Sabe aqueles dias em que você acorda com a sensação de que tudo vai dar errado? Pois bem, foi assim que acordei naquela segunda-feira. Pra começar estava chovendo, e a preguiça tomou conta porque eu amava dormir com o barulho de chuva, mas mesmo assim me levantei porque precisava ir trabalhar. Assim que terminei de tomar banho percebi que tinha que esquecido a toalha em cima da cama, tive que sair do banheiro nu e molhei todo o chão no caminho.
Me xingando internamente eu troquei de roupa, separei todo o uniforme na mochila e fui para a cozinhar tomar café, o azar continuou ali quando esqueci a leiteira enquanto lia o jornal e molhei todo o fogão. Falei tanto palavrão naquele momento que eu tinha certeza que se minha mãe soubesse iria me bater com um cabo de vassoura, depois de secar o fogão eu fui para o elevador e desci me perguntando quando aconteceria a próxima merda.
Minha resposta veio quando eu estava dentro do meu carro em um farol na paulista esperando o sinal ficar verde. Um motoqueiro passou em alta velocidade do meu lado e levou junto meu espelho retrovisor, nem tive tempo de olhar duas vezes, o cara já tinha sumido.
- Caracas, que merda de começo de dia e esse?
O pior de tudo e que eu ainda nem tinha chegado ao almoço.
Meu nome é Lucas. Tenho 23 anos, moro sozinho desde os meus 18. Trabalho como policial em uma delegacia especialista no combate a crimes de preconceito. Ser policial não era a minha primeira opção de profissão, mas um evento traumático aos 13 anos me fez pensar melhor no assunto, nem preciso dizer o quanto meu pai ficou feliz quando eu disse que ia ser um, afinal ele também era, e ver o filho seguir seus passos com certeza era motivo de orgulho. Não posso dizer que e algo fácil. Sair todos os dias de casa sem a certeza se vou voltar ou não era um dos meus maiores medos, mas também saber que eu estava fazendo algo de diferente para a sociedade era algo que me deixava muito feliz.
Meu pai e minha mãe moram em Campinas no interior de São Paulo. Foi difícil sair do lado deles quando fiz 18, mas eu queria muito ir atrás dos meus sonhos, e acho que eles entenderam bem. Sempre que eu podia eu fazia uma visita e recebia uma dose bem grande de amor. Por ser filho único eu era muito mimado, e isso me fazia um bem enorme. Quando me assumi Gay eles reagiram tão bem que eu fiquei surpreendido, hoje morando sozinho em São Paulo eu só penso em ser motivo de orgulho para ele todos os dias.
Morar sozinho e solitário, eu sou daquele tipo de cara que ainda sonha com o verdadeiro amor, daqueles bem clichês que eu costumo ver nos filmes e novelas, ainda sonho com o dia que vou chegar em casa e encontrar meu namorado me esperando, quem sabe com a janta pronta.
Arrumar alguém não estava sendo fácil. Eu tinha encontros, até mais do que eu gostaria, mas nada ia além do jantar, da balada ou do passeio no parque. Quando eu dizia que era policial então, tudo dava errado, os caras só falavam no fetiche que tinham em transar com um policial. Não era só o que eu buscava, então na maioria das vezes eu terminava a noite sozinho no meu quarto ouvindo músicas depressivas sobre um amor que nunca aparecia. O lance mais longo que tive foi com um colega de farda que trabalhava na mesma delegacia que eu, mas ele precisou se mudar para o Rio de Janeiro e a distância não permitiu que fossemos em frente.
Quando cheguei à delegacia percebi que meu dia de merda ainda estava longe de terminar, alguém tinha estacionado o carro na minha vaga. Era um carro que eu desconhecia, então ou era de alguém que estava sendo atendido, ou era de algum novo policial, eu sinceramente preferi acreditar na primeira opção. Coloquei meu carro em uma vaga ao lado e fui para a delegacia bufando de ódio, encontrei a Angélica sentada na mesa dela digitando algo no computador. A recepção da delegacia estava vazia, o que descartava a minha primeira opção.
- Angélica, tem alguém novo começando hoje?
- Tem um policial, não sei o nome, está com o delegado na sala dele. Aliás, bom dia pra você também.
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Eu Odeio Te Amar
RomanceLucas e um policial Gay que trabalha em uma delegacia especialista em lidar com casos de homofobia e preconceito. Nunca teve nenhum problema com os colegas devido ao fato de ser assumido, isso muda quando Caique, um policial preconceituoso e extrema...