ETERNITY | WangXian

[1820]

Boa leitura!

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Dinastia Qing, Pequim, 1820.

O sol brilhava poderoso no céu em um arco flamejante de dourado e laranja que iluminava as nuvens brancas e deixava padrões alaranjados na extensão quase violeta naquele fim de tarde. Wei WuXian sentia o vento no rosto, forte e com o cheiro de flores silvestres do campo abaixo — a primavera finalmente havia chegado em Pequim, e mesmo que a cidade estivesse à beira de um grande conflito, as ruas continuavam empilhadas de barracas que vendiam comida, pessoas que caminhavam apressadas e guardas imperiais que circundavam toda a extensão da cidade como corvos em suas roupas negras como a noite.

Wei WuXian estava no telhado de uma casa de perfumaria a qual não tinha dinheiro o suficiente para entrar, mas pernas boas e ágeis para subir sem ser notado pelo dono. Dali, ele podia observar os telhados de madeira e zinco em uma mistura de preto, dourado e laranja que tornava a cidade imperial de Pequim uma vista um tanto comum — não fosse pelo enorme palácio no centro da cidade, alguns quilômetros à frente, ele diria que estava vendo apenas mais uma vila.

Mas aquela era a cidade na qual Wei WuXian crescera e aprendera a roubar assim que entendeu que não existiria ninguém para cuidar de si; Pequim fora o seu objeto de estudo para suas mãos ágeis quando deslizava-as das sombras para a carteira de algum senhor idoso ou jovem mercante. No começo, ele apanhou algumas vezes porque não conseguia fazer nada direito e deixava rastros.

Então, Wei WuXian aprendeu a lidar com as sombras. Ele se tornou as sombras. E através daquela habilidade mortal, usou a seu favor tudo o que tinha. Wei WuXian era misterioso e desconhecido em sua cidade no que se tratava aos roubos que cometia para sobreviver. No resto do tempo, todos o conheciam como o Inferno de Pequim ou o mais comum: Chacota do Império. Ele não se importava. Poderiam lhe jogar pedras o quanto quisessem, insultar os seus pais mortos na guerra anterior ou até mesmo a sua honra.

Ele tinha assuntos mais importantes do que a opinião de outras pessoas. E naquele momento, Wei WuXian via uma delas caminhando calmamente pelas ruas de Pequim. Era um comerciante rico, jovem e bem vestido em um robe de seda vermelha que caía perfeitamente em seu corpo de músculos leves e expressão suave e pálida. A bolsa de dinheiro estava presa na sua cintura pelo cinto preto que ele utilizava, e balançava a cada passo.

Wei WuXian sorriu enquanto passava uma mão pelo queixo. Ele vinha observando Luo Pei há alguns semanas, e já tinha notado o quanto o jovem era despreocupado com a possibilidade de ser roubado — Pequim era o antro do roubo, das gangues e do vandalismo, então como Pei andava assim tão livremente pela cidade ainda era um mistério para Wei WuXian. Não que ele estivesse reclamando.

O sol começou a cair atrás das nuvens e então a descer pela colina nos últimos raios flamejantes de dourado, deixando o céu um crepúsculo poderoso no exato instante em que os pés de Wei WuXian tocaram o chão da passagem ao lado da perfumaria. O vento da primavera agitava suas roupas inteiramente negras, e ele colocou uma mecha de cabelo revolta atrás da orelha antes de seguir o rastro de Luo Pei.

As ruas de Pequim no fim da tarde eram sempre lotadas como se estivessem no ápice da manhã. Apesar de a Revolução Taiping estar acontecendo quase ao lado do país, todos pareciam ter dinheiro o suficiente para comprar o que quisessem — menos Wei WuXian. Na verdade, a unificação da China era algo que o preocupava, e não porque ele era um nacionalista como tantos mercadores e guardas que discutiam nas ruas e nos bares, mas sim porque a política atrapalhava os negócios, e Wei WuXian não tinha muita paciência para reformular seus planos.

— Peixe! — Uma voz estridente gritou quando ele passou entre as barracas de frutos do mar e conservas. Luo Pei seguia caminho à frente, como sempre, até parar na barraca de arroz no fim da avenida. As lanternas haviam sido acendidas há poucos minutos, e agora as ruas iluminavam-se com uma aura dourada que misturava-se ao prateado da lua acima deles. — Lula viva!