o caderninho vermelho

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Coisinhas pra levar em consideração antes da história:
Eu escrevi antes de lançar a terceira temporada, então a morte da Mary, a Ka'kwet e Shibert ainda não tinham acontecido;
Na época eu tinha postado no Spirit, ainda tô aprendendo a mexer aqui;
A Anne tinha uns 13/14 quando escreveu isso;
Espero que gostem
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Caderninho vermelho,
      Primeiramente me perdoe por não começar com ¨Querido¨, não quero manter a cordialidade dos diários sendo que esse não é o caso, tu és apenas um caderninho vermelho, assim que Matthew lhe entregou acreditei que nunca o utilizaria, vermelho nem é minha cor preferida, pelo contrário, qualquer coisa que me lembre o infortúnio de ser ruiva me aborrece, mas considerando a minha situação atual, acho que necessito com quem conversar, acredito fielmente que há coisas que são melhores ditas pela literatura.
       Considero melhor começar falando do meu amigo inusual, minha raposa está bem, decidi contar aqui porque ninguém realmente entende como é importante pra mim, essa é a sua tarefa caderninho e me entender e não julgar, enfim, estava passeando onde ficava nosso antigo refúgio e a encontrei, não consigo expressar a minha felicidade, e vendo os pedaços de madeira e argila que restaram tive uma ideia, amanhã depois da aula, Diana, Ruby e eu iremos fazer uma casinha para minha raposa. 
    Quem sabe talvez ta reconstruir nosso reino encantado? Não seria a mesma coisa sem o Cole, mas acho que ele está mais feliz com a tia Josephine, uma coisa que notei desde a partida do Cole foi Billy Andrews, ele está mais quieto e não leva a aquela arma pra escola, Jane Andrews disse que nem fala mais sobre caçar a minha raposa, ela contou que certa vez, quando os meninos se reuniram na casa dele, Charlie Sloane perguntou sobre a raposa e ele mudou de assunto na hora, que me tranquiliza, mas creio que nunca serei capaz de perdoá-lo, na verdade o que ele fez foi imperdoável, toda vez que o penso nisso meu sangue ferve. 
      Voltando ao clube de histórias, agora nossas reuniões são no jardim dos Barry, que é um lugar lindo e agradável, apesar que volta e meia a senhora Barry vem ver o que estamos fazendo, o que preocupa muito Ruby, ela morre de vergonha em mostrar seus contos para outras pessoas, diz que está até mesmo pensando em sair do clube, o que eu definitivamente não entendo, adoro mostrar meus contos para quem quiser ouvir, o tem me custado muito, há alguns dias inventei uma história, uma trágica história de amor, e quando contei para as meninas a reação foi diferente, ao invés de aplaudir e elogiar (não que esse seja o problema, lido muito bem com as críticas), Diana disse a história era um conto sobre mim e Gilbert, algo completamente sem fundamento, já que meu romance sobre uma jovem professora e seu amado médico que morre em um trágico acidente, é totalmente inspirada na Senhorita Stacy e seu marido, e como não sabia sua real profissão, coloquei uma das mais líricas que conheço, medicina, Ruby pareceu me entender e ficou falando com o real Gil é romântico e bondoso,porém depois que ela saiu, Diana disse que não aceitou essa desculpa, o que não faz o menor sentido, acredito que anda lendo romances demais e isso está afetando seu julgamento, Marilla sempre diz que essas fantasias me atrapalham e pela primeira vez concordo com ela. 
   Por falar em Marilla, ela anda estranha, ontem a noite pude jurar que a ouvi gemer de dor, um doloroso e sofrido gemido, que agonizou cada parte do meu ser, porém quando fui ver o havia acontecido ela simplesmente fingiu dormir, sabia que estava fingindo pela vela acesa e a Bíblia jogada na cama, no dia seguinte quando perguntei o que tinha acontecido disse que era impressão minha, que tinha pego no sono enquanto lia, o que com absoluta certeza é mentira, sei que é porque Marilla nunca dormiria tão descuidadamente, e a senhora Lynde já me disse que era pecado dormir enquanto se le as escrituras, Marilla não pecaria assim e muito menos me diria tão tranquilamente, Matthew também anda diferente, mais cuidadoso com a casa e Marilla, às vezes eles se olham e eu sinto que estão escondendo me alguma coisa. Contei isso pra Cole na minha última visita a Charlottetown, ele disse que deviam estar preocupados com as finanças, que pode muito bem ser verdade, as coisas não estão tão brandas desde da febre do ouro.
  Aconteceu uma coisa estranha em Charlottetown, quando eu e Jerry estávamos indo embora eu vi a fachada da delegacia e senti uma vontade de visitar o senhor Dunlop, perguntar como está e saber como tem passado, o que sei que não deveria. Como alguém tão gentil, que escrevia meu nome em tortas e fazia planos de morar em Avonlea, poderia fazer algo tão horrível ? Eu tinha jurado que nunca mais queria vê-lo, então porque essa vontade? Não contei a Jerry, ele não entenderia, o assalto era uma ferida aberta, sempre que alguém tocava no assunto (tarefa geralmente realizada pela senhora Lynde) ele abaixava a cabeça e olhava de um jeito envergonhado.   
     Mas coisas melhores estão por vir, agora que decidi minha vocação, Jerry é minha cobaia, sempre que ele tem um tempo livre eu o ensino alguma coisa e honestamente estou muito orgulhosa do seu progresso, Jerry é realmente inteligente. Diana também tem me ajudado pegando alguns livros de Minnie May, esses pequenos e bobos, confesso que a noite, quando consigo dormir eu mesma os leio, apesar que eles também já me custaram problemas, quando Josie Pye os yiu na escola fez um monte de piadas sobre a minha capacidade e até teve a audácia de perguntar se nos orfanatos nos ensinam a ler ou apenas a cuidar dos piolhos, o que, convenhamos, nem fez sentido, o pior é que toda a classe ouviu, até mesmo o Gil... os meninos, eu não podia falar que era para o Jerry sabia que ele se envergonha de estar aprendendo, então fiquei calada, sentindo meu rosto queimando de raiva. Quando Josie percebeu que não reagia ela partiu pro ataque, pegou o livro da minha mesa e ameaçou rasgá-lo, foi aí que a Senhorita Stacy viu o que estava acontecendo, então deu o mais inspirador discurso sobre respeito e educação, diria que até melhor dos sermões do padre, e pediu que ela escrevesse uma redação sobre o tema, a senhorita Stacy é realmente meu modelo a seguir, no fim das contas deveria agradecer a Josie, a quando contei a minha professora sobre as aulas de Jerry e pedi dicas, ela disse que eu estava fazendo um trabalho excelente e que sentia orgulho de mim, quase desmaiei de alegria, ela até pediu para conhecer Jerry, o que confesso que me assusta um pouco, quer dizer. E se ele der alguma gafe ou dizer algo errado? Ela pode pensar que eu não o ensinei direito e se decepcionar comigo.
 Eu tenho notícias estonteantes, a senhorita Stacy quer preparar um recital para arrecadar fundos para a bandeira da escola, ela não disse ainda para classe, mas me contou depois da aula, depois explico tudo com mais calma, Matthew está me chamando, eu ele e Jerry íamos até a casa dos Blythe para ajudar na mudança de Mary e Sebastian. Depois lhe conto como foi. Fico agradecida que tenha me ouvido até aqui, caderninho
                      

                      Cordialmente, Anne de Green Gables

 

O Caderninho vermelho de Anne Shirley Onde histórias criam vida. Descubra agora