Prólogo

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" A inocente chapeuzinho vermelho caiu direto nas garras do lobo mal"

Templo de Sangravah — Prythian (Terras Feéricas) – 2 anos atrás

Dor, humilhação, agonia, fadiga, nojo, era tudo que eu conseguia sentir, as únicas emoções palpáveis.

O ar cheirava ferro, ferro quente, escaldante, como se tivesse sendo moldado na brasa... Sangue, era isso que trazia aquele odor, muito sangue.

A cabeça decepada de Catrin estava caída perto do seu corpo e de alguma forma não conseguia focar em outro ponto que não nela, na vida que ela queria, na coragem que era a marca dela, ou simplesmente no seu sorriso, tão grande e luminoso, mas agora tão distante e inalcançável.

Mãos frias agarravam meu corpo, tanta dor, o aperto nas minhas pernas abertas na mesa parecia cada vez pior, como se fosse arrancar minha cocha e a cada vez que aquele corpo horrível me violava, empurrava mais forte para dentro de mim, rasgava, me quebrava de tantas formas, que eu sabia, nunca mais eu seria a mesma.

Eu gritei, chutei, arranhei, mas a cada tentativa minha de me soltar, punhos fortes eram direcionados para meu rosto, meu corpo. Minhas mãos foram presas acima da minha cabeça ou tinha alguém segurando? Eu não sabia.

Parei de gritar, parei de sentir, o sangue da minha irmã cobria o chão, o azulejo branco estava tão vermelho, tão brilhante e aquele corpo tão imóvel, tão triste.

Eu sentia as lágrimas silenciosas escorrendo pelo meu rosto, escutava meu coração batendo em um ritmo tão lento, e quando parei de pedir a mãe, ao caldeirão que aquilo parece, que aquela dor acabasse, que aquele homem me invadindo, me roubando, sumisse, eu simplesmente desejei morrer.

A morte parecia tão boa, de alguma forma no meio daquilo tudo não mais a temia, já estava no inferno, nada podia ser pior que aquilo.

"Já que ela ficou muda e não vai falar onde estão as crianças, se revezem na vadia, talvez alguns de vocês sejam sortudos o suficiente para fazer essa vagabunda falar"

Fechei os olhos, não queria suporta aquilo e mentalmente era a única palavra que parecia possível de formular no meu cérebro "não, não, não..."

Tão pequena, tão inútil.

Algo se movimentou entre minhas pernas e o barulho de um cinto se abrindo ecoou ao meio das risadas e das piadas sarcásticas dos soldados de Hybern.

E então sombras cobriam tudo, e gritos que não eram meus, mas daqueles soldados ecoavam pela câmara e eles corriam fugindo, não me mexi, continuei encarando o sangue no chão, o sangue de Catrin.

Uma capa cobriu meu corpo, me protegendo e então eu encarei os olhos mais bonitos que eu já vi, cor de avelã, e então eu percebi que pertenciam a um homem, e ele falava alguma coisa comigo, mas não entendi, ele desapareceu em sombras, da mesma forma que chegou.

Uma mulher se aproximou, altiva esguia e linda, com cabelos loiros e olhos castanhos dóceis, ela me ajudou, conversava comigo, mas eu continuava olhando o sangue escorrendo pelo azulejo, como se dançasse e zombasse de mim, a mulher continuou falando e falando.

Enrolei mais aquela capa em minha volta e fechei meus olhos, a mulher se calou e mesmo com aquele ar de proteção pairando ali, com aquelas pessoas que me salvaram, eu não me sentia no meu corpo, era tudo um borrão, tudo doía tanto e então eu apaguei, simplesmente apaguei.

Que a mãe me levasse para a escuridão.

Destruída;

Quebrada;

Desesperada;

Terminar a vida parecia um caminho tão doce.

LIBERTA-MEOnde histórias criam vida. Descubra agora