Eu Odeio Te Amar

Capítulo 9

Caique

Eu não conseguia entender nada do que estava acontecendo. Mas sabia que tudo era culpa minha. Eu que o tinha beijado, eu que havia começado tudo, eu quem tinha sentimentos confusos por ele. Algo que nunca devia ter acontecido. Quer dizer, eu sou hétero, gosto de mulheres, e assim que tinha que ser.

Ou pelo menos eu achava que era hétero, não sei se anda fazia sentido usar essa palavra, afinal desde o dia que conheci Lucas, algo mudou dentro de mim, ou talvez não, talvez eu sempre tivesse esses sentimentos, mas minha criação e pensamentos que ouvi durante minha infância e adolescência me fizeram o babaca que sou hoje.

Uma vez ouvi na escola que homofobia nada mais era do que um desejo interno que os homens tinham por outros, mas que quando não aceitam, extravasam em forma de raiva, ódio e até mesmo violência. Talvez naquele tempo não fizesse sentido para mim. Mas agora que paro para pensar melhor no assunto, sinto que a pessoa que disse isso, estava mais do que certa. 

Meu pai era o que podemos chamar de homem mais tradicional do mundo, machista, homofóbico e com vários desvios de caráter, levava o lema de família tradicional bem a sério, mesmo que ele traísse minha mãe indo quase todo final de semana na casa de mulheres que tinha perto do nosso bairro, defensor da moral e bons costumes, ele era também um poço de hipocrisia, já que não fazia ou servia de exemplo para o discurso que fazia quase todos os dias na mesa de jantar. Eu cresci vendo ele tendo essas atitudes, e mesmo que não quisesse, comecei a pegar alguns daqueles ensinamentos para mim, e hoje já adulto acabei percebendo que passo para frente o discurso do meu pai. Por isso minha vida estava tão confusa. E meus sentimentos tão conflitantes.

Mas, certo ou errado, eu sabia que estava sentindo algo por lucas. Havia algo nele que me puxava desde o primeiro dia em que o vi. Primeiro foi a forma como ele me tratou, a insolência, o deboche, fiquei surpreso com o seu comportamento mesmo não me conhecendo. Depois tinha a bondade, mesmo que ele não gostasse de mim ele se mostrou preocupado quando eu fiquei bêbado,  me levou para casa e cuidou de mim, algo que eu não sei se faria por alguém que eu odiava. Eu surtei quando descobri que ele era gay porque eu não lidava bem com a sexualidade alheia. E também tinha o fato de que Lucas era uma pessoa muito melhor que eu. Não dava para sentir raiva daquele cara. 

Não precisava ser muito inteligente para entender o que estava acontecendo. Eu havia o rejeitado e sentido raiva no começo, porque ele me trazia a tona sentimentos com os quais eu lutei toda minha vida: a atração por outros homens, e mesmo que até aquele momento eu tivesse conseguido blindar meus sentimentos, tudo foi por terra quando encarei aqueles olhos a primeira vez, porque ele tinha o dom de me desarmar, como ninguém. E hoje eu estou aqui, sem saber o que fazer. 

No começo fiquei confuso e custei a acreditar, mas tive certeza quando vi o desespero dele quando levei um tiro, ninguém alem da minha mãe tinha demonstrado tanta preocupação comigo antes. Beijar ele depois foi algo que fiz no calor do momento, mas eu estaria mentindo se falasse que eu estava arrependido, mesmo que  minhas atitudes depois tenham demonstrado o contrario, eu precisava daquele beijo para confirmar que eu sentia algo por ele, e quando nossos lábios se uniram eu tive certeza, meu coração já era dele. .

Mas como sempre eu havia feito errado, depois da empolgação veio o medo, o preconceito, e coloquei tudo  a perder quando disse que ele devia esquecer o que aconteceu. Eu não tinha ideia de como iriamos continuar depois de tudo que fiz, mas ele precisava saber o quanto eu estava arrependido de o ter magoado, precisava dizer que ele era importante para mim, mesmo depois de tudo o que eu fiz, e mesmo sabendo que ele tinha alguém em sua vida, eu precisava deixar claro o quanto eu estava arrependido. Mesmo que fosse só como amigo, eu precisava dele na minha vida, e foi com esse pensamento que peguei meu carro e dirigi até o apartamento dele.