Capítulo 31

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Aparentemente se ganhasse uma moeda por toda vez que um dos gêmeos Evergreen tentou matá-lo, teria duas moedas, o que não era muito, mas com certeza era estranho que isso aconteceu mais de uma vez.

Ronan sequer levou isso em consideração quando percebeu que a plataforma em que estavam ia cair. Seu primeiro instinto foi o de correr até Navi novamente, sem registrar nada de verdade, sem registrar a dor intensa que o atingiu quando foi jogado contra o parapeito ao fugir da flecha, sem registrar que estavam caindo por conta de Navi.

Ronan o alcançou e o segurou de forma firme para que amortecesse a queda de ambos o máximo que pudesse.

Corria o perigo, por mais que não entendesse nem quando e nem como chegaram a esse perigo, de Navi aproveitar a proximidade para atirar em Ronan novamente.

Navi não atirou.

A gravidade os puxou para baixo de forma brusca, o estrondo alto da plataforma caindo ressoou nos ouvidos de Ronan até que ficou surdo, despencando sobre o mar vermelho abaixo. Ele ofegou em meio a uma das dores mais intensas da sua vida, o corpo todo tremendo em volta de quem segurava como se fosse a última coisa que tocaria.

Era parecido com o momento em que ambos despencaram da ponte e Ronan segurou Navi no colo para que não se machucasse, mas também era muito pior.

Ainda assim, Navi estava bem de baixo dele. Foi a primeira coisa que reconheceu.

Depois disso, Ronan voltou a escutar, podendo ouvir o próprio coração batendo desesperado e pesado entre as orelhas, assim como o coração frenético de Navi grudado contra o seu peito.

Ofegou e viu a própria respiração por um instante, como se a temperatura do ambiente tivesse caído. Sentia cada um dos seus músculos gelados, como se tivessem passado cubos de gelo pelas suas articulações, com o corpo frio como se fosse um cadáver.

Não sabia mais reconhecer os próprios sentimentos e as sensações naquele momento. Tudo era estática arranhando seu cérebro e pesando seu corpo.

Navi começou a se remexer por de baixo dele.

Ronan arregalou o olho ao ser acertado por mãos pequenas que conhecia bem à essa altura, o estapeando na área do peito algumas vezes. Os movimentos se tornaram mais frenéticos e desesperados com o passar do tempo, ainda que sem força necessária para machucá-lo.

Completamente diferente do que Navi tentou fazer há poucos minutos atrás.

- Com certeza não era esse o cumprimento que eu esperava. – Ronan grunhiu baixinho enquanto ainda segurava Navi, o absurdo da situação inteira arrancando a ironia do peito dele.

- O que pensa está fazendo--?! Você precisa me soltar--! Ronan! – a voz trêmula e cheia de horror de Navi subiu algumas notas ao exclamar de forma afobada.

Ronan ergueu o tronco para olhar para ele, sem soltá-lo. Apenas viu Navi. O mesmo Navi que veio até ali para salvar e o mesmo que ajudou a colocar na situação que estava agora. Estava coberto de sangue enquanto tremia sobre o chão, mas seus olhos não eram mais dois buracos negros cheios de sombras.

E ele não parecia querer matar Ronan agora. Pelo contrário.

Navi se encontrava tão mortificado com o que havia acabado de acontecer que seus olhos estavam cheios de lágrimas.

Ronan não soube explicar exatamente o quê doeu dentro dele, mas doeu e muito.

- Você precisa me soltar. – Navi repetiu, a voz tão machucada quanto horrorizada.

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