Capítulo 2

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Ele não conseguia encarar Navi por muito tempo.

Isso o fez arquear as sobrancelhas. Era só por vergonha, ou outra coisa? O garoto era difícil de se ler, sendo um dos primeiros casos assim para Navi. Era bom em observar as pessoas, principalmente em descobrir coisas que não queriam que descobrissem.

Navi aprendia a não se expor com os erros alheios.

O garoto ficou em pé após instantes de silêncio estranho entre os dois, em que Navi apenas o analisava com os olhos, querendo traçar um padrão entre a aparência com o jeito que agia. Ambos pareciam tão... Distantes. Um pouco desconcertante, mas Navi queria acreditar que não era um sinal de que salvou algum tipo de assassino ou criminoso.

O garoto era intimidante. Pelo menos cinco centímetros mais alto, com ombros relativamente largos, o cabelo branco bagunçado ao redor do rosto como se quisesse escondê-lo, o tapa-olho agora não tão branco como antes, sem o óculos que caíra ao quebrar, o olho claro e intenso, expressivo, e linhas negras - tatuagens - que Navi podia ver cobrindo toda a sua pele que não fosse a do rosto.

Ele era intimidante, diferente, e extremamente atraente por conta do conjunto todo. Porém, ao mesmo tempo, agia como um filhote perdido de pata machucada, só que evitava de chorar por medo de fazer barulho.

O que seria muito engraçadinho se não aparentasse ter medo de Navi, e se Navi não estivesse sozinho com ele dentro do restaurante tarde da noite.

- Hã... Eu... - ele afundou uma mão no couro cabeludo, claramente nervoso. - Eu estou muito confuso nesse momento. - soltou de uma vez só, em uma respiração.

Navi deu um sorriso nervoso, acostumado a rir em situações muito complexas.

- Oi. Meu nome é Navi, e o seu?

Isso fez o garoto olhar para ele mais confuso do que antes. Navi finalmente conseguiu dar uma risadinha, sem dificuldades para se divertir com a desgraça alheia. Ele se ergueu do banco, sentindo as coxas latejarem enquanto abaixava o volume da saia com as duas mãos e batia nos amassados da roupa em seguida.

Não precisou olhar para o garoto para saber que ele desviava o olho no momento.

- Eu adoraria saber seu nome agora, de verdade.

- Ronan.

- Hmm. Só Ronan?

- Você também só me disse o seu primeiro nome. - ele respondia rápido, claramente agitado enquanto mantinha uma distância segura de Navi.

- Evergreen. - Navi o olhou diretamente, apenas para assustá-lo mais. - Navi Evergreen. - disse o nome inteiro da única forma que sabia: Com orgulho inchando o peito.

- É só Ronan. - ele soltou uma respiração longa, abaixando o olho de forma até um pouco triste. Se tivesse orelhas de cachorro, elas teriam caído. - Eles me nomearam de Walker. É o...

- Procedimento para quem não tem sobrenome. - Navi terminou junto com ele, piscando surpreso. - Então você é um semideus.

Ronan assentiu em movimentos pequenos. Talvez Navi fosse suspeito para falar, mas considerava a presença de semideuses algo comum na sua vivência. Quando se existiam tantas mitologias diferentes semideuses se multiplicavam como água, principalmente quando poderiam existir mais de dois semideuses com a essência do mesmo deus. Se ligasse qualquer canal de notícia em qualquer horário, veria pelo menos uma reportagem sobre o aumento de semideuses a cada ano.

Algo supostamente "preocupante" para a sobrevivência dos cidadãos de bem. Também conhecidos como humanos.

Era normal que semideuses não possuíssem sobrenomes, pois eram retirados dos pais mortais no começo da vida. Ou matavam os pais mortais no começo da vida. Casos de semideuses que sabiam suas origens junto do seu sobrenome eram os mais difíceis de se encontrar.

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