O destino dita as regras III - Além da vida

29. REENCONTRO

Longe dali, Ventania sofria nas mãos de seu suposto dono. O cavalo era torturado e agredido diariamente para ficar ainda mais arredio, o homem usava ele em rodeios clandestinos, onde ocorriam apostas para ver quem aguentava mais tempo em cima dele. Tudo ocorria às escondidas, ele possuía nova documentação falsa e ninguém desconfiava que se tratava de Ventania, afinal como um campeão de três tambores que dava aquele show na arena poderia ser tão arisco e indomável.

Jhenny já havia perdido as esperanças, os primeiros potros das éguas inseminadas no haras quando Cristiano ainda estava em coma, começaram a nascer. Empolgados, eles ocupavam a mente esquecendo um pouco a situação e se dedicavam aos novos animais. Os dois viviam felizes, se encaixavam perfeitamente nas diferenças um do outro e pareciam mais conectados do que nunca após se mudarem. Jhenny se aventurava na cozinha para agradá-lo, e ele fazia o mesmo às vezes, e na grande maioria das vezes não dava certo, mas ao menos eles se divertiam.

JP ia todo final de semana ao haras avaliar os animais, fazia parte de suas novas funções, assim todos acabavam indo também, inclusive Manuela. O fim do relacionamento de Manuela e Felipe deixou Vanessa em desespero, e a presença dela gerava certo desconforto pois JP perdia a noiva mas não perdia a piada.

Pé de pano era o mais novo xodó do haras, principalmente de Cristiano, o cavalo se recuperou, não era dos mais bonitos mas sua docilidade encantava a todos. Com frequência as famílias se reuniam no haras e qualquer um podia montar no animal, de tão desinibido que era ele vivia livre e entrava até mesmo dentro de casa.

Enquanto Pé de pano usufruía da sorte de tê-los encontrado, Ventania passava por maus bocados, sempre acuado e nervoso, ele era a razão da fortuna daquele maldito homem. Chateado com a forma que o cavalo era tratado, o caseiro do sítio resolveu tomar uma atitude.

- Eu vou tirar você daqui rapaz, mas você vai ter que confiar em mim!

O caseiro tentou tocá-lo sem sucesso, Ventania tinha pavor principalmente de homens. O velho homem tomou então uma medida drástica, ao anoitecer durante a madrugada montado em outro cavalo, o caseiro levou Ventania para longe, soltando-o no mato.

- Fuja para longe! Se voltar para o sítio você volta para o inferno, alguém vai te achar e cuidar de você! - O caseiro se emocionou ao soltar Ventania, ele era um homem de bom coração e não suportava as atrocidades que via, e tão pouco fazia ideia da procedência do cavalo.

Na manhã seguinte ouviam-se gritos por toda a parte no sítio.

- Meu cavalo, onde está o meu cavalo? Roberval venha já aqui!

- Chamou senhor? - O caseiro se aproximou nervoso.

- Onde está o Sadan??? - O homem rosnava.

- Não sei não senhor, ontem a noite ele estava aí!

- A baia estava aberta seu idiota! Ele deve ter fugido, é sua obrigação cuidar para que isso não aconteça! Vá procurar ele imediatamente e não volte sem ele!

- Sim, senhor...

- Escute bem, se esse cavalo não aparecer, você sofrerá as consequências!

- Irei agora mesmo, senhor!

Nervoso o caseiro entrou mato a dentro fingindo procurar o cavalo, retornando mais tarde.

- Sinto muito, senhor, não encontrei o cavalo.

- Se vira!!! - O homem gritava alucinado. - Vira a noite se for preciso, ou ele aparece hoje, ou amanhã mesmo você e sua família saem daqui!!!

O caseiro se desesperou, ele morava lá com a esposa e duas filhas, sendo uma delas especial, ele dependia daquele emprego e daquela moradia. Sabendo que não teria o que fazer, ele foi conversar com a esposa.