Capítulo 6

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Não demorou muito para eu me apegar ao Diego, a Angélica percebeu isso quando chegou ao trabalho e me encontrou na recepção todo aéreo esperando a maquina de café terminar meu chocolate-quente.

- Olha quem está todo alegre. Aposto que essa alegria tem nome.

- Tem sim, Diego, tem nome, sobrenome e um corpo perfeito. E o beijo, meu deus que beijo.

Ele sentou-se à mesa e ficou me olhando.

- Então vocês já estão namorando?

- Sim, ele pediu semana passada, eu estava me perguntando quando isso ia acontecer, já tem quase dois meses que estamos saindo.

- Fico feliz por você. Fazia tempo que não te via assim.

- Eu também estou, consegui não estragar tudo, ele parece gostar do meu jeito maluco e apaixonado de ser. Por enquanto não demonstrou estar assustado ou algo do tipo.

- Calma isso leva tempo, mas pode deixar que assim que você falar sobre casamento ele foge.

- Nem tem como falar de casamento com ele, quase não nós vemos. Só mais final de semana, ele trabalha demais e está sempre viajando para atender clientes, mesmo que o escritório dele fique aqui no centro.

- Pra você que gosta tanto de grude deve ser um saco né.

Fiz cara feia para ela e sai mostrando o dedo em direção a minha mesa.

Dois meses parece pouco tempo, mas para alguém tão intenso e carente como eu, parecia muito mais. O Diego realmente estava me fazendo bem, eu estava me sentindo apaixonado por ele, e por mais que nenhum dos dois ainda tivesse dado nome ao sentimento, ele parecia sentir o mesmo. Eu esperava mesmo que aquilo desse certo.

No trabalho estava indo tudo bem, andei tão distraído com meu namoro que nem dei mais atenção para o Caíque, na pratica ele ainda não gostava de mim, e o sentimento mais do que nunca estava sendo recíproco. Agora eu que estava dando gelo nele, falando somente o necessário e apenas sobre trabalho, eu percebi que ele tinha ficado surpreso como o novo tratamento, mas não dizia nada, ou pelo menos não para mim. Não sei se ainda sentia algo por ele, talvez sim, mas como raramente me via pensando no assunto fiquei feliz em constatar que poderia viver com aquilo sem maiores problemas.

O dia transcorreu naturalmente, eu amava ser policial naquela delegacia porque metade do trabalho era burocrático e quase não saíamos para rua, havia um ou outro caso que nós tirava da mesmice. Naquele dia, no entanto o Leandro saiu da sala dele bem sério e pediu que eu e o Caíque nos aproximássemos.

- Escutem, pediram nosso apoio em um suposto caso de roubo com reféns em um bairro próximo. Não parece ser nada sério, mas o meu colega delegado achou melhor mandar um apoio mais forte, então preciso que vocês vão para lá imediatamente, peguem a viatura e eles vão passar as informações pelo rádio.

Saímos em silencio em direção à viatura que estava no estacionamento. O Caíque pegou a direção e depois de ligar a sirene fomos seguindo o trajeto que o outro policial no radio falava. Fiquei olhando o caminho torcendo para não ser nada sério, até que ele quebrou o silêncio.

- Faz tempo que outra delegacia nos pedia apoio né.

- Sim, e bem raro.

Eu falei friamente, ele não deixou passar.

- Porque você anda tão bravo ultimamente, seu namoradinho não tem dado conta?

- Não estou bravo com ninguém, apenas não sou seu amigo, então eu dispenso meu bom humor para você.

Ele engoliu em seco, pareceu triste, mas não disse nada. Quando chegamos ao local vimos que varias viaturas já estavam paradas em frente a um mini mercado. Aproximamos-nos do que parecia ser o líder da ação que estava com um megafone tentando negociar com o bandido dentro do mercado, pude ver ele pelo vidro do mercado com uma arma apontando para uma mulher que chorava desesperada.

- O que ele quer?

- Um dos funcionários conseguiu ligar o alarme no momento que ele informou o assalto, a viatura mais próxima chegou a menos de cinco minutos, então ele se sentiu encurralado, voltou para dentro e fez as pessoas de refém, diz que se não o deixarmos ir embora ele vai atirar em todo mundo. Há um policial de elite escondido esperando para atirar, mas ele não quer sair e não podemos por as pessoas lá dentro em perigo.

Naquele momento ouve uma movimentação na porta do mercado, então o bandido saiu com a mesma mulher, estava segurando ela pelo pescoço com a arma apontada em sua cabeça. Imediatamente todos nós ficamos em alerta com as armas apontadas para ele, o policial tentou conversar ainda falando pelo megafone.

- Escuta cara, isso não vai dar certo, renda-se e deixe essa mulher ir embora, e a melhor coisa que você vai fazer.

- Se alguém se aproximar eu atiro. Eu vou embora com ela e deixo-a em algum lugar em segurança, mas se alguém tentar alguma gracinha eu mato ela.

Ele foi andando em passos lentos em direção a um carro parado no estacionamento, foi quando senti um movimento ao meu lado, Caíque começou a se aproximar enquanto colocava a arma no chão e falava baixinho com o ladrão.

- Espera, não podemos permitir que leve ela, vamos fazer assim, eu me rendo e você me leva no lugar dela.

Foi à decisão errada, assim que ele se aproximou mais, o Ladrão disparou e o acertou bem no braço esquerdo. Eu gritei de susto, mas então ouvi outro disparo, alguém, com certeza o policial de elite acertou o ladrão bem na perna e ele caiu no chão. A mulher também caiu desmaiada, então aproveitamos e corremos em direção aos dois, eu chutei a arma do ladrão para longe e outros dois policiais o algemaram enquanto alguém chamava o samu. Então corri desesperado em direção ao Caíque que estava deitado no chão com o braço jorrando sangue, tentei me controlar, eu não gostava de ver sangue.

- Seu idiota, porque fez isso.

Eu o ajudei a ficar meio sentado enquanto rasgava minha camiseta e tentava estancar o sangue com um nó, mas foi inútil, o sangue continuava a sair como água de uma torneira.

- Merda, deve ter acertado algum vaso sanguíneo. Alguém já chamou a ambulância?

O policial mais perto fez que sim com a cabeça.

- Você e mesmo um bom profissional sabia. – ele falou me olhando nos olhos – mesmo não gostando de mim está preocupado comigo.

- Somos colegas, e o meu trabalho.

- E uma pena.

- Uma pena o que?

- Sermos só colegas.

Eu olhei para ele, que sorriu, então sem aviso desmaiou. Entrei em desespero.

- Não, droga Caíque, fica comigo.

Fiquei dando tapas em seu rosto, mas foi inútil, naquele momento a ambulância chegou, um paramédico se aproximou e eu deixei que ele fizesse seu trabalho. Então ele foi colocado na ambulância e eu entrei logo em seguida me sentando na cadeira ao lado.

Nunca tinha perdido nenhum colega de trabalho naqueles anos todo como policial, comecei a me tremer de nervoso, não podia perder o Caíque, não entendia porque, mas a idéia de me ver sem ele me assustava demais. 

Eu Odeio Te AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora