Capítulo 6

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Acurralada pela própria adrenalina que limitava seu processo de pensamento racional e aumentava os instintos em níveis perigosos, a quimera entrou na primeira abertura que viu, sem reconhecer o beco escuro de primeira.

Dizer que o bestial causou caos dentro do Marco Zero seria fazer pouco caso da situação atual.

Durante a fuga enlouquecida, a quimera destruiu completamente dois estabelecimentos comerciais pequenos: Uma boutique e uma doceteria, ambas com vidros e móveis quebrados agora, tanto manequins quanto balcões e mesas e cadeiras, assim como as mercadorias que eram de fácil acesso para os clientes.

O dano não seria tão ruim se a quimera não fosse uma criatura tão assustadora para os humanos, que eram maioria no Marco Zero. O pânico que a figura dela causava - metade leão, com a parte superior do corpo metade cabra e a parte traseira metade serpente com uma cabeça sibilante no lugar do rabo - era bem maior que os dos outros bestiais.

As pessoas presentes auxiliavam a piorar o estrago em meio ao desespero, sem conseguirem prestar atenção em mais nada. O Marco Zero inteiro deve ter parado de medo para observar, da mesma forma que alguém paralisa ao observar um acidente de carro, o monstro que afundava o asfalto da rua ao correr e dificilmente desviar de pessoas que não acreditavam no que viam antes que fosse tarde demais.

Apesar de ser uma sociedade supostamente mágica, a grande massa não sabia lidar com monstros - criaturas mágicas - soltos pelas ruas. Funcionavam dentro de um sistema social rígido que não permitia quase nenhuma liberdade para monstros. Monstros não deveriam existir, e se existiam, não deveriam em hipótese alguma se misturar e se camuflar entre as pessoas. 

Eram perigosos demais e aquela quimera só comprovava isso agora. 

Bestiais representam a maioria dos monstros entre as criaturas mágicas e não possuem meios para se comunicar com humanóides e humanos. Ainda assim, era possível entendê-los se você prestasse atenção de verdade. E prestando atenção na quimera, Ronan percebeu que ela só queria fugir e achar um lugar seguro, pois nem mesmo tentou soltar fogo uma única vez para se defender ou matar. 

Ela só queria sobreviver longe de um ambiente que a fazia temer pela própria vida. 

Mais um dia normal de trabalho para Ronan.

Ronan ofegava ao chegar a entrada do beco, tentando se focar em uma coisa por vez: Primeiro precisava reter a quimera antes de se preocupar com o estrago generalizado que ela causou. Aproveitando-se da escuridão do espaço, Érebo tomou controle das sombras presentes ali e as amarrou em volta das patas da quimera como se fossem cordas, antes mesmo do bestial conseguir chegar até o fim do beco e perceber que não encontraria mais nada além de uma parede.

A quimera caiu ao chão guinchando em pânico, chacoalhando o corpo inteiro de forma agressiva para conseguir se libertar do que a restringia agora. Ronan cerrou os dentes ao não deixar as sombras a soltarem, resistindo aos protestos da quimera. Era quase como um cabo de guerra, só que bem mais exaustivo pelo tanto de magia que usava.

Não muito tempo depois viu Astra chegando na entrada do beco também, agachando-se rapidamente e tocando o chão com as duas mãos espalmadas. Um escudo de contenção de energia rosa se ergueu em volta da quimera, permitindo que Ronan soltasse as sombras.

O bestial mal registrou a liberdade nas patas antes de se erguer e colidir com o máximo de força que pode reunir contra o escudo de contenção, tentando quebra-lo dessa forma. Conhecendo a magia de Astra, a quimera era muito fraca para quebrar o seu escudo, mas isso não significava que ele não sentia cada um dos ataques e que não se machucasse ao ter que resistir como Ronan fazia há pouco tempo.

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