Capítulo 11 - Plano "B"

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"Na vida é necessário contar com imprevistos, caso contrário, as surpresas podem ser fatais."


   Burty sequer esperou pelo próximo comentário, antes de sair da sala em direção aos fundos do templo. De uma só vez, o caçador atravessou o pátio e escorou as mãos sobre um murinho de meia altura que marcava a extremidade do local, a fim de observar toda paisagem ao redor. Devido à alta localização do monte, a vista se tornava privilegiada, contendo um complexo de montanhas, riachos e árvores de todas as espécies. Era um lugar que poderia facilmente ser chamado de mágico, servindo de refúgio para Hérion por longos anos.

   Não demorou até que Burty recordasse os últimos momentos, percebendo que uma coisa jamais sairia de sua cabeça e certamente o acompanharia pelo resto da vida: o pedido que Suzan o fez, enquanto lutava para protegê-lo em seus braços.

  — Eu não te odeio mãe... não mesmo! – Sussurrou ao vento, na esperança de que ela pudesse ouvi-lo de algum lugar.

   Ivy o fitava de longe, ainda indecisa se dava algum espaço para Hérion respirar, ou se tentava apoiá-lo no que obviamente estava sendo um momento difícil. Optou pela segunda opção e aproximou-se lentamente, ainda sem jeito, mas da melhor forma que podia.

  — Sinto muito por tudo o que aconteceu com seus pais. Eu sei que descobrir como eles partiram foi difícil para você, ainda mais do jeito que foi. Se eu puder ajudar de alguma forma, conte comigo!

   — Obrigado. Até que você não é sempre tão irritante como eu havia imaginado...

   — Aproveita que isso dura pouco! – Respondeu a menina com um sorriso. – Mas, espero que saiba que não precisa bancar o durão sempre, você é um ser humano! Acho que deveria sentir o que tiver para sentir.

   — No momento, a única coisa que eu quero é encontrar Hérberus! Ele tem toda a minha atenção e quando chegar a hora... vou despejar tudo isso que estou sentindo em cima daquele desgraçado!

   Antes que Ivy pudesse dizer qualquer coisa, Anameor apareceu, cortando o pátio a passos largos na companhia de Ítalo e Miguel.

   — Sei que está processando muita coisa Burty, mas não podemos perder tempo! — Observou o Ancião. — Já que não sabemos a localização de Daise, vamos recorrer ao plano B. Existe outra maneira de igualar forças contra Hérberus, mas não é nem um pouco simples! Na verdade, é extremamente irresponsável e perigosa.

  — Do que está falando velho? — Questionou Hérion. — Que maneira seria essa?

  — O Cetro de todos os magos! É um objeto místico muito poderoso que passou pelas mãos dos magos mais fortes de todas as eras. Ele desequilibrava qualquer batalha e seu portador normalmente era agraciado com a vitória. Por isso, decidiram dividi-lo em duas partes e depois as esconderam em lugares diferentes, sobre uma rigorosa proteção! Independente do motivo, é extremamente proibido pegá-las!

  — Se é proibido, não deveríamos mexer com isso! – Aconselhou Ítalo. — Já temos problemas demais, não acham?

  — Não temos tanta escolha como acha que temos. – Contestou Anameor. — Unindo as duas metades do Cetro, Hérion terá poder suficiente para enfrentar Hérberus! Mas devo avisar uma coisa... no momento em que pegarmos o objeto, todos os magos colocarão um alvo em nossas costas.

   Miguel não fazia questão de esconder seu nervosismo, andando em círculos e esfregando as mãos uma na outra, enquanto pensava se valia mais a pena continuar ali ou enfrentar seus próprios problemas pessoais em Serena Lúmia.

  — Não é perfeito, mas é a nossa melhor saída! — Continuou Anameor. — Imaginem só o que acontece se Hérberus conseguir absorver energia vital novamente. Chegará um momento em que até mesmo o Cetro se tornará irrelevante. Não temos escolha! O máximo que podemos fazer é devolvê-lo assim que tudo acabar, torcendo para que o conselho entenda nossos motivos e nos deixem em paz.

  — Simples assim! Roubamos o Cetro e depois voltamos na cara de pau para devolver e pedir desculpas? Vai dar certo! - Ironizou Ivy. – Todos vão entender.

  — Nossas opções são: procurar por Daise que pode estar em qualquer lugar do mundo, ou pegar as duas metades do Cetro, cuja localização eu já conheço!

   Hérion estava em silêncio absoluto, refletindo sobre cada possibilidade e os riscos que elas implicariam. Após pensar o suficiente, o caçador enfim chegou a sua conclusão:

  — Vamos pegá-lo! Depois que terminarmos com Hérberus comparecemos no conselho. E se os magos não gostarem, ou quiserem arrumar algum problema, vão se entender comigo!

  — Não acha que está se superestimando Hérion? – Questionou Ítalo. — Estamos falando não só do conselho, mas de todos os magos.

  — Sinceramente eu não me importo. Depois que eu vingar meus pais, tanto faz o que vai acontecer comigo! Além disso, se o Cetro for tão poderoso como Anameor diz, então é melhor eles pegarem de volta sem confusão, pois não hesitarei em usá-lo.

  — Então está decidido! – Confirmou o velho. — Sugiro que se organizem para uma longa e perigosa caçada.

  — Ótimo! Vou deixá-los por um tempo e ir buscar meus equipamentos. Volto daqui algumas horas. — Disse Hérion dando as costas para o grupo, em direção a sua Harley Davidson.

  — E quanto a mim? E o Miguel? — Questionou Ivy, sem saber se acompanhava Burty ou ficava no templo com os outros.

 — Esperem aqui, ou vão embora. Já ajudaram o bastante! Responderam nossas perguntas e agora estão livres. Esse foi o trato, lembra?

 — Isso foi antes de eu saber que minha irmã está sendo caçada por um mago das trevas! — Gritou a menina. — Não vou embora, você querendo ou não!

   Hérion não respondeu, apenas continuou andando até desaparecer da vista de Ivy. Mais do que nunca, a garota sentia-se na obrigação de ajudar a equipe e tinha certeza de que Miguel a acompanharia nessa jornada. Por sua vez, Anameor voltou-se para Ítalo, com um pedido inusitado.

  — Siga o nosso caçador, mas não deixe que ele perceba. Precisamos garantir que ele vai voltar sem fazer nenhuma loucura. Burty é uma caixinha de surpresas e não duvido que ele tente enfrentar Hérberus sozinho! De certa forma, estamos nas mãos dele e de Daise, seja lá onde ela estiver.

  — Serei discreto, contudo, deveria confiar mais na sua equipe. Ele pode ser um cabeça dura, mas é um homem de palavra, como poucos por aí.

   O mensageiro retirou-se do pátio atrás de Burty, enquanto Anameor levou os adolescentes para o interior do templo. Lá puderam encontrar Charles, o monge guia, para lhes servir uma boa e farta refeição.

Hérion Burty - O caçador de LendasOnde histórias criam vida. Descubra agora