Utopia ( HIATUS)

Capítulo 1 | Você ainda pergunta?

You could be my luck
( Você pode ser minha sorte)
Even if the sky is falling down
( Mesmo se o céu estiver caindo)
I know that we'll be safe and sound
(Sei que estaremos sãos e salvos)
Capital Cities.

Ben

Já faz 30 minutos que eu tô ouvindo a voz da Yara e só consigo pensar no que acabou de acontecer. Preciso dar um jeito de falar com ela. De lembrar dela.

- Yara, sabe aquele enjôo? Ele voltou. — Digo. Mentir era a melhor opção agora.

- Se eu não te conhecesse eu até acreditaria.

Droga. Eu preciso sair daqui.

- Mas eu também sei que você gostou da garota e vai sair querer antes pra não perder ela de vista...não é? — Diz ela, encostando a boca em sua xícara.

Yara sempre me conhecia tão bem. Ela me acompanha desde o meu diagnóstico de Alzheimer, aos 10 anos, o que é algo bem raro para alguém da minha idade - pelo menos, é o que todos me falavam. Mas de todo jeito, eu tenho que viver com isso. Yara levanta sua xícara em direção a porta, me liberando.

- Yara, você é meu anjo! — grito do corredor, já saindo para a varanda da frente.

Pego meu celular e ligo para Camille, minha melhor amiga e a menina mais otimista que eu conheço. Mille é uma das pessoas mais incríveis que eu conheço só pelo fato de nunca desistir de mim. Ela me lembra todos os dias de quem eu sou e de quem eu fui ontem. Literalmente.

- Ben, você pode ter parado de estudar mas eu ainda tenho faculdade, sabe? — A voz doce de Mille ecoa pelo celular.

- Mille, eu preciso da sua ajuda. — Digo, saindo para o lado de fora da clínica. Explico a Mille e espero sua resposta depois de longos segundos.

- Credo. Nunca imaginei que você ia precisar falar comigo sobre precisar conhecer uma menina. Deve ser tesão. — Diz ela, em um tom birrento. 

- Camille, foco pelo amor de Deus. — Ela ri, do outro lado da linha.

- Claro que eu te ajudo,Ben. Conta logo.

- Eu preciso que você me conte amanhã, tudo o que eu te falar hoje. Odeio te pedir isso mas você sabe que eu não pediria se realmente não quisesse.

- Você sabe que não me incomoda,Ben. Mas e aí, você vai chamar ela pra sua casa? — Mille ri maliciosamente.

- Claro que não, Camille. —Rio.— Pelo menos, por enquanto.

- Safad... — desligo na cara de Mille ao ver Íris dando tchau para Tia Anna, que estava sentada na cadeira da recepção. Ela vem em minha direção com um sorriso torto e um olhar...violeta.

- Aposto que você deve tá se perguntando se é lente ou não. — Diz Íris, se referindo aos olhos.

- Tava encarando tanto assim? — Ela ri. — Mas é lente..né?

- Um pouco mas não tem problema, o que é lindo é contemplado.

  hm.

- Só tô brincando. — Ela ri, fazendo um coque em seu cabelo cacheado — E não, não é lente.— Ela diz, apontando para os olhos.

Isso existe?

Íris

- Calma, sério? — Ele se aproxima, fixando seus olhos nos meus. — A única pessoa que já vi é a atriz, Elizabeth..

- Taylor? — Ele assente.— Fã de clássicos? —pergunto.

- Não, minha amiga é muito fã dela e me lembr...,— Ben engole em seco e volta a falar. — fala todos os dias sobre ela.

Ele se desaproxima ao perceber que nossos corpos estão praticamente colados. Poxa.

- Sei que seus olhos são raros mas eles aguentariam os meus simples, por uma noite? — Ele pergunta, em um tom sugestivo.

Drama. Seus olhos eram lindos e me lembravam os do meu pai. Levemente esticados e em um tom âmbar.

- Depende de aonde vai me levar.

- Aonde você quiser. — Ele me fala brincando, mas em um tom malicioso. Ele tava entrando na brincadeira e vou admitir, eu também. Não podia perder um gostoso de San Diego.

- Se for assim, nem penso duas vezes. — Rebato também em um tom brincalhão. E um pouco verdadeiro.

- Era brincadeira. — Ele me olha, mordendo a parte superior de seu lábio.

Toda brincadeira tem um pingo de verdade. Rio do meu pensamento.

Um silêncio se instala entre nós. Felizmente, ele retoma a conversa.

- Bom..Íris? — Assinto, rindo. — Vai ter um festival de música em Ocean Beach. E aí, você curte a noite ou prefere a manhã?

Nem sabia onde ficava Ocean Beach e as chances da minha mãe não deixar eu ir eram todas possíveis. Mas foda-se, eu dou um jeito. Eu preciso disso.

- Você ainda pergunta? — Digo, Ele instantaneamente, exibe um sorriso gigante. E Deus, que sorriso. — Pertenço a noite.

- Passo as 20:00? — Olho para meu relógio e vejo que já vai dar 19:00. Mas já? Espero que minha mãe ainda esteja dormindo. Ela anda tomando remédios para tireoide que causam muito sono.

- Tranquilo.

Passo meu endereço a ele, o que parecia um pouco arriscado por ter acabado de o conhecer mas por incrível que parece me sentir sã e finalmente, salva dessa vida monótona.

Vejo ele e a mulher que o acompanhava, que já estava esperando na cadeira desde as 18:30, me dando tchau. Vejo o carro partir e corro pelas longas ruas de San Diego, com intuito de chegar rápido para poder me arrumar. Isso vai ser interessante.

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Muito obrigada por ler!

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Com carinho,
Bella.