Amaranto

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A Bruxa das Flores

Capítulo 1 – Amaranto

"Imortalidade, Amor que nunca morrerá"


A luz do amanhecer, como sempre, ultrapassa minhas pesadas cortinas, despertando-me. Meu quarto, o único lugar que posso manter mais escuro que todos os outros cômodos da casa, sempre me trai, iluminando-se mais do que devia. Ainda deitada, foco meus ouvidos nos sons de fora da janela.

"Agitação."

É como descreveria os ruídos vindos da rua, tão altos e perplexos e corridos que nem mesmo consigo ouvir os sons das ondas que se quebram na areia não muito distante de minha casa e nem mesmo os pássaros que normalmente pousam ou sobrevoam minha janela.

Espreguiço-me e levanto devagar, abandonando a cama bagunçada atrás de mim. Curiosa pela agitação, vou até a janela, empurrando as cortinas que tentaram, em vão, proteger meu quarto da luz do dia. Abro o vidro e olho para fora.

Exatamente como imaginara, as pessoas correm para lá e para cá, algumas esbarram umas nas outras, "viu as notícias?", perguntam, "claro que vi! Incrível, não?", e então se afastam apressadas, conversando com outras pessoas. Sorrio com a cena, olhando daqui de cima, da janela do segundo andar de minha casa, onde se encontra meu quarto, a cena que assisto parecem formigas quando correm apressadas e param para encostar as cabeças e antenas passando informações para a outra e então saindo apressadas novamente.

Tenho certeza que logo descobriria o motivo de tudo isso, então, criando a coragem que preciso para cuidar dos afazeres do dia a dia, afasto-me da janela e deixo meu quarto, indo ao banheiro no fim do corredor, onde faço o que preciso fazer das necessidades básicas e retorno ao quarto apenas para me trocar rapidamente.

Fora o quarto, o banheiro e a cozinha nenhum outro cômodo é mobiliado, ao invés disso, plantas de todos os tipos, das mais raras às mais simples e comuns dominam todo o interior da casa, o que me obriga a deixar todo o resto da casa iluminado e arejado para que cumpra com as necessidades e características de cada uma dessas plantas. O teto é todo em vidro, assim como as janelas, algumas pessoas acham estranho e me perguntam se morar assim, sempre na luz não é insuportável. Claro que não, talvez às vezes, se meu quarto conseguisse se manter mais escuro.

Desço devagar os degraus de madeira da escada, tomando cuidado para não machucar a trepadeira que se enrola no corrimão. Vou até a cozinha, logo atrás da escada, decidindo qual seria o café da manhã. Olho rapidamente para o poleiro em frente a janela do que deveria ser a sala, se eu assim tivesse mobiliado, percebendo que encontra-se vazio, Laima provavelmente voltará logo com as notícias agitadas de hoje.

Volto minha atenção para a geladeira, repassando seu conteúdo rapidamente. Vou até o fogão onde ligo o forno, encho com um pouco de água, uma leiteira ou caneco, isso tem nomes demais para saber qual deles é o verdadeiro, coloco na boca do fogão acendendo o fogo.

Enquanto a água ferve, alcanço a garrafa de café no cantinho da mesa e despejo o líquido velho na pia, lavando a garrafa e então posicionando o suporte e o coador de pano na boca da mesma. A água fervida despejo no coador vazio, lavando-o para eliminar o gosto de pano.

Encho novamente a leiteira com duas canecas de duzentos e cinquenta ml e a volto para o fogo, dessa vez adicionando cinco colheres de açúcar à água e três colheres de pó de café no coador, lembrando também de esvaziar a garrafa da água que passara no coador.

Abaixo-me para pegar no armário uma fôrma redonda vermelha de teflon amarelo em seu interior e a deixo na mesa enquanto retiro do freezer um pacote de pães de queijo congelados e os distribuo na forma, dez pães de queijo bem dispostos com espaçamento de uns dois centímetros e os levo ao forno aquecido.

Retorno o pacote ao freezer e enquanto assam, pego da fruteira uma maçã, partindo-a em quatro na mesa. Levo a fruta cortada para o comedouro de Laima e a deixo a sua espera. Ouço as primeiras bolhas se formarem na água do café e vou desligar o fogo. Deixo a água quente cair sob o pó lentamente, com movimentos circulares. Ao terminar de passar o café, tampo a garrafa e a deixo na mesa.

Com isso, enquanto os pães de queijo assam, continuo a rotina, agora preciso jogar água em todas as plantas, ou o máximo que conseguir até poder ir comer. Esse trabalho me rende pelo menos cinco horas do meu dia, as vezes mais e, quando estou fora a trabalho, essa rotina se torna a rotina de Emily, que no momento encontra-se sentada em seu lugar, adormecida em uma cadeira de metal branca, entre as folhas das samambaias.

Passo rapidamente os olhos nas plantas à minha volta, procurando alguma que florira e, para minha surpresa, a flor de amaranto me encara silenciosa.

— Interessante. — murmuro.

Jogo o máximo de água no máximo de plantas que consigo até sentir o cheiro agradável dos pães no forno, indo até eles com a barriga roncando e a boca salivando ansiosa. Retiro a fôrma colocando-a sob um descanso na mesa e desligo o forno. Então, pego minha caneca e me sento a mesa, servindo-me de café e amassando os pães de queijo com a mão a fim de esfria-los para comer.

Como ansiosa e com vontade, encarando o amaranto com curiosidade. O farfalhar das asas de Laima me faz olhar para a janela. O pássaro verde com o peitoral vermelho e a cauda duas vezes maior que seu pequeno corpo de aproximadamente trinta e seis centímetros, pousa no poleiro, agitando levemente a crista arrepiada de sua cabeça, parecia cheio de expectativa.

— Alma, — pronuncia meu nome de seu pequeno bico levemente aberto — está sabendo das notícias?

— Não. — nego com a cabeça — Resolvi te esperar para que me contasse.

— Parece que capturaram uma sereia. — Laima se abaixa alcançando a maçã no comedouro. — ou seria um tritão? Tem aparência masculina.

— Sim, um tritão. — mastigo um pão de queijo rapidamente tentando esfria-lo a cada mordida. — e então? O que fizeram com ele?

— Parece que foi levado às pressas por alguns pesquisadores e veterinários e até médicos, qualquer um que conseguisse estudar e entender o que viam. A realidade deles foi abalada por um ser dito de lendas e histórias fictícias. — limpa delicadamente o bico na madeira do poleiro.

— E? — beberico meu café.

— E não sei. Parece que vão estuda-lo e se sobreviver vão expôr para o público.

Resmungo apenas um leve "hum", as pessoas são engraçadas e até divertidas, quando não são motivos a se temer.

O som da campainha tocando me faz dar um pulo na cadeira, olho para Laima e ele também parece agitado. Apesar do susto, ambos esperávamos que a campainha tocasse ao saber das notícias.

Antes de descer mais alguns degraus para abrir a porta, rapidamente coloco mais pães de queijo para assar e só então me movo para a escadaria que leva à porta de entrada. Passo levemente as mãos pela minha saia a fim de tirar qualquer amassado no tecido e então abro a porta.

Um rapaz nos seus vinte e poucos, não muito alto, talvez 1,65 de altura e cabelos castanhos curtos e bagunçados, arrumados na pressa e desarrumados também na pressa, vestia uma camiseta branca embaixo de um caso verde e calça jeans. Levava consigo uma bolsa de alça transversal preta sob seu ombro direito. Olho para suas mãos e sorrio, carregando consigo, apertando tão forte que a ponta de seus dedos estavam amarelas, um vaso com um amaranto florido.

— Preciso de ajuda — fala nervosamente. — e acho que só você pode me ajudar.

— Ora — dou espaço para que ele passe pela porta. — entre então.

  Continua?

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