VII

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Alice: Quanto tempo dura o eterno?
Coelho: Às vezes, apenas um segundo.”

– Tim Burton.
(Adaptado da obra: Alice no país das maravilhas, por Lewis Carroll)


 
'Eddie Kaspbrak'

Saber que minha mãe estava decidida, a deixar Richie ali me fez entrar em colapso, é inacreditável que possua tanta coragem para tal ato. Ou talvez... Seja eu quem esteja me precipitado ou envolvido demais com essa história, mas na boa? Acho que não estou errado por querer ajudar um estranho mesmo que não saiba nada sobre ele, e mesmo que isso pareça uma tremenda sandíce, eu não me importo porque eu sempre fui louco! Eu sei, eu deveria pensar como eles, deveria desconfiar desse estranho, porém não consigo, mesmo que eu tente, quando olho para Richie só consigo sentir uma estranha sensação de que eu o conheço, de alguma forma, e sei que não...

Não preciso perguntar, pois só de olhar pra ele sinto toda sua angústia e o medo através de seus olhos — Mesmo que ele não demonstre e tente soar o mais gentil possível — Mas sei que ouvindo minha mãe falar todas essas coisas, lhe deixou assustado, pois há uma possiblidade dele voltar para as ruas, e ele parece estar tão desorientado, só consigo pensar no que vai fazer, onde vai ficar, ou como vai sobreviver durante sabe-se lá quantos dias? Vejo o medo em seus olhos, Richie tem um olhar tão inocente e puro que aperta o coração, e o mundo é bem cruel com pessoas assim, as ensinando a serem todas iguais: Egoístas, frias e sem empatia alguma.

Só consigo ficar mais curioso ainda, sobre quem ele é. Se antes de perder a memória era tão inocente desse jeito, do que gostava, o que gostava se fazer ou qual seria sua opinião verdadeira perante essa situação. E eu não sei o que aconteceu com ele para chegar nesse estado, contudo, tenho plena convicção de que ele não merece isso tudo, ele não merece passar por nada disso, e precisa voltar pra casa, para sua família, para sua vida... Tudo que eu puder fazer por ele, farei sem pensar duas vezes, nem que eu tenha que mentir para os meus pais, como estou fazendo agora em dizer que ele é meu Doppel-soul, isso veio na minha cabeça como última opção. Se for errado, com o universo eu acerto minhas contas depois.

— O quê?

— Que história é essa, Eddie?

Meus pais perguntam confusos, umedeci os lábios, olhei para Richie tornando a repetir:

— Richie é meu Doppel-soul, eu reconheci ele hoje pela manhã!

— Você não disse que seu doppel-soul estava morto?

Engulo em seco. Esse assunto ainda era muito delicado pra mim.

— E-Eu... Não tinha certeza, acho que fiquei assustado demais naquele dia, era só um pesadelo e acabei confundindo, mas ontem... Ontem eu...

— Ontem? – Ângela motivou a continuar.

— Ontem eu tive certeza porque lembrei de um detalhe importante do sonho, e eu o vi! É isso, por isso que eu sei que ele não é uma má pessoa, por isso confio tanto nele, o universo mandou Richie para mim, assim como tenho certeza que me mandaria pra ele, vocês não podem impedir isso!

— Eddie, por que não disse isso antes garoto?

— Porque eu... Eu estava com vergonha! Qual é? É constrangedor ficar falando disso com nossos pais... – Fui para o lado de Richie, onde me olhava sem entender nada daquela conversa, quando então eu segurei sua mão. — Agora entende por que preciso tanto que ele fique? É nosso direito!

— Direito? Você só tem dezesseis anos! E a lei diz que os pais devem amparar, se forem casados, e você não vai se casar Eddie, não mesmo.

— Agora não, mas um dia sim! E vocês terão de aceitá-lo de qualquer jeito na minha vida!

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