Capítulo 3 | Segundo lance

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O sinal tocou, estridente. Um segundo passado e já não era o mesmo corredor, nem o mesmo ar estático. Estudantes passavam correndo, gritando e se acotovelando nas escadas. Alguns, mais prudentes, tentavam desviar da confusão e conversavam baixo uns com os outros pelos cantos. Fim da aula.

Saiu da classe com Humberto ao seu lado. Ajeitou a mochila nas costas, displicente, as alças franzindo de leve a camisa branca do uniforme.

O amigo, por sua vez, carregava o material em uma espécie de bolsa colorida, feita de tricô. Fitou-o de soslaio e não pôde deixar de sorrir. Humberto era mesmo uma figura, única em sua excentricidade. Quem mais além dele andaria com uma bolsa daquela e o cabelo pintado com aquelas mechas verdes? Quem?

O rapaz apercebeu-se da observação e encarou o amigo de volta, desconfiado.

‒ Que foi, meu caro? Nunca viu, não?

Alexander riu com gosto.

‒ Ver, eu vi, mas só reparei agora.

‒ No quê?

‒ Na sua bolsa hippie, eu acho.

Humberto segurou a bolsa com ambas as mãos e ergueu-a no ar, como quem ostenta um troféu.

‒ Bacana, não? Comprei na feira hippie lá de Ipanema.

‒ É. Muito legal.

‒ Quer que eu te compre uma também, meu caro? ‒ Perguntou, feliz com a oportunidade de presentear o outro.

‒ Não, Berto, obrigado. Meu negócio é mochila mesmo.

‒ Eu sei. Bem careta.

Ambos deixaram a portaria lateral. Os raios suaves do sol alcançaram os dois amigos e cerrou os olhos de leve para sentir a quentura gostosa sobre sua própria pele.

Caminharam lado a lado pela calçada e, como não poderia deixar de ser, Humberto desatou na sua ladainha interminável e ininterrupta. O assunto da vez era Lorena. Nada poderia ser mais inoportuno do que trazer a menina de volta à lembrança, e respondeu ao amigo que não falara mais com ela desde o dia do campeonato.

‒ Caraca! Isso faz quase dois meses! ‒ Riu Humberto.

‒ Tenho coisa mais importante com o que me preocupar do que com Lorena. Ela é passado.

‒ É! E seu tempo anda bastante disputado, não é? Muito estudo. Muito mais treino que estudo. ‒ Cutucou o amigo com o cotovelo. ‒ Sua mãe falou para mim. O motorista está levando você em casa todo dia.

‒ Quem me leva em casa é o Nicholas, filho do Navarre.

‒ E o cara é gente fina como o pai?

‒ Se é. Batemos altos papos no caminho.

‒ Hiii... Cuidado pra não ficar ainda mais nerd, hein? Olha lá, cara! Vai ser difícil te aguentar se a situação piorar! ‒ Provocou, caindo na risada em seguida.

‒ Deixa de ser idiota! ‒ Bronqueou de volta.

A reprimenda foi seguida de um cascudo, manifestação corriqueira da indignação de Alexander, mas que doía como da primeira vez.

Humberto levou a mão à cabeça e fitou o amigo com olhar feroz, mas este já olhava para o outro lado. Sua raiva também não durava muito tempo. Era o tipo de pessoa que não guardava ressentimento de ninguém e, se o fazia, era por pouquíssimo tempo. Acabava esquecendo bem rápido das desavenças, uma característica que admirava mais que todas as outras. Dessa forma, continuaram andando, como se nada tivesse acontecido.

Xeque-Mate: o amor não tem regrasOnde histórias criam vida. Descubra agora