Capítulo 06 - Uma faísca de esperança

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" O fracasso não nos impede de continuar tentando... Perante a realização dos objetivos, ele desaparece, nos servindo apenas de aprendizado."  


  O campo de batalha agora estava em silêncio, não havia ninguém, além do caçador arrastando seu amigo pelo corredor vazio e repleto de cinzas. A situação de Ítalo era grave, pois a cada passo dado por Hérion, o arauto perdia uma quantidade considerável de sangue. Burty sabia que se não fizesse algo urgente, seu companheiro iria partir... Um amontoado de lembranças passava por sua cabeça, especialmente as dos treinamentos que fazia com Ítalo no templo do monges Lumianos, quando ainda eram adolescentes. Certa vez, o mensageiro acabou eletrocutado Anameor, quando tentava atingir Hérion em um combate de aprimoramento das habilidades. Os dois cessaram a luta e quando perceberam que o velho estava bem, caíram em longas gargalhadas pelo resto do dia.

  Hérion e Ítalo cresceram juntos, desde pequenos vivenciaram histórias e aventuras indescritíveis, o que só aumentava ainda mais a pressão sobre o caçador. Com certa dificuldade, Burty conseguiu carregar o arauto até um salão espaçoso, com quatro colunas simetricamente distribuídas e três gaiolas de ferro maciço, penduradas do lado direito a pelo menos três metros do chão. Cada uma das estruturas continha cerca de dez adolescentes, espremidos uns contra os outros, incapazes de escapar por conta própria. Assim que avistaram os dois amigos, cochichos e falações desenfreadas surgiram entre si... "Será que estão aqui para ajudar?"... "Olha só o estado daquele cara!"... "Não estou gostando nada disso!".

  Com cuidado, Hérion apoiou as costas de Ítalo contra a parede, sentando-o no chão. Colocou os dedos no pescoço do amigo e mediu seus batimentos, estavam fracos... O suficiente para fazer com que uma gota de suor deslizasse pelo rosto do caçador.

- O que aconteceu? Ele está morto? - Perguntou um dos prisioneiros - Parece morto!

- Está quase! - Disse Burty olhando por cima dos ombros para uma das gaiolas. Notou tratar-se de um rapaz com olhos cor de mel, lábios grandes e rosados, pele negra e cabelos de altura mediana, tombados para esquerda e aparados nas laterais - Mas eu vou salvá-lo.

- Espero que sim... Poderia nos salvar também? É só puxar aquela alavanca vermelha na parede e tudo se resolve. É bem simples!

- Olha garoto, eu vou ajudar - Confirmou o caçador - Mas agora preciso me concentrar no meu amigo, então fica quietinho aí para eu poder pensar.

- Tudo bem... Não está mais aqui quem falou. Concentre-se no seu amigo. Só tente ser rápido, a qualquer momento pode chegar mais gente e aí a coisa complica. A propósito, meu nome é Miguel.

  Hérion encarou o garoto de tal maneira que ele mesmo fez um sinal com os dedos, como se estivesse fechando os lábios com um zíper. O silêncio ajudou Burty a pensar, correndo os olhos pelo salão na tentativa de encontrar qualquer coisa que pudesse ser útil, mas o local era deserto, sem mobília ou objetos, a não ser pelos que o caçador já tinha observado.

- Vamos Hérion, vamos! - Incentivou a si mesmo, em baixo tom.

  As mãos de Burty tremiam como nunca, ao passo em que um pequeno aperto tomou conta de seu peito. Não poderia ser o fim, tinha que ter alguma coisa que pudesse ser feita, algo para usar... Uma calha, bem acima de Ítalo, presa na parede. Hérion a puxou sem pensar duas vezes, deparando-se com uma diversidade de dutos e cabos elétricos.

- É isso! - Vibrou euforicamente - Vai servir!

  O caçador meteu a mão no meio das gambiarras e puxou o cabo elétrico de maior espessura que pode encontrar, partindo-o em dois com um pequeno disparo da Chelly. Depois, esticou as duas pontas até o Arauto.

Hérion Burty - O caçador de LendasOnde histórias criam vida. Descubra agora