capítulo 7

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Sofia
Acordo nas primeiras horas da manhã, ainda com os olhos pesados de sono. Hugo se revira em sua cama em um sonho ruim. Ele está murmurando sobre tempestades e monstros.

— Hugo, acorda. Hugo! É só um pesadelo. Abra os olhos. — tento acordá-lo, mas quando desperta ele já está se transformando e, sem perceber, me atinge com suas garras. Grito involuntariamente pela dor repentina inesperada.

— Sofia? O que eu fiz?! Sinto tanto, não tive a intenção. Me deixe ver. Me perdoe.

— Está tudo bem Hugo, você estava tendo um pesadelo. Não está doendo, não se preocupe.

Meu braço direito sofreu alguns arranhões, mas acabo precisando fazer um curativo em um corte mais profundo. Não é culpa de Hugo, mas esta não é a primeira vez que ele me fere. Quando pessoas com poderes andam junto com alguém frágil, coisas ruins tendem a acontecer. Meu amigo sempre foi muito cuidadoso, as raras vezes que ele me machucou foram por acidentes. Eu odeio essas situações, porque elas fazem Hugo se sentir culpado sem necessidade. Está tudo bem, acidentes acontecem.

Discutimos durante vários minutos se devemos continuar com a missão ou não. O que é um absurdo! Essa reação exagerada me tira do sério. Não sou feita de vidro. Sou mais frágil, não tenho a proteção natural que os outros desfrutam, mas sou capaz de lidar com ferimentos!

Durante anos permaneci com pessoas que não eram como Hugo. Elas, ao contrário dele, não evitavam me machucar. Eu servia como cobaia. Tenho muitas cicatrizes que podem comprovar que eu sou uma sobrevivente.

Hugo não sabe. A única que conhece minha história por inteiro é Emily, não porque contei, mas porque ela tinha a estranha mania de adivinhar o que eu estava pensando. Mas, não saber sobre pelo que passei não é desculpa. Hugo me conhece, ele sabe, ou deveria saber, que jamais vou aceitar que algo me limite.

Depois de convencê-lo que não, não preciso de um rusticatio por causa de um ferimento atoa, seguimos o caminho ao sul.

As horas se passam de forma arrastada. O ferimento lateja e meus pés reclamam pelo esforço exagerado dos últimos dias. Hugo preferiu seguir em sua forma humana. Talvez o cansaço finalmente o tenha atingido.

Já passa do meio dia quando chegamos. Consigo ver os grandes muros que protegem a estrutura. Tudo parece como Lidya descreveu e, mesmo com aquela sensação ruim de que algo está errado no fundo da minha mente, começo a cumprir minha parte na missão.

Instalo meu equipamento iniciando o processo de invasão. Por incrível que pareça, a instalação fornece um desafio considerável. Mas, não há com o que me preocupar. Sou muito boa no que faço.

Hugo permanece concentrado em nossos pontos vulneráveis. Estamos em um lugar complicado, muito bom para invadir sistemas, péssimo para se proteger caso uma ameaça surja. Tentei bolar maneiras de fazer isto de uma distância maior, mas foi inútil. Lidya disse que fazer todo o caminho era parte da mensagem que ela queria passar.

Quando ela disse isto fiquei horas pensando que mensagem seria. Guerra? Raiva? Afirmação de domínio? Cheguei a conclusão de que na verdade ela só precisava que Hugo saísse de Civitas por um tempo. Ela sempre o encarregava de uma tarefa simples nesta época do ano para evitar que ele a veja em seu pior humor.

Durante anos Hugo partia e ela se isolava, deixando de lado a faixada simpática, tratando todos como me trata. Hugo ama e confia em Lidya e ver este lado dela poderia abalar parte do respeito. Mas, ela nunca em todo este tempo, o enviou a uma missão na qual houvesse uma possibilidade de que ele não voltasse. E ele nunca presenciou nossa líder em seu estado mais desagradável.

Mas, Lydia terá que ficar para depois. Finalmente consigo invadir o sistema e antes que algum mecanismo seja acionado ativo a implosão.

Enquanto copio os arquivos solicitados, percebo o grande erro que cometi. Tento reverter o comando, mas é tarde demais. Entro em desespero.

— Hugo, você precisa salvá-los! POR FAVOR! — como isso aconteceu? Como pude ser tão estupida?!

— Apenas vá! FAÇA ALGUMA COISA! — percebendo meu desespero Hugo parte em sua forma de águia para dentro da instalação.

Lidya é pior do que eu imaginava! E eu, que sempre me achei tão inteligente, em par de igualdade com todos só por saber das coisas, fiz exatamente o que ela queria. Aquela mulher é uma abominação! Ela não nos mandou em uma simples missão. Ela nos enviou como assassinos. Ela me usou como uma arma.

Ouço um grande estrondo quando a estrutura se autodestrói. Me protejo dos estilhaços. E meu Deus! Hugo estava lá. Além de matar todas aquelas crianças, mandei meu melhor amigo para uma missão suicida.

Estou chorando descontroladamente.

O que eu fiz? O que eu fiz? O que eu fiz?

O que eu fiz? O que eu fiz?

O que eu fiz?

Então eu ouço. Hugo está vindo em minha direção com um corpo nos braços. Um homem. Há sangue por toda parte, mas eu corro até eles.

Juntos colocamos o estranho no chão. Coloco minha mão em seu rosto tentando acordá-lo.

Por favor. Esteja vivo.

— Você consegue me ouvir? — pergunto ao perceber a leve pulsação em seu pescoço.

— Consegue abrir os olhos? Pode me dizer seu nome? — falo com a voz já controlada, focada apenas na pulsação. Focada em não pensar no que acabei de fazer.

— Ele devia estar indo a algum lugar. Foi atingido por alguns escombros na saída. Não consegui alcançar mais ninguém, e não sinto cheiro de vida. Estão todos mortos. — Hugo fala com uma voz baixa e séria.

— Ele sobreviveu. Ele vai ficar bem. Pode me dizer seu nome? — pergunto pensando se este momento é os segundos finais do homem em meus braços.

— Dante. Meu nome é Dante.

Ele fala em um sussurro. Eu agradeço, porque se eu conseguir salvá-lo, se eu puder fazer algo para que Dante sobreviva, então talvez em algum momento eu consiga me perdoar por ter deixado Lidya me transformar em um de seus monstros.

A lenda das estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora