Em poucos minutos já me sinto segura na direção, o que não é uma boa coisa. Se não estou concentrada em dirigir, minha mente está livre para pensar no que fiz.
Tento deixar isso para lá, pois preciso ajudar o garoto que permanece encolhido ao meu lado. É perceptível que seu sistema está lutando para sobreviver. Vez ou outra ele resmunga, mas permanece distante, preso em sua dor.
— Você vai ficar bem. Nós vamos para um lugar seguro onde você vai ser curado. Depois você provavelmente vai querer me matar pelo que fiz, mas tudo bem. — falo sem ter muitas esperanças de que ele irá entender.
— Eu preciso que você entenda que eu não sabia. Eu não imaginava que machucaria alguém quando fiz aquilo. Sinto muito! — paro de falar quando a estrada começa e ficar embaçada por conta das lágrimas. Respiro fundo controlando o sentimento que me esmaga por dentro em uma angústia indescritível.
O caminho está, para minha surpresa, acessível. A área para qual estamos indo fica entre Civitas e Meridiem, em um trecho que possuí fama de ser infértil, permanecendo assim neutro. Durante a grande devastação foi uma região muito danificada que se revelou um desafio até para os naturae mais poderosos.
Eu nunca estive lá, mas sei tudo sobre o lugar. O que os líderes não sabem é que uma rica vegetação floresceu nas áreas subterrâneas e uma pequena comunidade tem sobrevivido desta forma no último ano.
Essas informações foram complicadas de se conseguir. Por se tratar de uma nova comunidade que permanece de forma clandestina, precisei seguir pistas, rastros, fazer deduções. Até que encontrei. Sabia que havia algo ali, mas só tive certeza quando tive acesso a câmeras antigas instaladas para acompanhar o progresso da destruição. Talvez agora, aquelas câmeras tenham me mostrado o caminho para a sobrevivência.
Depois de cerca de quarenta minutos dirigindo a mudança é perceptível. Os acostamentos antes invadidos pela vegetação tropical são visíveis em contraste com o terreno vazio.
Não parece um lugar apropriado para se estabelecer. Não existem árvores acolhedoras ou rios que ofereçam o mínimo necessário para a sobrevivência. Mas, sei que bem abaixo de nós, cachoeiras subterrâneas alimentam a restauração desta região.
Depois de mais alguns minutos avisto uma construção ainda inacabada. Não se trata de nada grande como em Civitas. Apenas uma pequena casa e mais distante um prédio que parece cheio.
Paro o veículo um pouco distante e quando tenho certeza que Dante está respirando, caminho até a casa.
Bato na porta com mais força que o necessário. Me Imaginei fazendo isto muitas vezes, mas nunca nessas circunstancias. Minha intenção era pedir por respostas, nunca por ajuda. Ela abre a porta me assustando. Está como antes, apenas com algumas rugas nos olhos.
— Sofia?! Como chegou aqui? Porque está imunda deste jeito? — fala me olhando espantada.
— Emily, eu preciso da sua ajuda. Ela...ela me fez fazer algo terrível. Eu não sabia e agora ele está morrendo. Não posso leva-lo para Civitas e o Hugo me deixou. E eu sei que você queria ficar escondida, mas eu senti sua falta e queria saber se você estava bem, por isso descobri sobre este lugar, mas eu não contei para ninguém. Eu parei de procurar pelo que tinha acontecido. E eu não sei o que fazer porque eu não posso ajuda-lo. Eu nem consigo traze-lo até aqui porque estou lutando muito para não desmaiar neste momento e...
— Calma Sofia. Primeiro, quem está morrendo? — me interrompe segurando meus ombros tentando me acalmar.
— O nome dele é Dante. Ele está no veículo. Ele precisa ser curado, não vai resistir por muito mais tempo. — digo com as lágrimas já escorrendo.
Estou perdendo o controle. Todos os meus músculos estão doendo. Percebo que realmente estou uma bagunça. Sangue, terra e suor estão por toda a parte. Respiro fundo e sento na varanda do chalé observando enquanto Emily corre até a casa e volta com várias pessoas que a ajudam a conduzir Dante para dentro.
Alguns minutos depois ela volta e me leva também para um pequeno quarto. Depois de ter meus ferimentos curados por uma garotinha, Emily me obriga a tomar um banho. Debaixo do chuveiro tudo que quero é dormir. Apenas fechar os olhos e esquecer este dia completamente. Mas, eu ainda não vi o que aconteceu com o garoto. Ele precisa estar bem. Aí poderei dormir. Visto as roupas emprestadas e caminho pela casa procurando onde eles possam estar.
Não há muitos lugares nos quais procurar, então é fácil chegar até o outro quarto onde Emily está fazendo o possível para livrar Dante da sujeira.
— Eu devia fazer isto. — digo me sentando na beirada da cama.
— Você precisa descansar. Não quero ouvir nada sobre o que aconteceu enquanto você não estiver recuperada. — ela diz com aquele costumeiro tom delicado e autoritário na voz.
— Já fui curada. — respondo enquanto seguro a mão de Dante procurando algum sinal de vida. Os ferimentos já estão curados, mas ele permanece dormindo. Ao menos sua mão oferece uma temperatura acolhedora.
— Fisicamente sim. Mas, você também foi vítima. Pelo que entendi foi usada para ferir este rapaz. Então você precisa descansar e se recuperar dessa violação, dessa violência.
— Você sempre foi muito compassível comigo. Só espero que ele fique bem. — falo olhando para a mulher que partiu sem dar nenhuma explicação.
— Ele só precisa de tempo, assim como você. — diz com um pequeno sorriso.
— Eles vão nos procurar. Hugo vai contar para ela que prometi salvá-lo. Eles virão atrás de mim. Nunca vão aceitar que alguém de fora saiba o que eles fazem sem a permissão do governo. — o cansaço começa a me vencer.
Caminho até o sofá do outro lado do pequeno cômodo e me deito tentando prestar atenção ao que Emily está falando.
— ... e depois de tudo isso ela ainda está na liderança. Não consigo acreditar que Hugo te deixou sozinha para correr e reportar que você havia decidido fazer a coisa certa. Aquele menino, sempre foi estúpido demais. Um desperdício de poder e beleza. Oh! Perdão querida. Você deve dormir. Pode ficar no meu quarto. Saia deste sofá velho. — ela fala seguindo em minha direção.
— Prefiro ficar aqui com ele. Não se preocupe comigo, eu só preciso dormir um pouco.
— Sim. Durma. Logo ele acordará e você vai poder explicar o que aconteceu. Assim nós decidimos o que fazer em seguida. Durma bem Sofia. Você é uma boa garota, só confiou na pessoa errada. — ela diz enquanto caminha para fora e fecha a porta.
Eu não sei dizer se ela se referia a Hugo ou a Laura quando apontou que cometi um erro confiando cegamente e traindo meus instintos de que havia algo de muito errado com a maldita missão.
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A lenda das estrelas
Science FictionOs homens da ciência antiga nunca acreditaram que o mundo sobreviveria tanto. A nação que antes era de gigante natureza, sofreu para resistir a grande devastação provocada pelo próprio homem. Mas, eles encontram uma solução, alteraram a si mesmos pa...