Imagines Ruel

Pinkie finger

Eu segurava uma mala pesada na mão, as articulações dos meus dedos já estavam brancas e meu pulso doía tanto quanto bater o dedo mindinho na quina dos moveis.

Quando eu sai do aeroporto, não foi bem isso que eu imaginei. Eu pensava que a cidade estaria possivelmente cheia de pessoas correndo para lá e para cá, atravessando as ruas agitadas de Nova York com seus guarda- chuvas coloridos e seus casacos de inverno. O vento bateria forte contra meu rosto, fazendo meu corpo se arrepiar e meus ossos tilintarem de frio. A chuva cairia grossa e pesada, me molhando dos pés a cabeças, e as gotas de água escorreriam pelo meu rosto e se misturariam com minhas lagrimas salgadas.

Mas na realidade era o contrário. O dia estava lindo. Na verdade era um dos dias mais lindos que eu já tinha visto em todo minha vida. O tempo estava agradável, o sol brilhava com toda a sua graciosidade na imensidão do céu azul, sem nenhuma nuvem a vista, os pássaros cantavam de cima das árvores e voam em direção ao horizonte azulado do fim de tarde.

Lagrimas rolavam pelo meu rosto enquanto eu atravessava a ponte do Brooklyn, o Uber apesar de parecer preocupado, não disse nada.

Eu observava o céu fazer sua mágica ao se transformar aos poucos, com toda a sua delicadeza e elegância, em uma mistura perfeita de rosa, laranja e roxo, para só depois se transformar em um azul marinho pontilhado por estrelas douradas e ofuscantes.

É muito difícil conseguir ver as estrelas, quando se está em Nova York. Então quando tenho a oportunidade de as ver com clareza, eu sempre procuro aproveitar o máximo possível para admira-las.

Enquanto a noite caia e a cidade começava a se acender, ficando cada vez mais iluminada e glamorosa, e as pessoas saiam felizes para beber e dançar, ir a peças de teatros na Broadway, passear na Times Square ou até mesmo para ir fazer uma simples caminhada noturna no Central Park, eu ia a caminho de casa, as lagrimas já tinham parado de cair desde que o motorista do Uber me deixou na frente do meu prédio em Manhattan, aonde tínhamos um pequeno apartamento. Não é nada chique ou coisa do tipo, mas é aconchegante e confortável. Acho que eu poderia chamar o lugar de lar.

Tudo que eu precisava agora. Um lugar tranquilo e confortável para chorar até minha cabeça doer e meus olhos ficarem inchados.

A cada lance de escada que eu subia, era uma pontada no meu peito, pois eu sabia que a partir do momento em que eu entrasse ali, eu estaria sozinha. Completamente sozinha. Ele não estaria mais ali comigo. E quanto mais eu pensava sobre isso, mais doía, uma dor avassaladora que vai dilacerando meu coração e despedaçando minha alma. Como se a qualquer momento, eu pudesse só parar, naquele degrau muito alto e estreito para subir com uma mala incrivelmente pesada, e desabar ali mesmo.

— É, parece que estou sozinha novamente. – falo, observando meu apartamento cheio de decorações e fotografias espalhadas por todo canto. — Incrível!

A última parte meio que foi uma ironia.

Não que eu odeie ficar sozinha, eu até gosto, mas estou falando no sentido de estar sozinha de novo, ele morava comigo, seguíamos uma rotina, eu meio que me acostumei. E o que é suposto se fazer, quando se apaixona pelo seu colega de quarto.

É um país aonde eu não conheço muita gente; não tenho tantos amigos aqui, mas os que consegui são verdadeiros; os meus pais estão no Brasil; e bom, ele...ele fez a escolha dele. Ele decidiu que seria melhor seguir seus sonhos sem mim, e que culpa ele tem? Eu lhe contei o que sentia, e quando ele não respondeu nada, eu sai correndo.

Posso parecer dramática demais, e talvez eu possa ser mesmo. Talvez essa dor e esse aperto que eu estou sentindo no peito nem sejam grande coisa, e é uma coisinha boba que logo vai passar. Ou talvez eu realmente tenha perdido a pessoa que eu amava, pro resto da vida, e nunca mais o veja. Ou ainda pior, eu o encontre daqui a alguns meses, totalmente recuperado e com outra pessoa, como se eu não tivesse nem mesmo existido para ele.