M de Master.

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Mesmo vivendo seus últimos suspiros da temporada de verão, fazia uma madrugada estranhamente fria na cidade, o sol voltaria dali pouquíssimo tempo. A janela do quarto de hóspedes da casa de Léo e Lana estava levantada pela metade e sentado na beira do telhado estava o Backmaster, a versão recém ressuscitada do Eobardo.

Abraçado aos próprios joelhos, seu semblante estava transbordando seriedade, olhava com enorme atenção para o céu sobre sua cabeça, um céu infinito que parecia ser pintado à mão em tom de azul escuro com vários pontos prateados ou dourados, as estrelas.

Ao seu fundo, o vidro da janela estava sendo totalmente e lentamente levantado.

- Sabe... você é um grande spoiler pra mim, hein.

Disse o Pastmaster (a versão de Eobardo vinda do passado) numa voz calma e brincalhona. Mergulhado profundamente nos próprios pensamentos, o Backmaster teve um pequeno susto com a inesperada chegada de seu "gêmeo".

Mas o semblante assustado durou questão de segundos, ele o olhou e já soltou uma risadinha, sacudindo os ombros.

- Você não sabia que morreria e ressuscitaria mas em minha defesa, eu não me lembro de um dia ter conseguido viajar até o passado.

Respondeu o Backmaster com a voz no mesmíssimo tom de brincadeira. O Pastmaster então piscou o olho esquerdo pra ele e com calma, se ajeitou ao seu lado na beira do telhado.

- O lado bom de estarmos sempre ocupados é que felizmente nunca nos damos conta da verdadeira loucura que são nossas vidas, né?

Já ao lado do Backmaster, essa foi a reflexão que o Pastmaster fez ao também encarar o céu.

- Nem fala, cara...

Desabafou o Backmaster ao coçar a parte de trás da cabeça com a ponta dos dedos.

- Qual é a última coisa da qual se lembra?

Aquela pergunta do Pastmaster não era UMA simples pergunta, aquela era A pergunta. Os olhos dele não mentiam, agora que ele já sabia que infelizmente morreria mas felizmente voltaria, os detalhes disso seriam menos doloroso do que se pode pensar.

O Backmaster não ficou desconfortável com o questionamento, por mais forte que ele fosse. Mas justamente essa intensidade que fazia a resposta ser lentamente elaborada. Ele finalmente tirou os olhos do céu.

- Me lembro do meu corpo arder. Arder como nunca havia ardido antes, arder de maneira que eu sequer conseguia imaginar que fosse possível... o câncer me queimou por dentro, os tiros acabaram comigo por fora.

A voz do Backmaster não falhou, não embargou, seus olhos não se encheram de lágrimas. Ele se agarrou de unhas e dentes numa seriedade até então não explorada.

- Ao mesmo tempo que meu corpo inteiro estava doendo, eu não sentia dor alguma. Não conseguia saber se toda aquela agonia era por estar entrando ou saindo do aqui, do agora... foi então que o silêncio preto me engoliu.

Depois de dizer a última palavra, o Backmaster fechou os olhos e seu peito subiu sem descer, como se prendesse a respiração.

Mas quando o Backmaster abriu os olhos outra vez, toda a tensão e tristeza escorreram pra fora de seu rosto... seus enormes olhos esverdeados se arregalavam por leveza enquanto erguia as sobrancelhas e de lado, os lábios tremiam a ponto de quase sorrir.

Hope and Menace.Onde histórias criam vida. Descubra agora