Predador de Primeiros Momentos

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É isso, mais um relacionamento que se finda. E tudo por minha culpa, pelo meu capricho. A verdade é que só me basta a paixonite do começo, o frio na barriga, o medo de não dar certo e, bum, tudo dá certo, o romance começa. Temos nossos primeiros momentos. O primeiro passeio, o primeiro beijo, o primeiro amasso. Faço tudo com o maior carinho e dedicação, quero que seja um espetáculo. Quero ser amado tão profundamente e quero ser a melhor pessoa com que qualquer um já sonhou em estar.

Porém, chega determinada hora que eu canso. Simplesmente canso, sem mais nem menos. Canso da mesma risada, do mesmo conforto, de estar no mesmo lugar com a mesma pessoa. Ainda mais se for realmente um relacionamento saudável, com um certo alguém mentalmente estável. Eu anseio, eu preciso consertar, eu preciso melhorar cada aspecto de uma pessoa, preciso da toxicidade, dos ciúmes, da falta de confiança. É o que me faz continuar, nas raras vezes que continuo muito tempo com alguém. A verdade é que a maioria de todos nós prefere o que é tóxico, o que é ruim, pois nós achamos que é isso o que realmente merecemos, e isso, querendo ou não, é o mais puro fato. Não fomos feitos para a mesmice da felicidade, da rotina. Somos predadores, nômades, sempre em busca de mais comida e se mudando da terra arrasada. Não fomos feitos para cultivar, fazer prosperar, fazer dar certo. Somos feitos para predar, e eu gosto de obedecer a nossa natureza.

Assim, ao longo de tempo com qualquer ser, eu perco a vontade de continuar, de fazer lembrar que a pessoa é amada. Não vale mais o esforço, porque a paixão já acabou, só restou o amor, aquele que é mais brando, sereno e constante. Sim, eu posso ser cruel, mas eu não deixo de ter um carinho, mesmo que fraternal, pela pessoa. Eu detesto a constância. Eu quero a montanha russa emocional, a vontade de morrer seguida da vontade de viver a vida intensamente, eu quero sempre o começo de uma ficada, de um namoro de filme. O que existe depois são só duas pessoas empurrando com a barriga, que se acomodaram num relacionamento que, no fundo, não as serve mais.

Para mim, tudo bem deixar com que a outra pessoa sofra. Eu sei que ela estará melhor sem mim, num futuro próximo. Logo estará com alguém, não tão bom quanto eu, é óbvio, mas ela vai superar. E eu, posso sair das amarras do relacionamento sério, e posso voltar a me divertir para valer. E eu parto para outra, para caçar mais uma vez. Parto para outra vítima da minha vaidade, para causar mais dores, para roubar daquela pessoa sua particularidade durante os primeiros momentos de intenso amor. E mais uma mágoa causada por mim e, depois, é claro, seguimos para a próxima.

E a próxima.

E a próxima.

E a próxima.

Até que a morte me separe de minhas presas.

Desalinhos e TormentosOnde histórias criam vida. Descubra agora