"Tudo o que eu sou é um homem.
Eu tenho o mundo em minhas mãos.
Eu odeio a praia, mas permaneço em Califórnia com os meus pés na areia"(Sweater Weather - The
Neighbourhood)
Camisas; bermudas; escova de dentes; agasalhos; meias; kimono de karatê; luvas...
-Marco! Você já conferiu essa mala 7 vezes, meu filho! - Era minha mãe entrando no meu quarto e interrompendo meu raciocínio.
- Eu sei, mãe, mas quero me assegurar de que não esqueci de nada. Afinal, estou praticamente me mudando para um colégio interno, em outro estado. - Sempre tive esse senso de organização excessiva e isso deixava minha mãe louca. Deixo meu bloquinho no qual estava minha lista na cama, e coloco a caneta atrás da orelha finalmente fechando minha mala perfeitamente arrumada. Amanhã eu irei para o Colégio Interno Echo Creek Academy no qual eu farei o segundo grau e, segundo minha mãe, ter novas aventuras. Ainda estou tentando entender essa última parte, pois minha vida sempre foi uma coisa monótona. Nunca gostei de me arriscar. Então acho que isso não vai mudar por causa de um colégio interno.
-O Marco já terminou de conferir a mala? - Entra meu pai no quarto vestindo um avental laranja xadrez e luvas de cozinha. Ele era um homem grande e parecia dar medo quem olhasse de fora, mas a verdade é que ele era um bobão e muito carinhoso.
- Sim. Parece que finalmente sim. Acho que ele não está querendo ir embora.
-Nao é verdade! Eu amo vocês, mas estou até ansioso para esse colégio... -Dei o meu melhor sorriso, mas por dentro eu estava com um pouco de medo. Um lugar novo, com pessoas novas e dessa vez eu estarei sozinho. Não dá pra correr pra casa. Eu terei de me virar completamente sozinho.
-Bom, vamos almoçar! Eu fiz bolo de carne! - Já pude sentir o cheiro vindo da cozinha e meu estômago deu um sorriso.
Eu espero que a comida do colégio seja tão boa quanto a do meu pai. Descemos todos juntos para o jantar e eu me senti feliz. Não queria ir embora daquele lugar onde eu me sentia tão bem. Mas era preciso, era um mal necessário. Eu havia recebido uma bolsa de estudos para esse colégio que é um dos melhores e mais conhecidos dos EUA. Então eu tenho é sorte. É uma oportunidade que talvez eu não teria mais. A maioria dos alunos de lá foram aceitos nas melhores universidades, e o meu sonho é me formar em Educação física e me tornar professor de karatê.
- Lembrou de pegar seu kimono e suas faixas? - Perguntou minha mãe.
- Claro! Nunca me esqueceria. Agora eu terei de arranjar tábuas de madeira por lá. - Dou uma risada e eles me acompanham. Olho para o meu pai. Ele foi quem eu mais puxei em aparência: pele morena, cabelos castanhos claros e olhos marrom chocolate. Exceto por uma coisa: uma pequena pinta que eu tenho em baixo do canto do meu olho direito. Isso eu não herdei de ninguém. Já minha mãe tinha pele clara, cabelos castanhos ruivos e ondulados. Eles eram pais incríveis, daqueles que te apoiam em tudo. Vou sentir falta deles. Após o jantar e várias conversas, tirei a mesa pra minha mãe, tomei um banho quente e fui conferir minha mala mais uma vez antes de dormir. Amanhã será um longo dia.
Depois de um café da manhã com direito a panquecas, pequei minha mala e dei uma última olhada no meu quarto. Os pôsteres da boy band que eu amava, Love Sentence; pôsteres do meu maior ídolo de karatê, O Mackie Hands; minha cama com o lençol vermelho desbotado, livros na minha estante. Estou dando adeus à minha zona de conforto para ir até o desconhecido.
- Aqui está sua passagem. - Disse minha mãe me entregando a passagem de ônibus pré comprada.
- Valeu. - Guardei no bolso do meu moletom vermelho.
- Sei que você vai se dar bem. Você já é um homem, hora de eu te liberar.
- O homem aqui promete ligar todo dia. - dou um sorriso e um abraço caloroso. Senti meus olhos lacrimejando e aquele abraço durou mais do que eu esperava. Descemos juntos e me despedi do meu pai com mais abraços e parti.
Peguei um táxi até a rodoviária. Eu estava indo pra Califórnia. Não era tão longe. Poucas horas de viagem. Me sentei em um dos bancos pra esperar dar a hora de eu pegar meu ônibus. Finalmente chega a hora e eu entro no ônibus. Durante a viagem vi Nevada, que foi onde eu vivi durante toda minha vida, ficar para trás. Não demorou muito para aquela estrada desértica com vegetação rasteira se transformar em uma paisagem montanhosa com riachos e lagos cristalinos. Assim como a paisagem, minha vida também iria mudar.
Continua...
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Closet [Tomco]
Hayran KurguMarco Diaz. Sempre preso a zona de conforto, nunca foi de se arriscar. Seja por fazer coisas grandes como pular de paraquedas ou coisas pequenas como jogar um avião de papel em alguém por zueira. Sempre foi o garoto prudência, mas no ano do seu déci...