"Joalheria"

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- Docinho de abóbora. - Abby diz antes de entrar na sala do diretor de Hogwarts.

Passa pelo portal dando pulinhos e cantarolando uma musiquinha boba enquanto observa a sala enorme. Fawkes descansava visivelmente abatida e velha acima da tigela que recolheria as suas cinzas quando queimasse.

O velho estava debruçado na sua mesa de madeira maciça, com uma carta nas mãos, passava os dedos pela assinatura de Gellert Grindelwald enquanto lembrava do rapaz de cabelos pálidos, responsável por inflamar a sua paixão não só por revoluções, como também pelo próprio.

Sorri assim que escuta a voz da radiante Abigail, levantando os olhos cansados para a garota que saltitava em sua direção, claramente muito feliz.

- Eu tenho novidades... - Cantarolava alegremente. - E você vai adorar!

- Pode apostar que sim, quais as suas novidades? - cantarola no mesmo ritmo que a garota sorridente.

- Eu estou noiva de Sirius Black! - ela perde o tom falando normalmente, vê a carta aberta em cima da mesa do diretor e seu sorriso some um pouco. - Desculpe, não sabia que estava ocupado... com a carta.

Abigail já havia visto aquela carta antes, aos seus treze anos, enquanto comia um sanduíche faminta depois do treino com Alvo Dumbledore. Ela sabia quem era Gellert Grindelwald, todo o mundo mágico sabia, e a assustou uma carta dele ao seu diretor.

Ela era uma das únicas que sabia sobre os sentimentos do seu diretor para com Gellert Grindelwald. Apesar de muito reservado, Alvo Dumbledore a contou toda a história, sem esconder muita coisa, e nem ele mesmo soube o porquê.

E por sua sorte, havia escolhido a pessoa certa, Abigail jamais o julgou por amar um homem como Gellert, ela apenas o abraçou e disse:

- Todas as criaturas merecem conhecer o amor pelo menos uma vez na vida, seja o mais cruel dos bruxos, ou o mais inocente dos bebês. Temos o direito de amar quem nós bem entendemos.

Dumbledore afasta as sua mente das memórias que guardava, não seria capaz nem sequer de colocá-las na penseira, ou de tirá-las por um só segundo. Existiam três pessoas que ele se recusava a deslocar as lembranças ou compartilhar com qualquer um que seja: Gellert Grindelwald, Abigail Parsons e Ariana Dumbledore.

Preferia esquecer o próprio nome do que esquece-los ou até mesmo ver a situação em outro ponto de vista se não os de seus próprios olhos. Existem situações que o lado passional basta, que não requerem análise técnica.

- Não vamos nos apegar a assuntos tristes em um momento como esse! - diz se levantando sorridente. - Abigail, você está noiva, deve se sentir tão feliz! - a abraça carinhosamente. - O Sirius a ama tanto, você não imagina o quanto! - Abby retribui o abraço.

A professora Sprout, por coincidência, entrava na sala do diretor, e se surpreendeu com a presença de Abigail ali.

Abby havia negado a vaga de monitora-chefe, não teria tempo para essa atividade, havia a ordem, os NIEM's, a pomada que estava desenvolvendo e as matérias da escola.

Não seria um ano fácil.

- Como assim, você negou a vaga de monitora-chefe? - Dumbledore pergunta incrédulo. - Achei que ficaria honrada com a proposta!

- Tenho muitos afazeres esse ano, peguei muitas matérias e está tudo muito conturbado.

Sirius caminhava por uma estreita rua repleta de trouxas, fumava, como de costume, um dos cigarros luxuosos que o sogro o havia presenteado. Pega a caixinha e a vira nas suas mãos para ler "Sobranie Black Russo".

A loja de um pequeno joalheiro o chama atenção, não era bonita, pelo contrário, era quase o contrário disso, cheirava a metal e suor. Assim que põe os pés no assoalho, vê um homem muito velho e barbudo, os olhos claros estavam quase fechados devido às generosas rugas.

- Não pode fumar aqui dentro. - diz um pouco rude, fazendo Sirius dar alguns passos para fora da loja e apagando o cigarro.

- Eu quero comprar um anel, o mais bonito que você já fez. - o homem velho sorri e manca até o balcão pare mais perto do rapaz de cabelos escuros.

- Você não teria como pagá-lo. - observa as roupas surradas que Sirius usava e o Black torce o nariz. - anel mais bonito que eu sou capaz de fazer, eu cobraria, no mínimo, dez mil euros, sendo muito generoso.

Sirius não tinha aquele dinheiro. A sua herança estava congelada no banco por ele ter sido supostamente deserdado, apesar de seus pais nunca terem procurado meios legais de fazê-lo.

Além do mais, não precisava ser um matemático incrível para se dar conta que aquele era um valor altíssimo até mesmo em galeões.

O rapaz respira fundo passando as mãos no rosto, se recostando no balcão, seus pensamentos divagavam em uma única questão: como daria um anel a Abigail, se não tinha um tostão sequer?

Ela merecia tanto que machucava o seu coração não poder oferecê-la.

O dono da loja torce o lábio pensativo enquanto visa Sirius Black visivelmente devastado pelo preço elevado da joia.

- Rapaz, eu tenho aqui algumas jóias de segunda mão, tão belas quanto as que eu produzo à encomenda. - alcança o mostruário com as mãos firmes e o coloca em cima do balcão, exibindo algumas joias antigas belíssimas.

Mas, Sirius nega com a cabeça.

- Acredite, são jóias dignas de uma nobre moça. - oferece.

- Com o perdão da palavra, você não conhece a minha Abigail. - não consegue conter o sorriso apaixonado. - Ela é perfeita. É única. Quero que o primeiro anel que eu a dê seja feito unicamente para ela.

O homem sorri com as palavras, Sirius tinha algo em si que fazia as pessoas simpatizarem com ele de primeiro. Ele era aberto, era palpável, e exalava confiança em cada palavra. Principalmente quando falava de Abigail.

Quando o assunto era a sua noiva, o rapaz relaxava os ombros, e seus lábios pareciam sempre querer sorrir. Não era capaz de falar nenhuma frase sobre ela sem ser acompanhada de um sorriso. Só com as suas palavras, era capaz de fazer alguém se apaixonar por Abigail também.

- Poderia me pagar com uma parte do salário todos os meses até quitar a sua dívida.

Sirius ainda não trabalhava, estava em processo de análise para atuar como um auror do Ministério da Magia. O sobrenome "Black" não o ajudava nada a conseguir confiança do Ministério.

James conseguiu a vaga de primeira, mal checaram os antecedentes, apenas avaliaram a habilidade com feitiços de ataque e proteção. Pedro ainda estava um pouco distante, parecia quase sombrio, mas tanto Sirius como os outros já tinham problemas demais para notar.

Marlene McKinnon trabalhava com os pais no pequeno restaurante bruxo, um tipo de negócio familiar que estava na mão dos McKinnon há anos. James a convidou para ser um auror, mas a loira argumentou que enlouqueceria se não pudesse parar de pensar em Voldemort um segundo sequer.

Remo Lupin não conseguiu o emprego de auror que desejou, nem teve a audácia de pedi-lo. Ele não era o tipo de pessoa que o Ministério confiava, e sabia bem disso. Ele trabalhava com Marlene McKinnon no pequeno restaurante, o Senhor McKinnon não pagava muito, mas era o suficiente.

- Eu não tenho um emprego, ainda não, acabei de sair da escola. - Responde e o dono parece ponderar algo.

- Quer muito dar um anel para a sua namorada? - pergunta.

- Minha noiva. - corrige. - Sim, eu quero muito.

- Então, pode ser o meu ajudante aqui, enquanto você não encontra um emprego melhor, e posso ajudá-lo com o anel da sua Abigail. - Sirius sorri.

TELL ME A SECRET || SIRIUS BLACK Onde histórias criam vida. Descubra agora