Alazão

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Fazia calor. Eu estava atrasado para chegar no trabalho na pedreira. A ideia era, após utilizar todos os recursos da pedreira, construir uma grande casa. A pedreira ficava no topo do morro, o morro mais íngreme que se tinha notícia. Não era bom se atrasar, isso era coisa de vagabundo, e eu tinha acabado de começar meu trabalho naquele lugar.

Sem ter chegado a tempo, perdi o horário do bondinho para subida do morro. Não seria nada fácil subir aquele caminho sozinho, e levaria mais tempo do que eu estava disposto a perder. Por sorte eu encontrei um cavalo. Ele era grande, forte, totalmente branco, igual aqueles que valem milhões de libras esterlinas. O ruim era que não tinha sela. Mas não tinha o que fazer, eu não podia perder mais tempo. Vai na dificuldade de manusear e doendo a bunda mesmo.

Eu já tinha andado a cavalo antes, mas sem sela é outra coisa. Além da minha bunda encostar de forma completamente desconfortável na coluna do cavalo, eu precisava me segurar na crina do cavalo para ter um mínimo de equilíbrio, e isso deixava o cavalo obviamente consternado. A subida era tão íngreme que eu temi cair. Se eu caísse, certamente morreria.

De repente, o cavalo começa a falar. Assim, do nada mesmo. Ele começa a conversar com supostos dois amigos, também equinos, pelo zap. Se era um zap só para equinos, isso eu não sei. Eram amigos que o cavalo não via faz tempo, e ficou muito feliz com a ligação. Estava contando que estava me transportando para a pedreira. Fiquei surpreso ao descobrir que não era a primeira vez que ele fazia isso, e que algum arruaceiro roubou a sela dele para comprar crack, segundo as palavras dele. Ok, até aí tudo bem, eu não tinha conseguido falar nada até então porque achei que estava ouvindo coisas.

Eu percebi que o cavalo não carregava nenhum telefone, não tinha nada preso num cordão, tampouco colado em alguma parte do seu corpo para que se comunicasse com seus amigos. Então, eu finalmente falei:

Cavalo, onde que está o seu celular que eu não to vendo? Falei.

Ué, onde mais que o meu celular estaria? Dentro do meu cú, é óbvio.

Desalinhos e TormentosOnde histórias criam vida. Descubra agora