Capítulo 33

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Navi abriu os olhos algumas vezes antes de realmente acordar.

Soube que acordou de verdade quando as coisas deixaram de rodar e se multiplicar ao seu redor, quando sua visão finalmente se estabilizou para que seus outros sentidos pudessem seguir.

Então, a primeira coisa que reconheceu foi um teto fortemente iluminado e branco, que apenas machucava seus olhos. Sua respiração era errática, mas existia, e não doía respirar como achou que iria.

Percebeu logo que não estava preso na cama. Não existia máscara de oxigênio nenhuma sobre o seu rosto, assim como os fios ligados aos seus braços eram pequenos o suficiente para não o restringirem. Se conseguisse se mover, conseguiria sair da cama sem problemas.

Não conseguia.

O processo pelo qual passava agora deveria ser o mais lento da sua vida, praticamente recuperando a alma e a consciência dentro do corpo, e então acionando ambos ao mesmo tempo para poder voltar a funcionar dentro da sua realidade.

Não conseguia explicar de outra forma. Não fazia ideia quanto tempo passou desacordado dessa vez, - é possível perceber como já estava cansado disso? - apenas sentia como se tivesse morrido, mas alguma parte dele, provavelmente seu cérebro, não aceitou isso e decidiu trazê-lo de volta, interrompendo o descanso que claramente precisava.

Ele tossiu, sem nem entender por qual motivo estava tossindo, e a presença constante ao redor dele se moveu na hora.

Navi ainda demorou mais para voltar a ouvir, e além de ouvir, entender as informações que seus sentidos captavam. Finalmente, entendeu a voz de Naevia falando consigo, virando o rosto na direção da sua voz para vê-la.

A garota respirava pesadamente, o peito subindo e descendo de forma desesperada enquanto seus lábios se moviam sem parar, chamando-o como se quisesse evitar que ele dormisse mais uma vez.

Ainda era a mesma Naevia que ele se lembrava. A imagem familiar foi como um bálsamo instantâneo para o garoto atordoado, reconhecendo os dois rabos de cavalos que ajudou a fazer no alto da cabeça da irmã, agora com o cabelo bem mais bagunçado do que normalmente e sem os vestidos que costumava usar; em vez disso um moletom cinza que parecia ser grande nela e jeans azuis.

No pescoço, Naevia estava com uma rosa azul.

- Navi? - Naevia soou genuínamente preocupada, apoiando as mãos sobre a borda do colchão em que Navi estava.

Colchão. Ele olhou para baixo, para os fios conectados nele, para as máquinas conectadas nesses fios, dentro de um quarto que só poderia caber na descrição que conhecia de hospitalar.

Não que Navi tivesse alguma experiência fisíca para comparar com, por que nunca havia entrado em um hospital antes na vida. Também achava que continuaria sem entrar, assim que além de ser ilegal, também podia se curar.

O que ainda não quer dizer que ele não queria entrar em um hospital.

- Consegue me ouvir?

Naevia ocupou seu campo de visão inteiro, tão preocupada que acabava sendo delicada e gentil, com os dedos tremendo enquanto aparentava ter medo de tocá-lo diretamente.

Com dor no corpo todo por conta da posição em que esteve por sabe-se lá quanto tempo, Navi assentiu de forma letárgica, se esforçando para deixar a irmã saber que realmente se encontrava consciente dessa vez.

Naevia desabou de alívio.

Naevia soltou os ombros e uma respiração, como um balão se desenchendo de ar. Ela abaixou o rosto, e Navi percebeu os olhos dela se enchendo de lágrimas. Não sabia quando foi a última vez que a viu chorar, não dessa forma.

Blue/Red Black [BL] (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora