguia do jeitinho que sempre foi, era tão cheiroso que seu bom perfume quase formava uma áurea ao redor dele. Além disso, a roupa nunca estava nenhum pouquinho amassada, os sapatos bem lustrados e o cabelo que misturava preto com grisalho bem penteado com bastante gel.

Hope and Menace.Onde histórias criam vida. Descubra agora