Capítulo 21

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Lucas 

Final de ano na delegacia o movimento aumentava bastante, já que além dos casos comuns que tínhamos, ainda ajudávamos outras delegacias com os casos habituais de uma cidade tão movimentada como São Paulo. Caique estava em uma delegacia no centro, enquanto eu e Angélica estávamos tentando dar conta da papelada que estava começando a ficar atrasada. Ela estava na mesa dela digitando e eu na minha lendo alguns relatórios antes de digitalizar, foi quando um policial entrou trazendo um homem algemado. 

- Encontrei o meliante acusado de homofobia naquele caso da boate no centro. 

Eu me levantei e fui até eles, eu mesmo tinha cuidado do caso, um cara simplesmente espancou um gay em uma boate porque ele começou a dançar, segundo as palavras dele, afeminado demais. Mas como na maioria dos casos,  ele fugiu, deixando o cara quase em coma, sorte que a ambulância chegou rápido na boate, se não talvez ele não teria sobrevivido ao espancamento.

- Olha, finalmente Ricardo, estávamos esperando a sua visita. 

- Eu quero meu advogado. 

- E claro que quer. Isso não e surpresa nenhuma, mas como você estava foragido e o juiz tinha expedido uma ordem de prisão, você vai ficar um tempinho aqui na delegacia, coloca ele na cela por favor Igor. 

O policial colocou Ricardo na cela, e depois de tirar as algemas o trancou lá dentro. Eu me sentei em minha mesa e comecei a procurar os papéis do caso para dar entrada  na prisão do meliante. Naquele momento Caique chegou todo sério e se aproximou de mim. 

- Boa tarde. 

Sorrindo ele me deu um selinho. Foi quando Ricardo fingiu vomitar. 

- Credo. Até os policiais daqui são gays, o mundo está perdido mesmo. 

- Quem e esse? 

- O acusado de espancamento na boate, lembra? 

Caique se aproximou da cela. 

- Então você e o covarde que espancou o civil na boate só por ele ser gay? 

- Nada contra ele ser Gay, mas não na minha frente, estávamos em uma balada hétero, de homens, se ele queria ficar se requebrando igual uma moça, era só ir para balada gay, afinal existem tantas nessa cidade. 

Ricardo falava com tanta naturalidade que fiquei com nojo só de ouvir. Prevendo que Caique poderia se envolver com o caso, eu me aproximei e o trouxe de volta para a mesa. 

- Vem amor, não se estressa com isso. Como foi na outra delegacia? 

- Normal. Nada demais, e bom as vezes mudar os ares para poder ter alguma emoção, já que essa delegacia não tem quase nada de emocionante. 

- Ainda bem, imagina os riscos que os outros policiais correm, eu até gosto de me ver me menos perigo que eles. 

- Acho que algúem está querendo fugir das responsabilidades da farda. 

Dei um soquinho em seu ombro e voltamos ao trabalho. Quando estávamos quase indo embora, o advogado de Ricardo chegou com habeas- corpus, indignado eu tive que abrir a cela para ele e ver o sorriso em seu rosto por saber que vivíamos em um pais em que pessoas como ele tinham liberdade pra agir como queriam por causa de um sistema injusto. 

Os dois se sentaram na frente da minha mesa enquanto eu fazia os procedimentos de liberação no computador. Ainda se sentindo, Ricardo começou a provocar. 

- Cade seu namoradinho? 

- Não te interessa. 

- Deve ser frustante saber que eu vou sair daqui livre né. 

- Você só vai responder pelo processo em liberdade. Ainda pode ser preso novamente. 

- Que nada, no fundo a justiça desse pais gosta de pessoas como eu, afinal estamos fazendo uma limpeza quando atacamos essas aberrações. 

Senti meu sangue esquentar, e me controlei ao máximo para não dar um soco naquele cara. 

- Doutor, controle seu cliente. 

- Por favor Ricardo, não complique mais as coisas para você. 

Ele levantou as mãos em rendição, então continuei meu trabalho. Alguns minutos depois e recolhidas as assinaturas, liberei os dois. 

- Bom, obrigado, boneca, diz pro seu boy que mandei um abraço. 

Os dois foram em direção a saída, e foi ai que me descontrolei, fui até ele e cutuquei seu ombro, quando ele se virou o acertei com um soco no rosto que o jogou no chão. O advogado o ajudou a se levantar com o sangue já jorrando em seu rosto. Cruzei os braços, me controlando ao máximo para não dar outro soco. 

- Você vai se arrepender disso. Pode esperar. 

- Tô morrendo de medo. Agora vaza da minha delegacia. 

Estancando o sangue com a mão ele saiu depois de me olhar com ódio. Sem me abater eu voltei para minha mesa feliz por estar sozinho e ninguém ter visto aquela cena.  

Eu Odeio Te AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora