o telhado dos Slone

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Caderninho vermelho, 

     Como um objeto inanimado, sustentado pela minha imaginação, como é passar tanto tempo parado?

     Há duas coisas que precisa saber sobre mim, primeiro, eu sou extremamente impulsiva, e segundo, não nasci para ser equilibrista, e como descobri isso? Na festa de aniversário de Sophie Slone, a irmãzinha de Charlie, fiquei encantada ao ser convidada, afinal não tenho muito contato com Sophie, é uma menina divertida e muito sorridente.

    Acredito que convidou todos do colégio de Avonlea, reconheci a maioria de meus colegas, a senhora Slone deixou escapar que que Charlie fez questão de convidar Diana, o que deixou ambos vermelhos e sem graça.

    Por muito tempo a festa foi deveras divertida, os Slone tinham o próprio toca discos e tocavam músicas animadas e tinha muito sorvete, o quintal era enorme, e os poucos adultos que estavam presentes se reuniram na sala, nos dando mais liberdade no jardim, e possivelmente, liberdade demasiada, a brincadeira da moda eram os desafios, gastaria páginas escrevendo os mais desvairados desafios que eram criados.

     Uma vez Marcus desafiou Moody a trazer o maior sapo que encontrasse para a escola, o resultado como deve imaginar, foi desastroso, rendendo castigos para ambos. Os desafios começaram simples, quem tomava mais sorvete, a melhor pontaria, coisas assim. Sophie Slone desafiou Ruby a subir na árvore que dizem que mora a maior aranha peluda que se tem conhecimento e, surpreendendo a todos, comigo incluso, acredite ela fez, subiu rápido como um raio e desceu ainda mais, como disse eram desafios bobos, até Josie Pye desafiar Jane Andrews atravessar todo o quintal pulando num pé só, sem poder parar para descansar ou trocar de pé, o que era muito injusto dado ao tamanho do terreno e Jane não poderia negar, era uma questão de honra, devo dizer que ela foi muito bem, conseguiu passar da metade, quando perdeu a força e caiu feio, reclamado de dor, foi então que, pela primeira vez na minha existência, vi Billy demonstrar se importar com alguém, ele realmente ficou preocupado com a irmã, enfurecido, disse na frente de todos que Josie era maldosa e detestável.

    Josie apenas olhou incrédula e Billy foi ajudar a irmã a se levantar, que olhava envergonhada para o chão admitindo derrota.

    Ficou decido que Jane poderia desafiar Josie a qualquer coisa, porém o melhor que a minha amiga pensou foi que a Pye atravessasse pela cerca branca, infelizmente algumas pessoas nascem com o dom do equilíbrio e ela, com a maior cara de superioridade, fez como se fosse a coisa mais habitual do mundo, no meio do caminho ela parou, aconteceu alguma coisa quando ela estava lá em cima, sua expressão mudou drasticamente, quando viu Billy, seus olhos pareciam determinados e irritados, ela continou andando até se aproximar de Gilbert, que estava perto da cerca, mais alheio a situação do que deveria, então acredito eu, que para chamar atenção ela fingiu se desequilibrar e claro que ele não tardou em "ajudá-la", Gilbert pegou-a em seu colo e ela colocou os braços em volta de seu pescoço, pareceram que anos passaram até que Gilbert percebesse que todos os olhavam e finalmente colocá-la no chão. Josie ficou muito agradecida, disse que ele tinha salvo sua vida, sendo que daquela altura, o pior que aconteceria seria amassar o vestido, mas ela continuou e até o chamou de herói.

    Não aguentando toda aquela falsidade acabei dizendo que era muito drama apenas para cruzar uma cerca, que qualquer um faria isso, que uma vez li sobre uma menina que atravessava telhados como se flutuasse, é claro que falei apenas para Diana, mas pela comoção talvez tenha dito alto demais, Josie ouviu e disse que era uma mentirosa, que ninguém consegue atravessar telhados, eu pelo menos não conseguia, então ela me desafiou a atravessar a viga mestre da cozinha dos Slone. 

   Eu sei que foi insensatez, realmente sei, mas o que poderia fazer? Deixar Josie Pye com aquele sorriso debochado me chamando de covarde e mentirosa? Era uma questão de honra. Então subi as escadas que estavam encostadas no telhado, não vou dizer que não fui alertada, todas as meninas disseram que era um desafio absurdo, e ouvi várias súplicas que baixasse, mas no momento a única coisa que pensava era em demonstrar que Josie estava errada, dizem que quando se está em um lugar alto, não é bom olhar para o chão, faz tudo parecer maior, então quando cheguei lá em cima, me esforcei para não olhar para Josie, nem para Diana ou Gilbert, respirei fundo e mirei em minha linha de chegada.

O Caderninho vermelho de Anne Shirley Onde histórias criam vida. Descubra agora