vivos

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Naquele lado da casa não havia bosque, não havia sol pela manhã, não havia céu azul, não havia jardim e não havia conforto. Mas havia frio, havia medo, havia cicatrizes e dor, muita dor. E, principalmente, havia Noah e Sina.

Os últimos quatro anos foram tiros no escuro, tudo que era feito ali tinha uma sensação pesada de cansaço e um pesar enorme. Medo de absolutamente tudo.

Esse tempo mudou Sina, de garota divertida e companheira, pra dura e insegura. A loira agora é totalmente pessimista, não consegue enxergar luz no fim do túnel quando não dá pra ver nem o túnel. Noah também amadureceu muito nesse tempo, se tornando um homem justo e corajoso, mas sem perder sua essencia. Ele mantém Sina de pé, sorrindo pra ela e demonstrando que enquanto estiverem juntos ainda há esperança.

— Como você acha que ela tá? — Sina pergunta.

Ela. Quando isso é dito, imediatamente, os dois já sabem sobre quem estão falando. Heyoon. Tanto tempo que não veem ou escutam nada sobre a garota.

Ela está viva?

Essa é a pergunta mais feita por eles todos esses quatro anos. Tempo o qual eles não fazem ideia do tanto que passou. Ali naquele lugar imundo, só acontece dia após dia. Sina até tentou contar no início, mas depois do dia 500 ela perdeu a conta.

Noah tentava manter todas suas ideias no lugar, perdeu as contas de quantas vezes Sina chorou por horas a fio em seus braços. Para o garoto de olhos verdes, ser forte no inicio, era torturante e difícil. Toda sua vida se apoiou em Heyoon, a morena era seu alicerce, o lugar que o fazia sentir confortável o suficiente para chorar. Ela o fazia sentir em casa. Era como se Heyoon fosse o ponto de confiança e paz dos amigos, sempre a procuravam para tudo. 

Aos cinco, quando seu primeiro dente caiu, correu até Heyoon e chorou de soluçar por estar sem ele. Noah levou aquilo pelo fato de se recusar a escovar os dentes, quando sua melhor amiga o contava todos os dias, com toda sua sabedoria aos cinco anos de idade também, que saúde bucal é muito importante. Quando correu pelos degraus da velha escada de madeira e se jogou em seu colo, contando a ela como Sina se declarou a ele e o assustou, porque aquilo não era recíproco e ele não sabia lidar com aquela situação. A morena afagou seus cabelos e o aconselhou a dizer a loira, de forma sutil, que não sentia o mesmo tipo de apreço por ela. 

O sorriso de Noah ao voltar ao quarto e contar detalhadamente a Heyoon como conseguiu ser gentil, rasgava seu rosto e brilhava como o sol. A garota o disse que estava orgulhosa demais do seu garoto, porque sabia que ele era bom, e por mais que doesse em Sina agora, ser sincero é sempre superior. 

Sina sempre buscou por amigos, passar maior parte de sua infância praticamente sozinha é doloroso. Suas feridas vem de muito cedo, não ter nenhuma outra criança perto de si era doloroso. Tudo mudou no estúpido dia que fazia dez anos, jurava que passaria aquela data sozinha de novo. Para piorar, acordou com suas roupas sujas de sangue e imaginou na hora que ia morrer. Correu ao banheiro pra lavar suas roupas e deu de cara com Heyoon, ela se assustou ao ver o sangue e disse a Sina que seus hormônios deviam ser precoces. A loira começou a chorar, ela não podia acreditar que ia morrer em pleno seu aniversário de dez anos, Heyoon deu a ela seu colo e contou que aquilo era menstruação, a médica havia dito a ela que era algo normal e que a maioria das mulheres sangravam assim mensalmente. Sabia de tudo isso porque ela também tinha hormônios apreçados. Depois daquele dia, Heyoon e Noah a colocaram debaixo de suas asas, diziam que agora eram o maior trio de todos os tempos. 

A partir daquele dia, Sina soube o que era ter amigos e nunca mais se sentiu sozinha. 

Até hoje. 

Ela o procurou por todos os cantos imundos daquela casa, não o achou de forma alguma. Seu suéter azul estava molhado por todas as lágrimas salgadas que desceram por sua face pálida, seus olhos verdes estavam assustados e ao mesmo tempo frios, como tivessem arrancado sua juventude e força de espírito. Acordar sem Noah ao seu lado nunca foi tão difícil, porque das outras vezes ele voltava e aparecia, com seu sorriso doce e palavras sobre o quanto estava ansioso sobre o dia que sorriria de verdade. 

Na outra casa, Noah estava sentado sobre a pequena cama que costumava ser sua, corpo trêmulo pelo vento que não sentia bater a pele faziam quatro longos anos. Heyoon lhe empurrara um copo com água e agora estava sentada a cama da frente, aparentando certa intimidade interessante com Joshua. Noah sempre o achou estranho, olhava Any  como se ela levasse o mundo nas costas, e o problema de olhar alguém assim é que uma hora o peso do mundo  é demais pra qualquer um aguentar. 

Noah queria Sina. Queria saber como ela estava. A emoção de achar Heyoon viva após tanto tempo o fazia quente, mas aquilo não era bom o suficiente sem Sina ali. 

"Você consegue me entender?" 

Seus olhos verdes arregalaram. 

Joshua não concordava em Heyoon se expor assim, mas ela confiava cegamente em Noah. Ele nunca a faria mal. 

"Pelo seu rosto, acho que sim. Sina está viva? Está bem? Consigo ver que está procurando algo. Me diga. "

"Ela está viva e estava bem até a minha última memória. Yoonmoon, o que farão com Sina?"

E essa é uma resposta que nenhum dos três ali poderia responder por longos dias. 

𝗠𝗔𝗗 𝗪𝗢𝗥𝗟𝗗 ミ heyosh Onde histórias criam vida. Descubra agora