Capítulo 14 | Erro de estratégia

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Desde que decidiu não trabalhar mais aos sábados, a sexta-feira ficou muito mais estressante do que antes e mais longa também. Davi constantemente dizia ser o pior dia da semana para ele. Quanto a si, lidar com pressão e prazo era sua especialidade, então não era grande coisa. Nada conseguia tirá-lo de seu eixo... a não ser um certo enxadrista fascinante e maravilhoso.

Ergueu o olhar para Mônica, pensativo. A secretária permanecia em silêncio, sentada à sua frente, caderno e caneta em punho, olhar atento. E ele não conseguia definir qual a melhor data para a entrega do novo projeto, pois não dependia somente dele, infelizmente.

‒ Entre em contato com a gráfica e fixe uma data de entrega única, porque a indecisão deles está me enlouquecendo. Caso não possam determinar uma maldita data... ‒ apoiou o queixo nas mãos entrelaçadas, os óculos escorregando um pouco por sobre o nariz reto. ‒ Diga que vamos mudar de fornecedor. Não vou movimentar toda a minha equipe para, no fim, não ter nada para entregar ao cliente.

‒ Sim, senhor ‒ assentiu, anotando tudo de imediato. ‒ Mais alguma orientação?

‒ Percebi que minha agenda deste mês não foi atualizada. Reagende as reuniões dos sábados para as semanas seguintes, porque não venho mais ao escritório no fim de semana, você sabe.

‒ Sim, senhor.

Silêncio breve. Nicholas encarou-a, certo de que algo lhe passava despercebido.

‒ Também preciso que entre em contato com os clientes agendados para a próxima segunda-feira e confirme as apresentações. Se algum desmarcar, precisaremos refazer o cronograma de entregas. Também gostaria que pedisse para Tassiana e Eduardo me apresentarem, ainda hoje, a campanha que estão desenvolvendo, porque já estão há muito tempo num único projeto. E avise Davi de que preciso falar com ele assim que chegar ‒ parou um instante, encarando a mulher que anotava rapidamente todas as instruções. ‒ Quero enviar flores à minha casa... Um arranjo de lírios, dálias e rosas vermelhas.

Mônica mirou-o, sem conseguir conter a surpresa e mergulhou no brilho indiferente dos olhos cinzas, a encará-la sem qualquer pretensão. Corou violentamente.

‒ Mais alguma coisa, senhor?

‒ Não. Só me comunique quando enviar as flores. Obrigado, Mônica.

A mulher saiu e foi obrigado a voltar ao projeto que já o atormentava há uma semana. Para piorar a situação, estavam em outubro e Davi praticamente não ficava no escritório a fim de visitar os clientes. Resultado lógico: no dia anterior, ele precisou se encontrar pessoalmente com ponto focal responsável pela campanha publicitária que estavam desenvolvendo, um homem mal-humorado, arrogante e tagarela, que não aceitou NENHUMA das DOZE sugestões que criaram até então. O desejo que sentia era o de enfiar os rasonetes goela abaixo daquele infeliz. Contudo, não podia perder o controle. Chegou a pensar sobre o assunto, o motivo que levou o cliente a ser tão intransigente e concluiu que parte do desentendimento era sua inteira responsabilidade. Sua postura indiferente e exageradamente séria sempre acabava por trazer à tona o pior dos outros, só poderia ser isso! Porque Davi não tinha esse tipo de problema. E por isso era o RP do escritório. Os clientes adoravam ser atendidos por ele.

E, em meio a essa grande confusão, não somente horas e horas de trabalho se perderam como as negociações caminhavam para um desfecho deplorável; tudo porque não tinha mais paciência para lidar com o homem. Conversaria com Davi, ainda naquele mesmo dia, e pediria por sua intervenção.

Seus pensamentos rumavam nessa direção, quando sua linha interna tocou, uma chamada de Mônica, com certeza. Não pôde deixar de enaltecer a eficiência da secretária, pois não esperava que ela encontrasse, com tanta rapidez, uma floricultura que dispusesse de flores para o arranjo que solicitou. Porém, Mônica era Mônica: a melhor secretária do mundo, sem dúvida. Atendeu com ar de riso.

Xeque-Mate: o amor não tem regrasOnde histórias criam vida. Descubra agora