Capítulo 21

66 10 21
                                    


Naquele momento, o escuro se tornou um consolo. 

Peeta fechou os olhos que ardiam e latejavam de tanto chorar contra o abraço macio de Kaíra, se escondendo no escuro das memórias ruins que eram como âncoras que a puxavam para baixo, a corrente que as ligava enfiadas no seu corpo como agulhas. Apenas com o passar do tempo que o choro de Peeta foi se acalmando, assim como a sua respiração, deixando de interromper o silêncio profundo da sala de conferências que estavam. 

Kaíra não a soltou em momento algum, ou sequer tentou se mover para ficar mais confortável. Também não tentou dizer nada, provavelmente por que não havia nada para dizer no momento. 

Peeta com certeza se sentiria embaraçada pelo jeito que estava agindo com uma completa estranha como Kaíra. Não só uma completa estranha, mas uma OIS também. 

Ela não tinha as mesmas experiências traumáticas que os Evergreen. Antes de Ronan, nunca tinha se encontrado com um OIS de forma direta na vida, nunca foi oprimida por eles como ouviu em histórias de outras criaturas mágicas, mas também nunca foi salva por eles da mesma forma. Sua real fonte de insegurança era a LM e a ligação que tinham com os Lancaster, e não fazia ideia como os OIS, que representavam a LM, se comportavam em relação à isso. 

Eles poderiam muito bem apenas seguir ordens, seguirem o sistema e a justiça, e devolverem Peeta para seus donos legais. 

O medo de voltar a ser uma posse dos Lancaster era maior do que ela mesma. Peeta preferia passar a vida sem um sobrenome, como agora, do que voltar a ser Peeta Lancaster. Seus pais nunca tiveram a chance (ou o interesse) de lhe darem um sobrenome já que a venderam tão cedo durante a infância. 

Mas agora sinceramente não conseguia ver Kaíra fazendo nada daquilo, ou concordando com nada daquilo. Kaíra a fez contar a história inteira por que parecia genuinamente interessada em entender Peeta melhor, em tentar ajudá-la. 

Talvez o maior erro de Peeta fosse não enxergar os OIS como individuais diferentes e sim uma unidade de força. Ou talvez esse fosse apenas o seu maior defeito a atacando de novo, a vontade desesperadora de querer acreditar em coisas boas e confiar nelas. 

Então, Peeta ouviu a porta da sala sendo aberta.

- Essa cena com certeza entra para a minha lista das coisas mais estranhas que eu já vi nessa empresa. 

Kaíra fechou a expressão automaticamente para Siegrain, mas o supervisor apenas sorriu em resposta como se não lidasse com alguém completamente intimidante. Peeta paralisou nos braços dela, o corpo ficando tenso em resposta. Não havia muito que Kaíra pudesse fazer, e sinceramente estava surpresa que o instinto de fugir ou lutar de Peeta demorou esse tanto para aparecer. 

Mas Kaíra não a soltou do mesmo jeito. E não se importava com a forma que Sieg a estranhava por isso. 

- Aparentemente a minha punição é ter que lidar com você. – Kaíra grunhiu. 

- Muito engraçado. – Sieg apontou para ela. Kaíra apenas piorou o jeito que o fuzilava com os olhos frios e corrosivos. – Eu fui quem se ofereceu para vir aqui primeiro por pura curiosidade mórbida. Mas se você for parar 'pra analisar, tudo que eu faço aqui dentro é por conta de curiosidade mórbida. – ele suspirou, como se contasse uma piada interna. Kaíra não tinha o menor interesse. 

Sieg se aproximou das duas, mas manteve uma distância segura para não ser esfaqueado por Kaíra.  

- Era eu, – agora ele apontou para si mesmo de forma geral. – ou a James te questionando, quem você preferia? 

Blue/Red Black [BL] (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora