Mais uma semana se passara, rápida. A sensação fora a de que o tempo lhe escoara por entre os dedos sem que aproveitasse o pouco que restava antes do desafio. Obviamente, esse era um pensamento cruel sobre si mesmo, uma vez que não fizera nada, nos últimos sete dias, além de estudar, treinar, raciocinar e se dedicar completamente ao xadrez. Sentia-se exausto... e vencido pela íntima impressão de ter desperdiçado a oportunidade e de ter doado menos do que poderia.
Nervoso, andou em círculos dentro do próprio quarto, como uma fera enjaulada prestes a atacar o domador. Parou diante das malas feitas, perfeitamente arrumadas num canto, protegidas e organizadas, as peças de roupas todas dobradas, as meias, os sapatos, tudo pronto.
Repassou de memória a lista de utensílios, certo de que se esquecia de alguma coisa. Nada lhe ocorreu no momento e passou a mão pelos cabelos, num gesto que não lhe pertencia, mas que indicava a mesma finalidade. Nicholas os levaria ao aeroporto na manhã seguinte. E mesmo repassando todos os detalhes, sentia-se enlouquecer! Precisava guardar o nervoso para si mesmo, pois a última coisa que desejava era preocupar Navarre ou...
Batidas suaves à porta trouxeram-no de volta à solitária realidade. Autorizou a entrada, mais por reflexo do que por consciência. Uma figura atreveu meio corpo para além do batente, sem entrar completamente no aposento. Reconheceu naquela postura a sua própria hesitação e insegurança dos últimos dias. E foi impossível não lamentar um pouco. Se, ao menos, tivesse passado mais tempo com ele. Se tivesse estado em sua companhia. Se...
‒ Posso entrar? ‒ gracejou com voz suave, os cabelos claros caindo-lhe ao lado do rosto, lisos e macios.
Quis tocá-lo, mais do que qualquer coisa no mundo. Perdido que estava em olhar para ele e mergulhar nos olhos cinzentos, marcados pela serenidade, não precisava responder. Era uma pergunta retórica, não? A porta estava sempre aberta para ele, sempre. A angústia tomou seu coração ao sentir o emaranhado confuso de sentimentos e receios aumentarem. Por que era tão difícil competir? Por que? Já não fizera isso outras vezes? Já não participara de outros campeonatos antes? Contudo, agora era diferente. Apesar de já ter sentado diante de outro competidor, jamais o fizera carregando a responsabilidade e o peso do nome de Navarre Fioux como instrutor. Jamais sequer cogitara a possibilidade de ter um mestre como Navarre.
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Xeque-Mate: o amor não tem regras
RomansaNicholas Fioux é um empresário de 27 anos, bem sucedido, indiferente, distante e amargo que abriu mão de todos os seus sonhos para ser o alicerce de sua família, mas que tinha tudo sob controle... até a vida lhe apresentar Alex. Alexander Oliveira é...