Capítulo 19

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Peeta tinha um ódio especial por ser influenciada agora. 

Ela nunca se incomodou muito sobre isso antes, por que nunca duvidou tanto das intenções das pessoas ao seu redor. Ela não notava que estava sendo influenciada, e também se estivesse, não poderia ser nada tão ruim, certo? Ninguém tinha motivos para ser ruim com ela. Como ela era gentil com o mundo, o mundo deveria ser gentil com ela de volta. 

Perceber como estava redondamente errada foi um processo de amadurecimento. Basicamente a puberdade da forma mais difícil. E como uma garota trans, a puberdade física que ela passou já tinha sido difícil o suficiente. 

Durante a vida adulta, Peeta entendeu, de forma muito relutante, que ela estava fadada à adversidades. 

A situação atual entrava facilmente para uma das adversidades da sua vida, sem dúvida. Ela sentia coisas muito intensas e não muito boas sobre as informações que nadavam na mente agora, prestes a serem repassadas pelos seus lábios para os oficiais investigativos da Little Monsters. 

Essas coisas se embolaram em nós dentro do peito dela, e era difícil desembaraçá-los quando não sabia mais onde começavam ou terminavam. Era difícil explicá-los também. Sabia que existia um grande nó reservado para Naevia, e outro para Navi. Admirava Naevia, gostava dela e reconhecia partes da garota que talvez ela não queria que ninguém soubesse que existissem. 

Via uma gentileza genuína em Naevia. Uma vontade de ajudar e proteger, de crescer por mérito próprio para ajudar outras pessoas a fazerem o mesmo. Mas... Também via uma tendência de fazer tudo e qualquer coisa para conseguir concluir seus objetivos, e por mais nobres que sejam, se os métodos forem nocivos... 

Era assim que ela não só sobrevivia dentre as facções, mas também ganhava dentre elas. Era assim que ela protegia Navi, o restaurante, as borboletas. Mas também era assim que ela acabava compartilhando pontos em comum com Oliver.

E também era assim que acabava influenciando Peeta a fazer as coisas que queria de uma forma que odiava, a mesma forma de Oliver há um ano atrás. 

O nó de Navi era ainda mais complexo. Peeta amava Navi, de verdade. Nunca achou que teria uma relação tão real com alguém depois de Oliver, mas tinha com Navi e não era difícil considerá-lo a sua família. Porém, por mais que Navi estivesse sempre ao seu lado e a ajudasse em todas as etapas possíveis da sua recuperação até a sua independência, Peeta se sentia incrivelmente solitária com ele. 

Navi podia amar ela de volta, mas ele não se abria de verdade. Navi a ajudava, mas não aceitava ajuda de volta. Quando coisas sérias aconteciam com ele, ele lidava com tudo sozinho, mesmo até quando sabia que sairiam do seu controle alguma hora. Se Navi tivesse dito toda a verdade para Peeta, a situação atual seria diferente? Os dois teriam conseguido fazer algo diferente? 

Peeta não estava tão envolvida quanto ele por também ter visto Ronan machucado no restaurante naquela noite?

Peeta acabava se culpando por não ter tentado se conectar mais com ele e fazer mais por ele. Mas como fazer isso com alguém que não te permite? Peeta nunca foi uma pessoa de arrombar portas, pelo contrário. E gostaria de não ter que mudar. 

Mesmo agora, o vendo enfezado fisicamente ao seu lado no banco do carona do carro que Enzo dirigia para levá-los até a LM, ele ainda estava muito distante emocionalmente para ela tentar qualquer coisa. 

E na bagunça de nós que ela se encontrava agora, não tentaria mesmo.

Navi sempre dizia que Enzo era sensível como um tijolo com as pessoas e que não sabia nem ao menos sentir o clima de uma sala. Mas Peeta precisava discordar ao notar o quão quieto Enzo passou o tempo todo no carro, evitando de encarar os dois pelo retrovisor, claramente querendo dar espaço para ambos naquele momento tenso. 

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