Adeus Caderninho

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Caderninho vermelho,
 
     Primeiramente me perdoe por não começar com ¨Querido¨, não quero manter a cordialidade dos diários sendo que esse não é o caso, tu és apenas um caderninho vermelho…
...assim que Matthew lhe entregou acreditei que nunca o utilizaria, vermelho nem é minha cor preferida, pelo contrário, qualquer coisa que me lembre o infortúnio de ser ruiva me aborrece…

...mas coisas melhores estão por vir, agora que decidi minha vocação...
...honestamente estou muito orgulhosa do seu progresso, Jerry é realmente inteligente...

...Mary e Sebastian eram o que eu verdadeiramente chamaria de ¨Parceiro de vida¨, dois iguais partilhando um laço de amor...

...assim começou a guerra, a tinta voava para todos os lados, se os móveis não estivessem cobertos estariam mais amarelos que um campo de dentes-de-leão...

...ele sorriu, o típico sorriso Blythe e disse que estava tudo bem…
...Diana abraçou Ruby de lado e ela com o outro braço me puxou para perto também, nos desculpamos umas com as outras, me senti grata pelas minhas amigas...

...Cole apareceu e deitou do meu lado, não se importando em sujar as roupas caras, não disse nada, apenas ficou do meu lado, esteve lá o tempo todo...
...isso não resolveu muito o meu problema, mas é tão bom saber que sempre teria Diana...

...ela disse que não, que não se arrependia nem por um minuto, que não imagina mais Green Gables sem a minha presença, acho que pela primeira vez não reclamei da falta de imaginação de Marília…

....Para Matthew, a primeira pessoa a ser gentil comigo, meu primeiro amigo, meu espírito afim, meu pai



- Meu amor? - Anne sentiu voltar a sua realidade quando ouviu a voz de seu marido chamando-a no corredor.

- Aqui no sótão! - Gritou de volta, encarando o lugar onde estava, um quarto grande e espaçoso com uma enorme janela responsável pela luz solar do local, móveis velhos protegidos por um lenço branco empoeirado, um espelho antigo com pequenas manchas azuis em volta, e alguns baús abertos e remexidos, onde em um deles estava o velho caderninho vermelho que Anne segurava em suas mãos.
Ela olhou para o espelho, tendo sua própria imagem refletida nele, já era uma mulher adulta, diferente da garotinha que tinha escrito naquele caderninho, isso se evidenciava em suas roupas e adornos, em sua postura, as pequenas marcas de cansaço no seu rosto, mostrando por tudo que passou, e no meio tudo isso haviam seus cabelos, esses nunca mudaram, fios ruivos, fortes, quase com vida própria, que aos poucos escapavam do grande coque, eles que a incomodavam tanto quando era criança, mas Anne aprendeu a amá-los, tinha motivo para isso. 
    
     Ela segurou com força o caderninho, reler aquelas palavras eram um misto de constrangimento e nostalgia, como se fosse capaz de voltar no tempo, e por um minuto, ela se sentiu em Green Gables de novo, como se o tempo não tivesse passado.

- O que está fazendo, querida? - Perguntou seu marido parado na soleira da porta.

- Nan e Di queriam o jogo de chá, mas… - Por exatamente um terço de um segundo, ela considerou não mostrar o caderninho, se sentiu envergonhada, com medo que a achasse uma tola, mas só por um segundo, foi olhar para ele, parado na soleira, com os braços levemente cruzados, sorrindo para ela, que esse medo passou. - Olha o que achei. - Anne lhe mostrou o caderninho em suas mãos. 

- Um livro? - Perguntou ele arqueando a sobrancelha, como fazia sempre que estava confuso.

- Quase, é o meu caderninho vermelho. - Disse sorrindo acanhada. - Matthew me deu quando era criança, eu… - Ela suspirou. - Eu parei de escrever, quando ele morreu. - Seu sorriso ficou pequeno, como toda vez em que falava dele, um sorriso triste e carinhoso. - Não acredito que Marilla o guardou por todos esses anos. - Ela disse um pouco mais alegre, sentido seu marido a abraçando por trás, trazendo a sensação de conforto, os dois ficaram quietos, apenas olhando para o caderninho.

O Caderninho vermelho de Anne Shirley Onde histórias criam vida. Descubra agora