8. UM ANJO

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Na segunda semana de janeiro, Danielly recebeu o laudo do exame de amniocentese. Ela abriu o documento com as mãos trêmulas e o resultado foi motivo de grande alegria, não constavam alterações, o bebê não tinha nada mais com que eles devessem se preocupar, porém algo surpreendeu a todos, não era um menino e sim uma menina.

Essa última parte pouco importou diante da imensa alegria que a notícia trouxe, a partir dali passaram a chamar o bebê que antes era Bernardo de Sofia, e tudo que eles já haviam comprado de menino seria doado. Porém Danielly não estava confortável, algo em seu peito dizia que aquilo não estava certo.

Ela pegou o ultrassom que indicava o sexo do bebê, revisou e mostrou para todos, parecia mesmo ser um menino, então eles resolveram realizar um ultrassom 3D para confirmar.

Deu-se início a um caos, outras alterações foram identificadas no bebê, a morfologia cardíaca apresentava alterações importantes, os cistos na região do cérebro tinha aspectos volumosos e notaram que as mãos do bebê possuíam os dedinhos sobrepostos. Quanto ao sexo, o médico explicou que a hérnia poderia prejudicar o processo de desenvolvimento normal do órgão genital dos fetos que sofriam dessa condição, o que justificaria o engano.

Danielly não suportava mais, a cada exame era uma notícia ruim, ela sentia que não teria mais forças. Rafael tentava se manter firme para dar a força que ela precisava, mas ele também já estava no limite.

Por vezes ele se afastava para chorar sozinho, para tentar aliviar a dor e voltar o mais forte possível para perto de Dani. Os médicos diziam que as alterações morfológicas do bebê eram muito características das presentes em uma síndrome chamada Síndrome de Edwards, ou trissomia 18.

Diante da suposição do médico, Danielly resolveu pesquisar encontrando relatos tristes na internet, a maioria de mortes, era conhecida como síndrome da morte, uma síndrome rara considerada não compatível com a vida. O mundo dela desabou, Rafael tentava acalmá-la lembrando que no laudo da biópsia não constava nada e foi aí que o pesadelo começou.

Os dois retornaram para a consulta de acompanhamento com o resultado dos exames, e de antemão notaram a presença de uma mulher bastante alterada e nervosa.

-Está errado, isso está errado, meu bebê era menina e não havia suspeita de síndrome, fizemos esse exame por outro motivo! - A mulher dizia para a médica.

Rafael e Danielly ouviram aquilo sentido um frio se espalhar pela espinha, não foi difícil deduzir o que teria acontecido. Não demorou muito e uma enfermeira apareceu parecendo nervosa e chamou por Danielly que foi conduzida para a sala onde estava a mulher que estava fazendo um escândalo. Sem entender nada, Danielly observava a discussão quando o que a médica disse tirou seu chão.

- Eu sinto muito, Danielly, ocorreu um erro gravíssimo por parte do laboratório e o laudo do exame de vocês duas aparentemente foi trocado. Não sabemos se ocorreu durante o envio do material, pois ambas fizeram no mesmo dia, ou...

Danielly cortou a médica.

- Impossível doutora, assim que finalizaram a coleta eu mesma levei o material para o laboratório, eu entreguei pessoalmente para eles, não houve troca!

- Então a troca ocorreu no próprio laboratório.

Danielly puxou da memória e se lembrou que aquela mesma moça realmente estava presente no dia da coleta e as duas conversaram brevemente, a moça não sabia para onde levaria o exame, foi quando Dani contou que deixaria no respectivo laboratório, e essa moça também chegou nesse mesmo laboratório levando o material dela, um pouco depois que Dani havia deixado o seu.

- Meu Deus, isso não pode ser, não pode... Não pode ser...

Danielly se desesperou e gritava enquanto a médica tentava acalmá-la, mas seus ouvidos pareciam estar tampados, ela não ouvia mais nada e nem ninguém ao seu redor, apenas se sentou na cadeira com as mãos na cabeça enquanto gritava e chorava em desespero. Ao ouvir os gritos dela, Rafael invadiu a sala preocupado.

O destino dita as regras III - Além da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora