Capítulo 9 | Nós vamos dar conta

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"Worring is like paying
Se preocupar é como;

a debt you don't owe."
pagar uma dívida que você não deve.

- Mark Twain.

Mille

Hospital Jeers,
00:50.

Por mais que eu faça pediatria, nunca gostei muito de ambientes hospitalares. O cheiro de ar condicionado e equipamentos sempre me causam calafrios. Estou a caminho para um deles, o mais perto do centro, depois de uma chamada de Lucca. Espero que esteja tudo bem. Tem que estar.

Pra piorar, estou a caminho do hospital, onde acharam o corpo de Amanda, mãe de Ben. Amanda foi encontrada nas férias de 2015 em um dos leitos do hospital com constrições em volta do pescoço, ou seja, sinais de estrangulamento. Humpf. Essa palavra me causa um certo remorso.

Estaciono o carro na garagem lateral e encaro o edifício. Não pisamos nesse hospital desde a morte de Amanda. Respiro fundo, fecho os olhos e tento ignorar o medo invade meu peito.

Tranco o carro e caminho pelo estacionamento escuro até a frente do hospital. O barulho de atrito do meu salto com o chão me causa uma certa sensação de deja vú.

Adentro a parte inferior do hospital e avisto Anna e Lucca no corredor. As paredes tinham cores pasteis de rosa e azul, o que realmente acalmava.

- Ben? — Pergunto, me aproximando deles.

- Na Ala Emergencial. Ele vai operar. — Ela responde, mordendo os lábios inferiores para possivelmente, não soltar nenhuma lágrima. Anna não demonstra, mas creio que é a que mais sofre com isso. Sento na cadeira ao seu lado e apoio minha mão em seu ombro.

- Eles explicaram alguma coisa?

- Não. Ben já estava passando mal e acabaram o levando.

- Vamos esperar. Ok? — A abraço de lado e me ajeito no banco extremamente desconfortável do hospital. Lucca está com o rosto fixado em alguma coisa e sua boca está rígida. Lanço um olhar confuso e ele me devolve um mais ainda.

***

Depois de um tempo de espera, Mathias chega e  uma moça ruiva e de estatura alta nos chama pelo ticket. Abraço Mathias e entro com Anna, os deixando sozinhos.

Adentramos em uma das várias salas do hospital e nos sentamos nas cadeiras vermelhas a nossa frente. O som da impressora pairava e a ansiedade fazia meu pé se mover de dois em dois segundos.

- Prazer, sou a Dr. Louise. — Ela estende sua mão em um comprimento e depois tira algumas folhas da impressora. Ela abre uma pasta e nos mostra um exame. — Não conheço o caso de Ben mas tive acesso aos seus exames antigos. Podemos ver que existe uma alta porcentagem de degeneração das células nervosas, o que aumenta a perda de funções cognitivas. Nos vamos o operar em função de ter uma estimulação cerebral rápida, como correntes elétricas para o funcionamento melhor das células que restaram.

Anna me olha totalmente confusa com tudo que acabou de ouvir enquanto Louise nos explica melhor sobre o procedimento. Ela nos passa um papel cheio de remédios, calmantes e antidepressivos.

- Lembrando que reações como a de hoje podem ser mais comuns. Cada pessoa reage de uma forma. Nesses primeiros momentos ele vai lembrar de si mesmo e de coisas que gosta mas talvez se sinta confuso em relação a si mesmo, por isso o cuidado redobrado em relação a agressão e o estresse. Em relação a lembrar de vocês, como eu disse, cada pessoa reage de uma forma.

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