Capítulo 16 | Sacrifício da torre branca

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A semana foi difícil para todos na mansão. Os empregados se esgueiravam pelos cantos em silêncio, até mesmo os sons habituais estavam mais brandos.

Nicholas entregou-se a uma rotina frenética, que o colocava em movimento constante, sem descanso. Comparecia a todas as visitas à UTI e tentava entrar em contato com o hospital também na hora do almoço, como se algo desastroso pudesse acontecer a qualquer instante. E, de fato, poderia. Durante o dia, no escritório, lutava bravamente para manter-se firme e, apesar da licença, Alexander não conseguiu mantê-lo em casa por muito tempo. Em pânico velado, disse ao namorado que enlouqueceria se passasse um segundo a mais parado, sem fazer nada para estar com o pai. A casa vazia fazia mal a ele, embora tentasse não demonstrar. À noite, largado na cama ao seu lado, procurava seu abraço, na maioria das vezes em pranto sentido e sofrido.

Por sua vez, Alexander lidava com sua própria dor e preocupação, quando, ao entrar sozinho na sala de jogos, se obrigava a continuar treinando como sempre, estudando tudo o que o mestre planejara. Afinal, Navarre estaria bem para o campeonato mundial e, agora, havia ainda mais motivos para conquistar aquele título. Ainda assim, apesar do foco e do esforço para esconder a preocupação, fazia questão de estar em todas as visitas ao hospital, ao lado do companheiro, por ambos: Nicholas e Navarre.

E foi nesse espírito que deixaram o hospital naquele sábado, mais de uma semana depois da internação, para voltarem à mansão. Queria chamá-lo para almoçar fora, sair um pouco da rotina opressora. Não sabia como. Nicholas havia entrelaçado os próprios dedos no dele, sem perceber, o olhar distante como se estivesse pensando em algo muito importante.

‒ Avisei ao Humberto e à Virgínia sobre Navarre ‒ comentou, em mera desculpa para puxar assunto. Olhos cinzas o fitaram com uma ponta de incompreensão. ‒ Eu falei com você antes, certo? Não me lembro...

‒ Sim, querido. Você conversou comigo. Está tudo bem ‒ afirmou com um meio sorriso, tranquilo, enquanto acariciava a mão do rapaz com o polegar. ‒ Eu preciso ligar para tia Noelle e falar com ela. Estou adiando o inevitável.

‒ Por quê?

Nicholas pensou por um momento, enquanto abria a porta do carona para Alexander e dava a volta para entrar pelo lado do motorista.

‒ Porque não sei como contar. Porque sei que ela vai voar para cá assim que conseguir uma passagem. Mas, principalmente, estou evitando esse telefonema porque sei que, assim que eu contar para ela, tudo se tornará realidade, de fato.

‒ Você tem razão: é inevitável, Nick ‒ concordou em tom brando, porém com um olhar de repreensão. ‒ Pense que, se ela ligar primeiro e souber por outras pessoas o que aconteceu com seu pai, vai ficar muito brava contigo.

‒ Muito brava? ‒ Ele riu e acionou o carro. ‒ Ela vai fazer meu pai me deserdar, isso sim!

Ambos riram. Fazia tempo que não riam juntos e foi bom, para ambos. Ter Alexander ao seu lado, apoiando seus passos naquele momento tenso, era como um presente e o rapaz nunca saberia o quão grato estava por tê-lo em sua vida, por estarem juntos de verdade. Muitas vezes, era isso o que mantinha a mente de Nicholas coesa, seus pensamentos focados. Um dia, depois que tudo aquilo estivesse resolvido e seu pai estivesse bem novamente, contaria todos esses pensamentos ao companheiro. Por hora, guardaria para si. Não queria mais esse fardo sobre os ombros dele, quando já era pesado o suficiente passarem por aquilo juntos.

‒ Sabe? Eu estava pensando que... ‒ contudo, antes que o rapaz concluísse seu raciocínio, o celular recém-comprado tocou, alto o suficiente para ambos ouvirem.

Agora, nenhum dos dois andava sem o inconveniente e pesado aparelho e até Nicholas deixava o seu no volume máximo. Seria do hospital? E por que ligariam para Alexander? Verificou o seu aparelho só para confirmar que não havia chamada perdida. Os segundos antes de o rapaz atender pareceram horas! Conseguiu olhar para o namorado duas vezes, enquanto cumprimentava a pessoa do outro lado e pôde respirar aliviado quando percebeu ser Violeta, não algo relacionado a seu pai. Sem mais esperar, saiu com o carro, tomando o caminho de casa.

Xeque-Mate: o amor não tem regrasOnde histórias criam vida. Descubra agora