Capítulo 2 | Primeiro lance

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Dia seguinte e ânimo de funeral. Parou diante dos portões enferrujados, encarando a escola com fúria quase mortal. Não podia se dar por vencido assim, tão facilmente. Decidido a tratar Lorena com distância polida, ajeitou a mochila surrada nas costas e entrou.

Ganhou o corredor, àquela hora repleto de alunos, com um pensamento incômodo a martelar a consciência. Esfregou o rosto, alheio ao barulho irritante que o rodeava, certo de que não era tão anormal assim. Não quisera fazer sexo com a menina, e daí? Havia milhares de outras garotas no mundo, certo? Resolveu desviar a atenção para outra coisa qualquer, e rápido!

Felizmente, a voz estridente de Humberto salvou-o de pensar por mais tempo naquele tema. Parou e esperou o amigo se aproximar.

‒ E aí, Alex! Como está, meu caro?

‒ Tive uma noite péssima, Berto. ‒ Declarou com cara amarrada, enquanto caminhavam em direção a sala de aula.

‒ É mesmo? Que droga, hein!

‒ E você não sabe nem da metade! Fui levar Lorena em casa ontem, e quase transei com ela na escada de emergência.

‒ Sério? Isso não se parece contigo! Essa garota está mesmo virando a sua cabeça.

‒ Ela está acabando com a minha sanidade mental, isso sim! Acredita que, quando falei para deixarmos para depois, num lugar mais adequado, ela me chamou de brega?

‒ Não brinca! ‒ Tornou, com cara de espanto.

‒ Foi exatamente isso o que ela disse.

‒ Por que não comeu ela ali mesmo? Não era isso o que ela queria?

‒ Não sou assim, Berto. ‒ Declarou com ar ofendido.

‒ Certo, eu entendo. Mas você não precisa ficar preocupado com isso. Esqueceu o que me disse quando começaram a sair juntos? ‒ Não esperou pela resposta. ‒ Disse que nenhum de vocês estava interessado no outro de verdade e que só queria dar "umazinha". Lembra?

Alexander baixou o olhar, confuso.

‒ Lembro...

‒ Então, não estou entendo, meu caro. Gamou, é?

‒ Não! ‒ Respondeu indignado. ‒ Eu não tenho paciência nem para a voz dela, principalmente depois do modo como ela falou com Navarre!

‒ Pois é! Por isso mesmo não sei qual é o problema. Se não está apaixonado, não entendo por que ainda não chutou pro gol ou desencanou de vez, tanto faz.

Parou em pleno corredor, aturdido com o que lhe passou pela cabeça. Percebendo que o amigo não o acompanhava, Humberto voltou o olhar para procurá-lo. Avistou o outro um pouco mais atrás e voltou ao seu encontro.

‒ O que foi? ‒ Silêncio. ‒ Alex, você está bem? Que cara é essa?

‒ Humberto, será que eu sou gay?

Humberto fitou-o por um instante, pasmo. Em seguida, rompeu numa sonora gargalhada.

‒ Essa é boa! ‒ Disse, entre risos. ‒ Está bem, então. Eu sou um pássaro Dodô.

‒ Estou falando sério! ‒ Rosnou, sacudindo o outro pelos ombros. ‒ Eu não fui para a cama com ela, fui?

‒ Não, mas e daí, Alex? Qual é o problema?

‒ E daí... Eu podia muito bem ter ido, mas não fui. Esse é o problema, muito simples. ‒ Despejou, mais rápido que o habitual, um misto de repulsa e receio a dominá-lo aos poucos por dentro. Repulsa pela forma com a qual Lorena se oferecera. Receio de que sua falta de interesse, de repente, fosse muito além do que mera desilusão romântica.

Xeque-Mate: o amor não tem regrasOnde histórias criam vida. Descubra agora